sexta-feira, setembro 05, 2025

A branca


Ao final da tarde de ontem, na FNAC Chiado, acabada que tinham sido as nossas intervenções na apresentação do livro de Sónia Sénica, a sala levantou-se para fazer a tradicional fila para a autora autografar os livros. Atenta a juventude da Sónia, tive a certeza de que ela não teria a menor dificuldade de identificar todas as pessoas, de entre amigas e conhecidas, que se apresentassem à sua frente, para obter essa dedicatória. E foi então que senti uma imensa inveja. 

Há cerca de dois anos, no termo da sessão de lançamento do meu livro "Antes que me esqueça", na Gulbenkian, passei por alguns momentos embaraçantes. De entre as dezenas de pessoas que amavelmente compraram o livro e que esperaram, algumas por quase uma hora, para eu o assinar, havia muitas que eu não conhecia: como é de regra, elas iam indicando o seu nome ou o da pessoa a quem queriam que eu dedicasse a obra. E, claro, muitas outras houve - pessoas amigas e conhecidas - que estavam em absoluto dispensadas desse ritual, porque eu sabia bem quem elas eram. 

Restava, contudo, aquele que é sempre, para mim, o temível terceiro grupo: aquelas pessoas que conhecemos "de toda a vida", algumas com quem trabalhámos de perto, que sabemos muito bem quem são, mas cujo nome, naquele preciso instante, se nos varreu, numa insuperável "branca". 

Que fazer? Alguns dirão: é fácil, basta assumir abertamente a falha de memória e pedir para serem elas a relembrar o nome. Não, não é fácil: são pessoas com quem lidámos muito de perto, gente amiga, que fez o amável esforço para ali se deslocar e honrar-nos com a sua presença e que, com toda a certeza, olham para a nossa falha como uma espécie de desconsideração - "afinal, ele nem se lembra do meu nome..."

Naquela sessão de autógrafos, passei por um imenso embaraço com seis pessoas amigas. Era o cansaço? Talvez. Mas é essencialmente a idade, que nos faz perder a agilidade mental para lembrar os nomes. Não vale a pena estar a inventar outras desculpas. E foi o que fiz. No dia seguinte, escrevi a cada um daquela meia dúzia de amigos, com os quais tinha acontecido a "branca", e pedi-lhes desculpa pelo sucedido. Era o mínimo que podia fazer. E espero bem não me ter esquecido de algum! 

Sem comentários:

A branca

Ao final da tarde de ontem, na FNAC Chiado, acabada que tinham sido as nossas intervenções na apresentação do livro de Sónia Sénica, a sala ...