sábado, abril 13, 2019

Os contabilistas


Há estadistas e há contabilistas. Paulo Guedes, ministro da Fazenda do Brasil, parece estar a alimentar a ideia de vender algumas embaixadas daquele que ainda é considerado um dos mais prestigiados serviços diplomáticos do mundo. 

Não se trata de uma atitude inédita. Na história política portuguesa contemporânea, também tivemos algumas luminárias que pretenderam desfazer-se de alguns dos mais importantes edifícios que o Estado, desde há muito, possui. Passá-los “a patacos” reduziria pontualmente uns centésimos de dívida, mas privaria o país de um património dificilmente recuperável no futuro. Além de que faria com que o país perdesse definitivamente valores que só se reforçam com o tempo e cuja posse é um fator de prestígio a que só essas simplórias figuras não são sensíveis. 

Por uma sorte de que felizmente nos podemos felicitar, os prédios de Belgrave Square, da rue de Noisiel e um dos belos edifícios que Portugal possui em Roma não foram, numa certa fase, “à vida”. Até o próprio Palácio das Necessidades, segundo vim há tempos a saber, correu sérios riscos! 

Em tempos mais recentes, dois secretários do Estado (a que isto chegou) conseguiram mesmo o feito de delapidar algum património. Um deles conseguiu dar cabo do fantástico apartamento que existia no Dakota Building, em Nova Iorque. Outro, com toques de Torquemada, levou à prática, na Europa, algumas patifarias de idêntico jaez. Este último, um dia, na casa de um diplomata, olhou as estantes e perguntou: “para que é que você quer tanto livro?”. O nosso colega, amável, deu-lhe uma resposta educada. Foi pena. 

É isso: às vezes, lá pela nossa (no meu caso, antiga) casa, passam uns contabilistas, trevestidos de estadistas.

7 comentários:

Carlos Cotter disse...

Era escusado ofender os contabilistas.
Bom fim de semana

Francisco Seixas da Costa disse...

Ninguém pretendeu ofender os contabilistas. O que se pretendeu dizer foi que algumas dessas pessoas, em lugares onde se exigiria que fossem estadistas, acabaram por, nesses lugares, ter um comportamento de contabilista.

Cardeal disse...

Por essas e outras é que há políticos e estadistas.A diferença entres uns e outros é semelhante à que existe entre a renda quadrada e a redonda. Isto é que afugenta os estadistas o que é uma pena.Muito obrigado sr. Embaixador pela sua visão sempre preciosa das coisas.É um prazer segui lo.

Luís Lavoura disse...

Portanto o Francisco é a favor da especulação imobiliária em países estrangeiros.
É que, ter uma bela casa vazia e sem préstimo, apenas com o argumento de que no futuro ela se valorizará mais e mais, tem esse nome: especulação imobiliária.

Anónimo disse...

Lido com atenção.

Despacho

Isso do património histórico do MNE....
O que está à vista ainda se pode criticar mas o que não está, já não é para todos.
O acervo documental do MNE, parece que foi desparecendo por não haver locais para o armazenar convenientemente.
Alguns desapareceram, nas mudanças, ou por os terem vendido a pêso, para pagar contas, sem saberem mesmo o que continham.


Não deferido.

Anónimo disse...

e alguns desses edifícios foram vendidos por menos metade da avaliação feita por consultores imobiliários... como caso ex-residência de Portugal na avenue Molière em Bruxelas. Alguém respondeu por esses actos de má gestão no consulado Paulo Pietas como MNE? e Morais Leitao como executor testamentário?

Anónimo disse...

@ Anónimo de 14 Abril 13:37.

Sobre a residência do Emb. de Portugal em Bruxelas:

As obras a ter de efectuar custavam os olhos da cara para uma casa que não tinha mesmo nada de Portugal.
Era uma casa muito inconfortável pois a cozinha era num andar e a casa de janntar era noutro. Como n'A Cidade e as Serras do nosso Eça, as victualhas tinham de vir num elevador. Havia o receio do salmão ficar encalhado o tempo todo.
Penso que se fez bem em mudar para uma residência mais...funcional.

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