quarta-feira, outubro 19, 2016

Saudades do Esperanto

Tinham-me avisado: o condutor é sérvio, fala muito pouco alemão (eu não falo nada) e não entende uma palavra de inglês. No aeroporto, tinha um letreiro com o meu nome e percebi que sabia o endereço onde me devia conduzir. Eu até sou um conduzido geralmente prolixo mas, desta vez, fui num silêncio sepulcral (dado o meu cansaço, não me desagradou, confesso) toda a viagem. Ao chegar ao destino, vi-o passar olimpicamente em frente à porta onde eu devia ser depositado e começar a meter-se por ruas cada vez mais distantes. Tentei explicar-lhe o erro, ele respondia numa língua mistura da de Milosevic com a de Merkel, mas era difícil conseguir passar a mensagem. Entre uns "go back!", "right", "left", cheios de gestos imperativos, lá consegui levar o homem ao porto pretendido, ao fim de alguns minutos. Valeu-me conhecer bem esta cidade. Sorrimos no final da confusão.

É nestes dias que tenho pena que o esperanto, essa língua universal que anularia todas as fronteiras culturais, não tivesse afinal vingado. 

8 comentários:

António Perez Metelo disse...

Não vingou, é certo - mas não está extinto. Entre nós, emerge no próprio nome da Associação Helpo, ONGD. Significa 'ajuda' e é isso que faz: ajuda 18 mil crianças, no Norte de Moçambique e em São Tomé, a prosseguir com êxito os seus esforçados estudos. É o meu caro Embaixador não quererá juntar-se ao batalhão de mais de 3 mil padrinhos helpantes? Para que o ideal que inspirou a criação do esperanto se mantenha bem vivo.

Anónimo disse...

Sr. Embaixador,
então o inglês não tem atualmente a função de ser "língua internacional"? Não vejo necessidade do Esperanto (que ninguém quer aprender). Claro que há sítios no mundo onde ninguém fala inglês (até na Europa) mas de qualquer maneira também não iriam aprender Esperanto.

Mafalda

Reaça disse...

Quem matou o Esperanto foram os anglófilos comandados pela Velha Inglaterra, quando da II Grande Guerra, que simultaneamente liquidaram a Alemanha e o respectivo Eixo.

E, fazendo-se desentendidos,substituíram o Esperanto pelo Inglês, pela calada, como agora estão construindo distraidamente aquele MURO em território francês, e tudo bico calado.

Os ingleses e aliados, conforme liquidaram o Esperanto, liquidaram a União Europeia o Euro, Napoleão, Hitler, e quem venha a traz.

Era o Esperanto, a grande "união" da União Europeia.

Anónimo disse...

A austeridade foi sempre o fim do socialismo.

Nenhuma sociedade socialista jamais criou riqueza, pelo contrário ameaça e destrói quem investe, trabalha e aforra.

Luís disse...

Curiosidade: em 2018, terá lugar em Lisboa o 103.° Congresso Universal de Esperanto que trará a Portugal alguns milhares de esperantistas de todo o mundo. :-)

Quem sabe, talvez por momentos possamos ter um vislumbre do que seria o aspeto da "fina venko" e que no Chiado ou noutros pontos turísticos de Lisboa seja o esperanto, e não o inglês, a língua reinante. :-)

Anónimo disse...

outro depois de uma animada conversa o meu conviva, um velho senhor com umas longas barbas brancas entregou-me o seu cartao, dobrado e assinado com uma letra muito redonda, dignissima, doutor zamenhof, positivista ao serviço da irmandade mundial

ia agora espalhar a sua boa palavra para os lados do medio oriente, a sua lingvo esperantujo, ludi futbola kaj drinki kiel funelo

komplimentoj



Anónimo disse...

Minha avó paterna chegou a aprender Esperanto quando era nova. Nunca lhe serviu de muito mas, com a fantástica memória que tinha, aos 97 anos, quando morreu, ainda se lembrava de boa parte do que tinha aprendido.

Luís Quartin Graça

Gonçalo Neves disse...

Só quem anda muito distraído é que pode afirmar que o esperanto "está extinto" ou que a sua aprendizagem "não serve para nada", como se lê nalguns comentários apressados, pois quem o aprendeu a fundo e o usa diariamente com inúmeros proveitos só pode bendizer o esforço ínfimo e o investimento pecuniário (pouco, ou mesmo nenhum) que dedicou à sua aprendizagem.

João Miguel Tavares no "Público"