quinta-feira, setembro 25, 2025

Sarkozy


O antigo presidente francês, Nicolas Sarkozy, foi hoje condenado a cinco anos de prisão efetiva. Em outubro, saberá a data em que terá de recolher a um estabelecimento prisional. Não há recurso que possa evitar este encarceramento. A eventual passagem a um regime menos pesado, como a prisão domiciliária com pulseira eletrónica, só poderá ocorrer passado algum tempo.

A pena a que Sarkozy foi condenado deve-se a acusações de financiamento ilegal da sua campanha presidencial em 2007. O tribunal deu como provado que o governo líbio terá entregue a emissários de Sarkozy, em espécie, muitos milhões de euros. O objetivo seria que o futuro presidente pudesse ajudar a aligeirar as sanções que impendiam sobre a Líbia e à "normalização" do seu regime no campo internacional. Especula-se que o facto de Sarkozy, enquanto presidente, ter vindo a alterar de modo radical o seu comportamento face a Kadhafi, trabalhando ativamente para a sua queda, terá feito vir ao de cima todas as anteriores operações. 

Este processo que agora envolve Sarkozy deve-nos fazer refletir sobre o facto da atenção pública sobre o financiamento das campanhas eleitorais, no mundo democrático, se ter intensificado fortemente nas últimas décadas. Há não muito tempo, em França como em outros países, a entrada de dinheiro "por debaixo da mesa" (ou para o "caixa dois", como se diz no Brasil), destinada aos partidos, era uma prática condenada com apenas moderada indignação. A questão, contudo, assume outra e naturalmente maior gravidade quando esses fluxos de dinheiro redundam em promessa de contrapartidas. E, como é óbvio, tratando-se de suborno por parte de governos estrangeiros essa gravidade sobe de escala. Terá sido esse o caso de Sarkozy.

Se bem que marcada por toda esta nota infamante, a imagem de Nicolas Sarkozy permanece curiosamente ainda como uma referência constante na direita francesa. Há dias, o novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu, foi-se aconselhar com o antigo presidente, o líder da extrema-direita, Jordan Bardella, fez há tempos o mesmo e é notório, em comentários de diversas personalidades da direita, que o nome de Sarkozy ainda funciona pela positiva. Sarkozy não passou ainda à categoria que os franceses designam por "infréquentable". Assim a continuará a ser quando estiver na prisão?

Sarkozy é uma personalidade com um percurso muito interessante na vida política francesa. Sem se envergonhar da sua ultra-visível ambição, o que o levou a titular algumas traições pelo meio da vida, fez uma notável ascensão no seio do partido de tradição gaullista (que já teve vários nomes, o último sendo o "Les Républicains"). Foi maire de Neuilly, ministro do Tesouro e ministro do Interior, antes de chegar a presidente (2007/2012). Nessas funções, teve um papel destacado na política europeia, num "tandem" improvável com Angela Merkel, com evidência no período da crise das dívidas soberanas. Foi derrotado por François Hollande, em 2012, na tentativa de permanecer no Eliseu. Depois disso, jurou não voltar à política. E, claro, a ambição levou-o a tentar esse regresso, saindo humilhado, em 2017, ao ser derrotado por François Fillon, ficando mesmo atrás de Alain Juppé, nas eleições primárias para a liderança do "Les Républicains" - algo de que quase já ninguém lembra.

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