segunda-feira, fevereiro 06, 2017

"One point up..."

Lembrei-me dele hoje, ao ler, na imprensa americana, um perfil de Trump. Nele se diz que, com convicção ou por mera posição tática, o novo presidente americano, naquela sua arrogância sem limites, quer estar sempre numa posição de força, nunca revelar a menor fraqueza.

Foi aí que me lembrei dele, desse amigo bizarro que tive (e que já morreu há muito). Um dia, vi-o chegar muito pálido e perguntei-lhe se se sentia bem. Não obstante ser por demais evidente que estava com problemas de saúde, disse-me: "Estou lindamente, sinto-me mesmo muito bem", caindo depois, numa evidente exaustão, sobre um sofá. Calei-me. A diferença de idades e a falta de confiança não me permitiam desmontar aquele teatro. 

Passaram uns tempos e os papéis inverteram-se. Eu estava com uma imensa dor de cabeça, talvez mesmo febril, e referi, em frente a ele, que me me sentia pessimamente. Com um sorriso, num argumentário que casava bem com a sua atitude anterior, ele então sentenciou: "Nunca diga isso! Nunca deixe transparecer perante outra pessoa que tem uma fragilidade, em especial de saúde. É que essa pessoa, muito provavelmente, sente-se normal, está sem padecimentos, o que imediatamente o inferioriza a si. Porque, ao pressentir que você tem um problema, ele sente-se logo superior. E nós, nas nossas relações humanas, temos de fazer um esforço para estar sempre acima dos outros". E concluiu com uma máxima em inglês que, embora profundamente pateta, nunca mais esqueci: "If you are not one point up, you are one point down". Este meu amigo, cujas "teorias" (e tinha outras) o não levaram muito longe na vida, nem sequer era má pessoa. 

Foi preciso viver a experiência de Trump para me lembrar desta máxima. É que há mesmo gente assim...

7 comentários:

Anónimo disse...

é o famoso pessoal que pensa que a vida se mede pontos...

Luís Lavoura disse...

Esta atitude de nunca desvendar as doenças de que se padece é muito usual no mundo rural português. Mesmo quando uma pessoa morre, os seus familiares ocultam a doença de que ela morreu. As pessoas raramente dizem que estão doentes e, se o confessam, nunca esclarecem qual a natureza da doença.

Anónimo disse...

Com devida vénia um trecho do "Observador", Helena Matos, sobre as "doenças" escondidas da sociedade actual "esclarecida" que pratica a sua própria destruição:

"Quando o agressor é outro e sobretudo quando o agressor vem dos grupos que os libertadores do povo têm como seus protegidos (e potenciais futuros eleitores) então o que antes tinha de ser imediatamente denunciado passa a ser prontamente silenciado.

E assim ignoram-se agora as agressões praticadas por refugiados/emigrantes muçulmanos na Suécia tal como se ignorou durante anos e anos o que estava a acontecer nos bairros periféricos de França, quer com a radicalização dos muçulmanos, quer com a violência dos bandos de jovens de que são exemplos os acontecimentos deste ano em Juvisy (não, não foi notícia por cá) ou as reviravoltas oficiais para que não sejam conhecidos os números das viaturas incendiadas nas datas festivas naquele país."

Os media cá fazem o mesmo.

Anónimo disse...

"Esta atitude de nunca desvendar as doenças de que se padece é muito usual no mundo rural português"

que o digam os seropositivos.

(o comentario nao é uma piada)

Anónimo disse...

Quando dirigentes da Intersindical e quejandos mandam cá pra fora bitaites a dizer que a actual forma de governo està "esgotada" têm sempre a alternativa de virar o governo ainda mais à direita mudando os parceiros da coligação, com políticas ainda mais austeras e menos progressivas. É tentar. Para satisfazer os caprichos das várias primas donas da esquerda plural a esquerda francesa foi reduzida à sua insignificância. Em Itália para lá se caminha com a geração gerontocrática de D'Alema e Bersani a travar Renzi. A vida é como os interruptores, umas vezes para cima, outras vezes para baixo.

Anónimo disse...

"Para satisfazer os caprichos das várias primas donas da esquerda plural a esquerda francesa foi reduzida à sua insignificância."

Quase que estou de acordo. Na minha opinião, contudo, a insignificância não é da esquerda, mas das primas donas...

cumprimentos

Anónimo disse...

Os parceiros do PS na coligação são forças do bloqueio, conservadoras e anquilosadas e impedem os ventos do progresso. Tempo de o PS às rifar e mudar de namoro.

Obrigado, António

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