domingo, novembro 10, 2013

Urgências

Agora, de um dia para o outro, passou a ser "urgente" debater a "reforma do Estado".

Durante nove meses, o "guião" foi anunciado e reanunciado, com embaraçadas respostas dilatórias, apenas quando alguém se lembrava de perguntar por ele. A certo ponto, ficou bem patente que havia, no seio da maioria, como que uma estratégia para tornar o líder do segundo partido da coligação o responsável pessoal pelo recorrente atraso no exercício. Com algum gozo associado.

Um dia, ultrapassado já o prazo do ridículo, o "guião" lá saiu. E foi "aquilo" que se viu. E, num instante, um texto que pôde esperar meses para ser divulgado, converteu-se numa proposta "incontornável" e, pasme-se!, "urgente". Como se aquele monte de obviedades, com três ou quatro receitas de "thatcherismo" tardio, passasse, por milagre, a ser o eixo do nosso futuro, devendo o país ser convocado e mobilizado para a sua discussão. E, claro!, sendo réu de um crime de lesa-pátria quem não acorresse, pressuroso, a esse debate.

Para o principal partido do governo, cujo nível de "entusiasmo" com o surgimento do "guião" se tornou bem evidente, a polémica passou, de repente, a ser um excelente meio de diversão do difícil debate orçamental. Para o autor político do "guião", convirá, naturalmente, explorar, tanto quanto possível, a "obra feita", para o que já conta com a dedicada colaboração dos "parceiros sociais", sempre à cata de tempo de antena. O que ainda não foi suficientemente sublinhado é a circunstância de um grupo selecionado de socialistas ter logo emergido a terreiro, a relevar a "importância" das "propostas" do "guião", dando interesseiramente a mão à figura do vice-primeiro ministro, com quem contam para aventuras governativas futuras.

A vida política portuguesa está a ficar tão transparente...

15 comentários:

Jose Martins disse...

Senhor Embaixador apenas transcrevo:

2. O documento retrata bem o vazio de pensamento desta geração de políticos, o entranhamento do "politiquês" como linguagem, os slogans, e a completa falta de vergonha em nos enganar por regra e sistema, como quem respira.

http://abrupto.blogspot.com/2013/11/manual-para-ler-o-vazio-1.html

Seu admirador
José Martins

Helena Oneto disse...

Três pequenos parágrafos que resumem –magistralmente- os políticos e a política que está a fazer o impossível e imaginário para dar o golpe final a um (país) moribundo com a benção do chefe do Estado e do presidente da Comissão europeia.
Caramba! Comme vous dites, mon cher Ambassadeur!

Anónimo disse...

Todas as noticias relacionadas com Portas sao cuidadosamente preparadas pelo assessor de imprensa Guedes que as manda ca para fora atraves de sound bites, seguro de que os jornalistas sequiosos de noticias mas nao de investigar a sua veracidade papam tudo.Ecexpto a do atraso em Macau que tem origem num funcionario laranja para ali destacado pelo proprio Portas...

Anónimo disse...

Livra! Portas vice de Seguro? Bem sei que o PS e o CDS já se aliaram. Mas só durou seis meses, tivemos que aturar três governos presidenciais nos dezoito seguintes e novamente três anos e meio de governo PSD-CDS, acabando tudo isto num bloco central de dois anos que acabou por salvar a Pátria, para benefício de dez anos de cavaquismo. Espero que desta vez o caminho seja outro e mais rápido.

José Sousa e Silva disse...

Pois !
Nove meses ... nasceu a criança !!!

Defreitas disse...

"O que ainda não foi suficientemente sublinhado é a circunstância de um grupo selecionado de socialistas ter logo emergido a terreiro, a relevar a "importância" das "propostas" do "guião", dando interesseiramente a mão à figura do vice-primeiro ministro, com quem contam para aventuras governativas futuras."

