domingo, outubro 19, 2014

DN

Vai uma "agitação" boa pelo Diário de Notícias. Embora a orientação ideológica do jornal tenha, a meu ver, deslizado um pouco para a direita (em ano de eleições, os "powers that be" não brincam em serviço), com escolhas editoriais de tintas neoliberais que me parece provirem da escola do "Dinheiro Vivo", o jornal ganhou maior vivacidade: os títulos "soltaram-se" (um pouco "à Libé"), o desporto está bem mais criativo, a cultura fez um esforço notório, há mais e mais ágeis entrevistas (mas não exagerem na "ligeireza": há dias, um entrevistador tratava o entrevistado por tu!). Apareceram novos cronistas, alguns da própria casa, tendo sido dado mais e melhor espaço a outros. (Há dois dias, deparei com um texto magnífico da Ana Sousa Dias sobre a diversidade étnica de Lisboa; ontem, Ferreira Fernandes, que segue com a melhor crónica do país, trazia uma página deliciosa sobre a sentença, pateticamente humorística, do Supremo Tribunal de Justiça). Sei lá bem porquê, o jornal dispensou escrita da qualidade de Baptista Bastos e Manuel Maria Carrilho, mas conservou gente muito boa (como João Lopes e o já indispensável Bernardo Pires de Lima, que ensina a ler o mundo internacional como ninguém hoje faz diariamente na nossa imprensa), embora mantenha, estranhamente ou não, certos monos e alguns personagens pios que, tal como os almoços, não devem ser totalmente grátis. Entretanto, o provedor do leitor, Óscar Mascarenhas, já caiu numa página par, o que é sempre um "downgrading" que pode indiciar um destino. A primeira página está mais apelativa e a imagem ganhou por lá força e espaço, mas o grafismo necessita ainda de um imenso golpe de asa. E o site tem de sair rapidamente da pré-história. No geral, o DN está a demonstrar ter estamina interna para conseguir "dar a volta", o que não era muito evidente, até há umas semanas atrás. Ontem, no Twitter, o novo diretor, André Macedo, dizia, "inchado", que o seu jornal desse dia "metia no bolso" o "Público" e o "Expresso". E tinha razão! Eu, que escrevinho "por outra freguesia", não quero deixar de associar-me a quantos se alegram com mais um renascimento do antigo jornal "da Moagem". Até o Augusto de Castro e o Saramago, cada um à sua maneira, devem  estar a sorrir.

10 comentários:

Anónimo disse...

Isso só colide com o facto de Marcelino ser de extrema-direita e Macedo de centro-esquerda.

Anónimo disse...

Segundo o estatuto, o provedor tem um mandato fixo e único, do qual é inamovível. Cumpre os três anos e e vai-se embora sem direito a recondução.

Anónimo disse...

Sou leitor habitual do DN, melhor dizendo das crónicas de Ferreira Fernandes, que cita, Adriano Moreira e José Manuel Pureza.

Lamento que o jornal tenha, recentemente, deixado de publicar as crónicas deste último.

José Q. Neto

Anónimo disse...

A sentença que refere é do Supremo Tribunal Administrativo e não do Supremo Tribunal de Justiça.
Não será grave, mas é facto.

Unknown disse...

Caro Francisco

Este DN não é o meu DN; nem outra coisa seria de esperar. O jornalismo evoluiu como a vida evoluiu, mas há evolução e involução.

Oxalá este actual DN sirva melhor os leitores que ainda tem. Confesso o meu pecado: ainda que continue a envergar a camisola do DN, já deixei de o comprar há muito tempo...

... mas, se calhar são coisas da velhice...

José Silva Pinto disse...

... E ainda lá ficou um tal Alberto Gonçalves, que, a ter ido na leva dos saídos, não faria grande falta, antes pelo contrário...

ignatz disse...

ahahah... o dn virou à direita porque tiraram o marcelino e o carrilho. se calhar é ironia e eu estou mazé com azia. nem m'atrevo com provérbios.

patricio branco disse...

ora vou ver, o prazer de ler um bom jornal já não o tenho há muito, quase nem compro já

Anónimo disse...

Curiso,

Quando compro um jornal nunca faço essa ligação de ser de esquerda ou direita. Compro um jornal pela facilidade de ler notícias ou não e destas serem igualmente mais ou menos apelativas.

O público é um daqueles que não me cativa de maneira alguma. O Expresso nem quero vê-lo, tal o pasquim que é. O Independente de MEC e PP era a melhor coisa que havia para atear fogueiras. O DN tanto sobe como desce.....

Verifico é que cada vez mais gente pensa como eu. Os jornais dos nossos dias cada vez nos dizem menos e pior.

Eles que não mudem que qualquer dia fecham todos.

Joaquim de Freitas disse...

O jornais cobrem os eventos segundo as causas que querem fazer avançar.

Espectador e actor, o jornalista beneficia duma renda: ele é o único operador nas nossas sociedades complexas a nunca ser submetido à sua própria crítica. Mesmo se pratica a introspecção, se ele se impõe regras éticas severas, se ele não se deixa iludir ele mesmo, não pode entretanto pôr em causa o princípio que funda a sua profissão : penso, portanto "sou a opinião publica". E aceita dificilmente a crítica e muito menos que se lhe diga como exercer o seu "métier".

No campo da ética, é evidente que um grande numero de jornalistas e comentadores mediáticos estão à bota de grandes impérios financeiros.
Por toda a parte os media de informação são comprados pelos bancos, multinacionais e o resto, porquê?

Os media são os cães de guarda dos seus proprietários, e os políticos são os fusíveis que saltam a intervalos regulares para os proteger.

E quando saem para a rua em matilha, equipados dos seus AMD, e os políticos, mesmo o chefe do governo, caem em desgraça no coração dos proprietários, o governo não tarda a cair . Richard Nixon foi o exemplo supremo.

Fora da História

Seria melhor um governo constituído por alguns nomes que foram aventados nos últimos dias mas que, afinal, acabaram por não integrar as esco...