Era um femeeiro, o que, estou seguro, muitos dos meus amigos (menos algumas das minhas amigas, claro) não considerarão um defeito por aí além. E eu não digo o que penso. Françoise Giroud, na biografia que fez da sua mulher, cobriu-o de notas de mau comportamento. Tinha um grande e rico amigo que lhe financiava alguns gastos (onde é que eu já ouvi isto?), mas chegou a passar dias de fome, dificuldades familiares imensas. Às vezes, na vida, terá sido incoerente com algumas coisas que defendia, como acontece aos melhores. E ele era, sem a menor sombra de dúvida, dos melhores, era uma inteligência brilhante, um economista e um filósofo que tratava a História por tu. Na minha primeira ida a Londres, no final dos anos 60, entrei por um buraco da cerca do cemitério de Highgate, na altura muito ao abandono, para visitar o seu belo túmulo. Andei pelos lugares onde nasceu e viveu, bebi à sua memória uma "half pint" no Jack Straw's Castle, o seu pub preferido. Li-o com avidez, enquanto me achei parceiro indispensável da tarefa cívica de mudar o mundo. Tive metros de estante com as suas obras, dos seus seguidores, dos seus intérpretes, dos seus múltiplos distorçores, que hoje jazem na biblioteca onde repousam os livros sobre tudo aquilo em que um dia acreditei e que faz parte de uma herança de ideias que, nem por tê-las abandonado, ousarei alguma vez renegar. Continuo a manter um imenso respeito por essa personalidade fascinante que marcou o século XIX, que esteve sempre presente no imaginário mundial durante todo o século XX - muitas vezes associado a opções bem sinistras, outras vezes por muito boas e ainda atuais razões. Agora, no século XXI, revisitá-lo parece voltar a estar na moda, mas eu já dei para esse peditório e ele já não faz parte das minhas prioridades de leitura e estudo. Hoje, ao cruzar a avenida da Liberdade pela rua Alexandre Herculano, a caminho da Universidade onde trabalho, olhei com um sorriso a estátua de António Feliciano de Castilho e lembrei-me da frase do meu saudoso professor de Economia Política, Ramos Pereira, que sempre ironizava ao passar por ali: "não sei como é que o Salazar deixou erguer em Lisboa uma estátua a Karl Marx".
É dele que se trata. Nasceu em 1818, no dia 5 de maio. Está hoje de parabéns.
11 comentários:
Há homens de capital importância,
até nos defeitos ostentam virtudes
merecem em exclusividade tolerância
e de parabéns lhes salvem os açudes...
Épocas!... Até o Sigmund também está de parabéns!... Está tudo datado...
Françoise: Homem? Em francês costumam ser François. A Françoise Giroud sei quem é.
Rezou?
Pois, enquanto um parece continuar a ser um “caso de estudo” o Carlinhos já é um “caso estudado”, mesmo na questão femeeira…
Vá se lá saber porquê que nos tempos que correm eles são mais lembrados?
De capital importância,com manifesto conhecimento da ideologia alemã. Misérias da filosofia, o que se há-de fazer?
Nunca o Feliciano imaginaria que um dia seria alvo destes comentários... Até por Karl Marx passou!
Ao Anónimo das 14.00. Ele não via essas coisas, pode estar descansado...
"6 de maio de 2015 às 17:23"
AHAHAHA
Françoise só ..se for a Hardy,dos anos 60 !!!!
Para o Anónimo teimoso das 17.13: http://fr.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7oise_Giroud
A pessoa verificada na wiki não era dos "meus" anos 60, razão da observação...
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