Foi um debate muito interessante aquele em que, na tarde de hoje, se processou no âmbito do Congresso Democrático das Alternativas". O tema do painel em que fui convidado a participar era "A Dívida, a União europeia e a soberania".
Com grande liberdade e abertura, discutimos a situação portuguesa, o que fazer quanto à dívida e ao Tratado orçamental e, em termos gerais, as bases para uma futura governação pelo lado esquerdo da estrada.
Num painel "avançado" (João Ferreira do Amaral, Octávio Teixeira e Marisa Matias, para além do próprio moderador, José Castro Caldas), fiz, como era natural, figura de "recuado" (sem o significado da palavra dado pelas FP25, claro!). Não penso da irreconvertibilidade da UE o que alguns dos meus parceiros pensam, recuso o cenário de abandono voluntário do euro que eles aceitam como solução e tenho sobre a renegociação da dívida uma posição um pouco mais prudente que a deles. Sublinho, talvez em demasia face a esses colegas de painel e de muitas das pessoas presentes, a necessidade de se seguir uma linha "possibilista", de exploração de todas as ambiguidades e oportunidades que uma leitura "hábil" (Octávio Teixeira chamou-lhe "inteligente", não acreditando nela) dos tratados, sem cair em soluções que possam ter um impacto negativo na captação do investimento produtivo estrangeiro, única - repito, única - fonte de recursos que podem vir a impulsionar o nosso crescimento, sem o qual nenhum futuro de estabilidade e bem-estar é plausível. De acordo estivemos em que nenhuma plataforma política futura poderá tornar tabu todas estas questões, que devem ser explicitadas à opinião pública sem medos nem chantagens catastrofistas, com argumentário de apoio sólido. E não emotivo, acrescentaria eu.
Num painel "avançado" (João Ferreira do Amaral, Octávio Teixeira e Marisa Matias, para além do próprio moderador, José Castro Caldas), fiz, como era natural, figura de "recuado" (sem o significado da palavra dado pelas FP25, claro!). Não penso da irreconvertibilidade da UE o que alguns dos meus parceiros pensam, recuso o cenário de abandono voluntário do euro que eles aceitam como solução e tenho sobre a renegociação da dívida uma posição um pouco mais prudente que a deles. Sublinho, talvez em demasia face a esses colegas de painel e de muitas das pessoas presentes, a necessidade de se seguir uma linha "possibilista", de exploração de todas as ambiguidades e oportunidades que uma leitura "hábil" (Octávio Teixeira chamou-lhe "inteligente", não acreditando nela) dos tratados, sem cair em soluções que possam ter um impacto negativo na captação do investimento produtivo estrangeiro, única - repito, única - fonte de recursos que podem vir a impulsionar o nosso crescimento, sem o qual nenhum futuro de estabilidade e bem-estar é plausível. De acordo estivemos em que nenhuma plataforma política futura poderá tornar tabu todas estas questões, que devem ser explicitadas à opinião pública sem medos nem chantagens catastrofistas, com argumentário de apoio sólido. E não emotivo, acrescentaria eu.
Entre muitas outras coisas que disse sobre a União Europeia, fui de opinião de que o Parlamento europeu pode, nesta fase, ter um papel importante como espaço de visibilidade para propostas em matéria de opções económico-financeiras europeias que, até ver, não encontram um terreno favorável de afirmação a nível do Conselho de ministros, provavelmente com tradução mais ou menos similar nos equilíbrios internos da nova Comissão Juncker, embora este terreno também não deva ser desprezado, pelo menos num teste aos compromissos do seu presidente.
Gostei muito deste debate. Encontrei por lá velhos e novos amigos, gente que tem em comum uma recusa da resignação e uma vontade de remar contra a maré, mesmo a da moderação - de expetativas e de atitudes - como aquela que eu por ali pareci representar.
Consultar aqui a minha intervenção inicial.
Consultar aqui a minha intervenção inicial.