Voilà a eterna "cozinha" dos partidos políticos, que estão na origem do desinteresse crescente dos cidadãos pela política. As aventuras governativas futuras não podem augurar nada de bom, neste caso. Porque conhecemos o passado. Estes últimos decénios alternaram governos de esquerda e de direita, em vários países da Europa, à volta duma só e mesma politica ultraliberal.

Entretanto, o sismo económico e financeiro pode marcar o fim do imobilismo político, e representa uma chance histórica de reorientar a civilização. Mas ao mesmo tempo o risco de ver emergir do desespero "soluções" ainda mais destructivas que as que conhecemos é evidente. A responsabilidade do político é portanto imensa nesta época charneira de transição.

A esquerda identificou-se durante muito tempo à resistência popular contra os estragos do capitalismo "selvagem" e resta em parte marcada por esta imagem apesar da sua participação activa às reformas neoliberais.

Ela só pode constituir uma alternância política credível para as massas que se retorna à tradição militante, sem esquecer a ideologia solidária .

Esta cultura de esquerda modela a reflexão de gerações militantes. A "cozinha" eventual que relata, esconde o desfasamento (décalage) crescente desta cultura de esquerda com a dinâmica dos conflitos de classe subjacentes. Ela obstrua a construção duma alternativa política ao ultraliberalismo. Por isso deve voltar às suas raízes históricas da esquerda e da base sociológica que reivindica.

No momento em que lia o seu "post" Sr. Embaixador, e ao escrever estas palavras, penso claro está na situação que pouco a pouco se desenvolve em França, que o Senhor conhece bem, onde vemos François Hollande e o partido socialista ,( mas provavelmente mais ele que o partido) pleno de contradições internas, impotente a contestar globalmente o ultraliberalismo e sobretudo a unificar o povo da esquerda à volta dum projecto alternativo, que perdeu muito da sua essência original. Atraído nas malhas da social democracia, que ela mesmo deriva fortemente para o ultraliberalismo. O que é ainda mais grave para o futuro é a forte deriva populista e a divisão da direita tradicional. O campo é livre para todas as aventuras.

Portugalredecouvertes disse...

parece que o que menos se tem em conta
o progresso do país, a dignidade, respeito e a proteção em relação às populações, o emprego dos jovens que saem das universidades, e sobretudo a redução das desigualdades de rendimentos e socias
porque será tudo é tão politizado?

Anónimo disse...

A ler,no blog " Estado Sentido" o post "O dinheiro maduro".

A Constituição neste momento é apenas uma "distracção actual" para "os esquemas-de-obtenção-de-dinheiro" pelos habiuais lobbies de algumas esquerdas e respectivos espelhos nas direitas !

Não "brinquem" por favor !

Ainda bem que há neve nos Alpes:

"Se cá nevasse fazia-se cá ski"



Alexandre

Isabel Seixas disse...

Que bom que há quem faça leituras reais das 2ªs e 3ªs intenções dos beatos deste governo...

Também já não enganam ninguém...
"A vida política portuguesa está a ficar tão transparente..."in FSC

monte de obviedades,
receitas de "thatcherismo" tardio,
por milagre,
com algum gozo associado,
o "guião"
lá saiu,
ultrapassado já o prazo do ridículo
pasme-se!,"urgente"
a sua discussão,
E foi "aquilo" que se viu...
In FSC

Está o máximo o Post,
eu cá acho que o guião foi para lançar a confusão e competir com um manual de boas práticas previstas na constituição...

Anónimo disse...

Estamos na fase de preparação do próximo governo. Silenciosamente, o namoro está à vista. É baralhar e dar de novo. Teria alguma graça, se não fosse dramático. O próximo round é de descanso para o PSD, para depois voltar tudo ao mesmo. Tal como nas touradas, na politica a muleta é indispensável.

Anónimo disse...

