O salão transbordava de amigos e admiradores de Adriano Jordão. Carlos Moedas disse palavras muito justas, Adriano Jordão respondeu com memórias tão detalhadas que justificariam um livro interessantíssimo. Vou tentar convencê-lo.
Durante muitos anos, para mim, Adriano Jordão era apenas o nome de um pianista bastante conhecido. Um dia, no final de 1985, ao descer a Avenida Álvares Cabral, deparei com um cartaz da campanha presidencial de Mário Soares em que figurava a cara de Adriano Jordão, como seu apoiante. Estranhei, dado que o sabia ligado ao PSD. E não estava enganado: Adriano Jordão acabaria expulso do partido por ter feito a opção pública de apoiar Soares, em detrimento de Freitas do Amaral. Com o tempo, vim a perceber que, para ele, as pessoas contam muito mais do que a política.
Quinze anos passaram e, numa noite de 2000, na Roménia, durante uma visita de Jorge Sampaio, conversei pela primeira vez longamente com Adriano Jordão, que havia sido convidado a fazer um concerto na capital romena, integrado nessa deslocação oficial.
Creio que foi então que concluimos que havíamos feito o serviço militar ao mesmo tempo, com o 25 de Abril pelo meio - um tempo militar que Adriano Jordão ontem recordou como tendo sido um privilégio na sua vida, e eu só posso concordar. Depois dessa noite de Bucareste, fomo-nos encontrando a espaços.
Até que o vim a cruzar de novo, integrado na equipa que, em janeiro de 2005, herdei do meu antecessor, António Franco, na nossa embaixada em Brasília, onde o Adriano era conselheiro cultural.
Nunca fui - dizem as "más línguas" - um chefe fácil. Julgo que o Adriano experimentou, logo no início, a minha exigência, a minha "pressa", o pedido das coisas "para ontem". Mas rapidamente percebi que ia ter no Adriano Jordão, não apenas um colaborador leal, mas um parceiro empenhado, criativo, com uma vontade de fazer coisas, muitas e bem. E com muito "bom feitio" no trabalho, ao contrário de mim.
O Adriano era uma figura popularíssima em Brasília, muito prestigiado como personalidade e operador cultural, integrado na capital brasileira como muito poucos diplomatas o conseguiam ser. Simpático, educado, sociável, a sua residência, onde o piano tinha um lugar central, era uma das "casas abertas" de Brasília.
A liderança que praticava na delegação local do então Instituto Camões, com meios escassos que ele "multiplicava", refletia-se junto dos nossos consulados. O Brasil é imenso, a nossa capacidade de promover e apoiar iniciativas fica sempre a anos-luz das necessidades. Mas sempre vi o Adriano Jordão ir aos limites do impossível.
No que me tocava, como embaixador, o trabalho desenvolvido pelo Adriano Jordão acabou por ser, em absoluto, fundamental para projetar a imagem cultural da embaixada que eu pretendia fixar. O auge dessa ação terá sido conseguido em 2007, durante o semestre da nossa presidência da União Europeia. A imensidão de iniciativas que conseguimos montar, com grande êxito, só foi possível pela dedicação extrema do Adriano Jordão, pela sua habilidade, pelas portas que conseguia abrir, pelo método "sopa da pedra" que utilizava - fazer muito com o pouco que tínhamos. Até um "zepellin" ele inventou, com as cores da nossa presidência, para subir no céu de Brasília nos locais onde organizávamos eventos.
A partir desse período de convivência no trabalho em comum, de um colega na embaixada, o Adriano transformou-se num grande amigo. E é muito bom vermos o mérito dos amigos reconhecido, como ontem aconteceu.
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