7 comentários:
hoje acredito numa saída do euro, e que daria tanto trabalho o sair como deu o entrar, ou mesmo menos, e no regresso a moeda própria
"a necessidade de se seguir uma linha "possibilista", de exploração de todas as ambiguidades e oportunidades ....... dos tratados, sem cair em soluções que possam ter um impacto negativo na captação do investimento produtivo estrangeiro, única - repito, única - fonte de recursos que podem vir a impulsionar o nosso crescimento, sem o qual nenhum futuro de estabilidade e bem-estar é plausível."
Esta frase do Senhor Embaixador comporta toda a ambiguidade do socialismo actual, na sua mutação acelerada para o liberalismo sem freio nem lei.
Nada os distinguirá na aplicação duma política que visa exclusivamente o rendimento do capital .
O social , tratado hoje em inimigo da evolução harmoniosa do mercado, para o qual só a competitividade conta, transformará a sociedade num mundo de destroços humanos, onde os valores reconhecidos serão unicamente aqueles que beneficiam as classes que possuem tudo.
A política neoliberal aberta nos anos 70 erradicou da vida política a única força propulsiva potencial que tem um interesse objectivo na luta contra os excessos do capitalismo.
A história contemporânea é também a história da exclusão ulterior dos trabalhadores da via política. Vemos bem hoje o desânimo que assola as camadas sociais desfavorecidas dando como resultado o desinteresse pela política . Isto é precisamente o que as classes superiores desejam, mas mortal a longo prazo para a Nação.
Quando escreve:
" soluções que possam ter um impacto negativo na captação do investimento produtivo estrangeiro",
eu responderia que esta frase abrange todas as "soluções" que consideram que para lá da austeridade permanente e da destruição da protecção social dos trabalhadores existem outras vias "alternativas" baseadas no respeito da pessoa humana, isto é, o contrário do que se pratica nos países submetidos à escravatura dos monopólios.
Sem processo cultural, económico e político para lutar contra a exclusão politica do povo trabalhador maioritário em curso, não haverá alternativa ao modelo político neoliberal , que este seja na sua forma "direita" ou na forma "esquerda", ou na sua forma "direita e extrema direita" como nos anos 30.
Errare humanum est, perseverare diabolicum.
Não o ouvi, meu caro Francisco.
Mas estou muito longe da posição catastrofista daqueles que dizem que a saida de Portugal do euro seria a sua morte.
Logo, parece-me, hoje, estaria entre os menos moderados. Às vezes, acontece!
Deve ser estranho estar à direita. Bom, para um Embaixador, nem tanto. Seguem-se as orientações dos governos democraticamente eleitos. Concordo plenamente. Por isso, agrada-me muito o seu blogue pós-reforma. Sem atilhos de qualquer espécie. Obriga-nos a pensar. Eu, uma espécie de economista, sempre suspeitei dos gráficos do Samuelson (mas se ele diz que é assim...). Mas não quero ser do imenso centro: o tal catastrofismo, segundo o qual tudo tem de ficar na mesma, para que poucos continuem a ganhar, e umas intervenções militares aqui e ali (o contrapeso do trabalho escravo, parece-me).
Daí, ter ficado muito agradavelmente surpreendido com a intervenção da Senhora das 23:39: há muita coisa a desmistificar. Uma delas (recorrendo a uma imagem quotidiana): não estou feliz, vivo mal, mas, se tivesse a coragem de mudar, poderia ficar pior.
Caro Anónimo das 15.04: está redondamente enganado. A minha intervenção foi "de esquerda". Eu sigo um velho e inabalável princípio de que "a esquerda sou eu". O resto (que não é despiciendo) são aproximações (rs)
Meu caro, para que possa ler o seu texto importa-se de primeiro tirar a senhora de dentro da garrafa. É que vê-la ali, por muito tempo, asfixia-me a mim.
LN
Estamos nas mãos do capital que vai comprando a Europa, os governantes, esses já estão comprados, (com tantas soluções), “os bons alunos” limitam-se a seguir a linha que leva ao desmoronar de país sobre país. Só uma coisa importante $, vai corroendo, até o clima, (respeito).Tudo ensedado, a engrenagem vai esmagando tudo a sua volta, e assistimos a coros a uma voz, música de pessoas que não sabem cantar, no teatro da ONU, da RCU etc.
Vamos aos negócios mas não aperto a mão, honra, não existe paixão só pelo $, e … o poder … para quem até quando . bd
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