Leio o texto do emb. e não posso deixar de pensar de como os seus textos estão, muitas vezes, a meu ver e salvo todas as outras opiniões, mesmo as que não sejam melhores, demasiadas vezes, enquinados por excesso de partidarite aguda. Porquê neste caso particular? Porque aos portugueses em geral o que parece que interessa, e é mesmo indispensável, é que haja uma reforma do estado pelo que seria de esperar que todos os partidos se empenhassem nessa reforma. Se o PS julga e provavelmente julga muito bem, que não lhe compete apresentar propostas em primeiro lugar, tudo bem, mas tem de ter uma ideia concreta sobre o assunto! E, sobretudo não pode não discutir porque mesmo que o tal guião seja um absurdo, e na tradição portuguesa tudo o que não seja feito por nós é uma enorme estupidez, os papéis servem apenas de referência e podem ser postos completamente de lado se essa fôr a vontade dos negociadores. Lembro um querido amigo, presidente de uma empresa importante que me disse: assino sempre de cruz os contratos propostos pelo departamento jurídico porque sei que na hora do conflito o que interessa é a negociação e o acordo que se seguirá. E , mais coisa menos coisa, é isso precisamente que acontece, salvo as ocasiões em que os ditos contrato são dolosamente elaborados.
João Vieira

opjj disse...

Caro Dr. Seixas da Costa adoptei o seu blogue já a algum tempo porque na verdade contém nele estórias vividas e interessantes. Tb me parece que está a ser apropriado por opinadores para descarregar politiquismo.
Nem sempre estaremos de acordo, naturalmente.
Reforma do estado- convenhamos que já houve ministros para estas - Reformas- não reformaram nada. Mas o próprio-Dr. Portas- lhe chamou guião, proposta de trabalho. Porquê tanto frenesim? Será que V.Exª. não teve que negociar com muitos governos diferentes? Estamos num impasse porque existem fundamentalismos.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Sr Embaixador, normalmente bem atenta a toda a informação não me apercebi de : ...circunstância de um grupo selecionado de socialistas ter logo emergido a terreiro, a relevar a "importância" das "propostas" do "guião", dando governativas futuras.
Também já me habituei a perceber quem fala em nome do PS, ou vozes+- oportunistas. Não sei a que se refere neste caso, mas não vi nada digamos esquisito. Agora com muito respeito para as vozes frustradas que insistem que o PS não tem que ter a sua visão que naturalmente de forma integrada será conhecida pelos portugueses quando lhes for permitido escolher. A democracia precisa de projectos alternativos para viver. Para reorganizar as Direções Gerais , serviços do estado não precisam consenso nenhum. BASTA saber fazer, e se for necessário legislação, façam e levem ao Parlamento. Para outras reformas de fundo a meio da legislatura(?),vamos para eleições, com propostas. E como diria e bem Seguro, "os consensos fazem-se nos primeiros dias após eleições" ou não se fazem direi eu.

Anónimo disse...

Não me vou pronunciar sobre essa história, o tal “guião”, uma coisa de “garotos” que ninguém levou a sério.
Quanto a uma eventual aliança, pós-eleições, com o CDS, seria lamentável! Custa a crer. Mas, do PS, sobretudo o actual, com esta direcção, já nada me surpreende.
A ver vamos como dizia o cego!
Já Guterres fugia da “cruz”, no caso o PCP, segundo as suas memórias, com receio de que Sampaio viesse a apoiar tal eventual acordo. A ser verdade, só é de lamentar igualmente. Como se quer o PCP, ou o diminuto BE, trouxessem algum mal ao “mundo”, leia-se o país. Em face da destruição economica e social que este governo vem fazendo, alegremente...

EGR disse...

Senhor Embaixador: socorro-me da opinião de Estrela Serrano no "Vai e Vem, segundo a qual está em curso um cerco ao PS.
E, como se pode verificar isso acontece com a descarada cumplicidade do PR que, comprometido, como está, com a atual governação não hesita em alinhar no coro.
Infelizmente, a meu ver, o PS ainda não encontrou o antídoto para o veneno que as vozes do coro vão espalhando.
Os casos que refere são exemplo dessa mesma, pelo menos até agora, revelada incapacidade.

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...