quinta-feira, outubro 20, 2011

Eduardo Lourenço

A Sorbonne e a Fundação Calouste Gulbenkian homenagearam ontem, em Paris, o professor Eduardo Lourenço. À noite, na embaixada, tive o prazer de convidar para jantar Eduardo Lourenço e alguns amigos, juntamente com os interventores no seminário que celebrou a sua obra.

Depois de um dia completo que havia sido consagrado a Lourenço, tive a prudência de ser parco nas curtas palavras de admiração que lhe dirigi. Mas não deixei de sublinhar a minha gratidão, como português, pelo facto de Eduardo Lourenço, ao longo destes anos, me ter ajudado a "ler" melhor o meu país. Em especial, ensinou-me uma certa forma portuguesa de ser europeu. Na minha intervenção, referi que o que mais me surpreende é o facto de o ter feito com textos que não se refugiam nunca no hermetismo e que são, deliberadamente, "reader's friendly". Para se ser profundo não é necessário ser complexo, como Eduardo Lourenço sempre demonstra.

Deixo aqui um seu magnífico retrato de Bottelho.

11 comentários:

Anónimo disse...

Eu servia-lhe as bebidas,
se o embaixador quisesse...
Mas nestas difíceis vidas
nada é o que parece!

Feliciano da Mata,
mordomo no desemprego,
Sacavém, louças ou pratas,
tudo trato e tudo pego!

a) Feliciano da Mata

Anónimo disse...

É a vida, caro Mata
Lá dizia um engenheiro
Num dia perdeste a prata,
noutro gemes sem dinheiro

Em Pont de Sèvres asilaste,
casa de tempos antigos.
Deixa lá o patrão traste,
junta-te aqui aos amigos.

Ronaldo Azenha de Noisiel

C unha Ribeiro disse...

Eduardo Lourenço será para sempre aquele que me revelou Fernando Pessoa. "Fernando Pessoa Revisitado"- é uma excelente análise sobre a obra e o poeta ímpar da literatura portuguesa.

Anónimo disse...

ERA UMA VEZ

É sempre uma delícia ouvir Eduardo Lourenço. A forma como reflecte e nos explicas as coisas do tempo e da vida e aquele engraçado e repetido " não é?" como se precisasse da nossa concordância para as suas verdades...

Às vezes emociono-me demais porque me faz lembrar o seu irmão médico meu amigo e meu vizinho, António Lourenço de Faria, que para além de muita cultura tinha um fantástico sentido de humor.

Há famílias assim...

Gil disse...

"Num dia perdeste a prata,
noutro gemes sem dinheiro"
diz Ronaldo ao bom do Mata
e vai citando um engenheiro.

Eu, ao mordomo das valsas
digo as coisas como as sinto:
Não podes baixar as calças
se já apertaste o cinto.

a)Gil

patricio branco disse...

ouvi por 2 ou 3 vezes EL falar ao vivo em coloquios e sempre me encantou a sua sabedoria e ideias expressas num tom de simplicidade livre de ares doutorais.
Num coloquio sobre a peninsula iberica e a europa nos anos 50, disse que a europa era para os portugueses de então outro mundo, outro continente, para lá dos pirineus, onde se sabia que havia liberdade, algo a que, pensavamos, nunca teriamos acesso.
Noutro num aparte comico contou que quando quiz comprar um carro novo ele e a mulher optaram por um toyota corolla porque o corolla era o carro que todo o português da classe média desejava ter.
Um intelectual, um pensante, um ideologo do que é português.

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Feliciano
Sempre admiti que D. Dolores, mãe de Ronaldo não o deixasse no desemprego.
Só agora me dei conta que o Ronaldo era outro. Não o da bola mas o da poesia, o que eleva por si a situação.
Mas como me sinto também responsável pelo problema criado, venha para cá.
Também há loiças e pratas, não para pegar, mas para pôr no prego. Serve-lhe?!
a) Marquesa

Helena Sacadura Cabral disse...

Pergunto: será que a extrema lucidez de Eduardo Lourenço e a sua tocante bonomia seriam as mesmas se ele vivesse sempre em Portugal?
Sei, não, como diz o brasileiro!

Anónimo disse...

Conheci o Prof. Eduardo Lourenço há poucos anos numa iniciativa realizada pelos meus Serviços e fiquei simplesmente rendida pela sua HUMILDADE e SABEDORIA.

Isabel BP

Nuno Sotto Mayor Ferrao disse...

Caríssimo Embaixador Francisco Seixas da Costa,

Eduardo Lourenço é um dos poucos pensadores que ainda restam a Portugal e ao mundo. Hoje em dia os pensadores são pouco escutados pela opinião pública, porque a Civilização decadente do Ocidente parece ouvir mais os tecnocratas que nada pensam e nada decidem de estratégico. Basta lembrar as clarividentes observações do Drº Mário Soares relativamente à necessidade de um novo paradigma político que forneça à Europa uma estratégia de fundo. Os pensadores aprenderam com mestres Humanistas a terem visões globais que não se circunscrevem aos imediatismos das crises.

Sem dúvida que Eduardo Lourenço, a par de Fernando Gil, Adriano Moreira e António Barreto são dos poucos pensadores que ainda examinam o estado da nossa Pátria, nas suas raízes mais profundas. A Humanidade está ávida destes bons exemplos de autoridade moral e intelectual para não ficar cingida às visões microscópicas das realidades contemporâneas. Deixo aqui, também, a minha homenagem ao Professor Eduardo Lourenço.

A simplicidade e a lucidez das explicações dos grandes Mestras são a pedra angular da verdadeira sabedoria, estou a recordar-me também do saudoso Professor Agostinho da Silva.

Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

Também relevo na mouche essas quatro figuras do pensamento airado Português: Eduardo Lourenço, a par de José Gil, Adriano Moreira e António Barreto.

O resto são excrescências de vaidade, tão à moda de uma certa elite do poder que nos sangra há muitas centenas de anos, tentando branquear a sua responsabilidade no medo de existir nacional!

P.S.

Ah e acrescento Helena Sacadura Cabral, mais "outro Português" que acrescenta "beaux esprit" com um enorme palato de simplicidade e empatia popular.

25 de novembro