Foi há dias. Uma folga. Coisa rara, nesta vida de aposentado. (Ao menos, quando era funcionário público, tinha um horário!) Por lapso, tinha anotado mal uma aula. Agora, tinha à minha frente duas horas para preencher.
Comecei a andar pela rua, havia um alfarrabista e, claro!, entrei.
O livro tinha sido editado em 2007. Dez anos, é muito tempo, como cantava o outro. Onde é que eu estava em 2007? No Brasil. Nunca vira aquele livro e considero-me um bem sucedido bisbilhoteiro de estantes e mesas de livrarias. A capa era dura. Já custara €30 (!), depois €20, agora estava €7,50. Comprei.
Vi uma esplanada minúscula, numa leitaria manhosa. Pedi um sumo de laranja, depois uma bica. E ainda um bolo de arroz. E um novo sumo. Fiquei por ali, quase as duas horas, a tal folga, a folhear o livro, a ler alguns textos soltos. Porque o livro era para ser digerido assim.
E deliciei-me. Que bom que é poder ler - em português culto, limpo e enxuto - histórias de mundos que passaram ao nosso lado, alguns que cruzámos em Lisboa e noutros lugares, onde se fala, de forma aberta, franca, de pessoas, de factos, de ideias, de tudo. E esse tudo sob um olhar inteligente, atento, interessado e interessante. Um olhar refletido em papel, em artigos, agora juntos, numa unidade com certeza nunca imaginada aquando da escrita.
Paguei provavelmente mais pelo que comi e bebi, cujo sabor já esqueci, do que os €7,50 que dei por um livro que, afinal, vale agora (para mim) bem mais dos que os €30 iniciais capa. E não só porque me encheu, com inesperado gosto, a folga. Também porque, desde então, o reabro quase todos os dias, "ao calhas", como dizíamos em miúdos. Sempre com novas surpresas, nas mais de 500 páginas.
Se querem saber, não havia lá no alfarrabista mais nenhum exemplar do "Século passado", de Jorge Silva Melo, editado pela Cotovia (que o tinha mandado saldar pela Promobooks a €7,50). Assim, a partir de amanhã, na Feira do Livro, passem pelo stand da editora e peçam o vosso exemplar a €7,50. Se eles resistirem, digam que vão da minha parte. Pode ser que eles se comovam.
(Em tempo: pessoa atenta a estas coisas disse-me que este último comentário sobre a editora terá sido excessivo. É que passado que seja um período razoável na comercialização de um livro, não há outra solução que não seja saldar os exemplares não vendidos. Foi o que fez a "Cotovia", é o que fazem, ao que parece, todas as editoras. O meu "mea culpa" perante a "Cotovia". Até porque, tal como escreveu Harper Lee, o meu desejo é que "Não matem a cotovia").
5 comentários:
Já mergulhados em plena silly season eis do que os media não falam:
- de Alvarez que dá como testemunhas abonatórias do que diz ter vivido em Timor, Guterres e Gama;
- dos dislates de JM Tavares sobre o misuse do Fundo Social Europeu e do silêncio de Margarida Marques e da representação da Comissão em Lisboa;
- da subida do Labour que teria graça ver se a braços a gerir o Brexir;
- ...
Senhor Embaixador, coincidência ou não, após a publicação do seu artigo, tentei adquirir o livro através da "wook" exatamente por esse valor, mas já esgotou!
Preferível recordar e ouvir e ler "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" , 50 anos depois....
Jorge Silva Melo tem uma capacidade de comunicação invulgar. Também quando conta na forma oral é magnífico. Pode até referir-se a um assunto de reduzida importância mas fá-lo de um modo tão vivo e cativante que é impossível não ficar agradado. Pega numa estória qualquer e ela logo ganha vida. Talvez a sua tarimba no teatro seja responsável por parte do seu extraordinário sucesso como comunicador.
Vou comprá-lo logo que o encontre e vou comprar para oferecer também.
Ai não, tão boa a relação preço qualidade, quase chega a poesia.
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