segunda-feira, abril 08, 2019

Miguel Esteves Cardoso

                                       

É uma edição “pobre”, talvez para assim ser possível o livro ser vendido ao preço a que se apresenta. Divide-se em duas secções: comes e bebes. Recolhe as crónicas que Miguel Esteves Cardoso publicou no suplemento Fugas, do “Público”. É o tipo de volume para “ir lendo”, em muitos casos para recordar o que já tinha sido lido.

Conheço poucas pessoas a quem melhor se possa aplicar, com rigor, a expressão “epicurista” do que a Miguel Esteves Cardoso: alguém que tem um sábio usufruto dos prazeres, numa versão sintética do termo. Desde há anos que sigo a sua escrita (não o conheço pessoalmente), o magnífico uso que faz da língua portuguesa, o modo como olha a vida e sabe tratar os pormenores do quotidiano que a outros podem escapar. 

Imagino que aquilo que escreve possa ser irritante para alguns (às vezes, eu próprio também me irrito), surgir até um pouco pretensioso, mas acho fantástico o equilíbrio que quase sempre consegue obter numa escrita que combina uma óbvia erudição com a abordagem, mais ou menos feliz, de coisas frequentemente simples, que outros não teriam notado. Às vezes, pode ser visto como demasiado ligeiro, em outras envereda por terrenos que se podem tornar algo crípticos para leitores não iniciados. No saldo final, a qualidade da sua intervenção é quase sempre indiscutível. 

(Não é minha intenção trazer a terreiro de discussão os seus polémicos tempos de “O Independente” e de outras suas aventuras da época, porque as idades têm-se na altura própria.)

Miguel Esteves Cardoso é filho de uma senhora britânica, cujos genes parece estarem bem presentes no seu poder de observação distanciada, às vezes cruel, da realidade lusitana. O seu pai foi um quadro superior do Estado, que cheguei a encontrar em tramitações negociais no âmbito diplomático. Lembro-o como uma figura grande, muito interessante, inquieta, criativa, muito pouco burocrática para os padrões desses anos 70 do século passado. Miguel Esteves Cardoso é talvez a síntese dessas duas personalidades. Lê-lo é sempre um prazer.

8 comentários:

vitor disse...

Jà foi mas para formar discípulos como a besta saloia do JMTavares mais valia ter estado quieto.

Anónimo disse...

Dá imensa vontade de dizer ao Vitor: besta saloia era a tua avó, apenas para manter o nível. Não partilho das reticências do embaixador porque elas não fazem parte da questão essencial: sobre todos os pontos de vista a qualidade da escrita, formal e de exposição de conteúdo, de Miguel Esteves Cardoso, é superlativa. O resto é apenas para diminuir, sendo absolutamente certo que se pode não concordar com o conteúdo em si mas isso não interessa nada para o caso.

João Vieira

Anónimo disse...

Não suporto o MEC! É que não há pachorra para o que a criatura escreve. Um snob da linha de Sintra. Insuportável! Outro dia ofereceram-me um livro dele, uma coisa patética, uns passeios dele por bandas da região de Sintra, uma estucha! Peguei no livro e deixei-o junto a um caixote do lixo, em cima, para quem o quiser levar.
E o quwe ele escreve no Público é intragável!
Sinceramente, um raio que o parta!
Boa noite Embaixador!
PS: O João Vieira (Direitista) é capaz de se zangar comigo, mas o tipo (MEC) é...

AV disse...

Gosto de ler Miguel Esteves Cardoso. Concordo que há nele aquela síntese feliz de ter a capacidade de nos ver com distância mas de ser ao mesmo tempo um de nós e de escrever isso de forma simples e com um uso magistral da nossa língua.

PS - O meu pai cruzou-se com o dele na sua vida profissional. E consigo também.

Anónimo disse...

Não tenho nenhuma razão para me zangar com o esquerdolas patético anónimo das 23:56
João Vieira

Anónimo disse...

Desde que apareceu, até hoje, não consigo penetrar na "qualidade" da criatura. É um mistério...

Dizem que há quem não consiga gostar de coentros. Devo sofrer de um mal parecido, portanto.

dor em baixa disse...

Escreve bem como jornalista, mas é fraco como escritor.
O pai era oficial superior da Marinha, da especialidade de engenheiro construtor naval.

Helena Sacadura Cabral disse...

Todos os países têm um Miguel Esteves Cardoso. Felizmente o nosso é o melhor!

25 de novembro