terça-feira, outubro 25, 2016

Álvaro Guerra

Álvaro Guerra e eu divergíamos sobre a data em que falámos pela primeira vez. 

A tese dele é de que foi a 26 de abril de 1974, numa inusitada reunião na biblioteca da Escola Prática de Administração Militar, coordenada pelo então capitão Teófilo Bento, em que havia um mundo curioso de gente à volta da mesa (Luís de Sttau Monteiro, Mário Castrim, Adelino Gomes, Luís Francisco Rebelo, Orlando da Costa, Manuel Jorge Veloso, Luís Filipe Costa, Manuel Ferreira, Artur Ramos, António Reis - dos que me lembro, mas eram alguns mais), numa reflexão sobre o futuro de uma RTP democrática.

Já eu tinha ideia de que, dois anos anos, Mário Mesquita nos tinha apresentado na redação do "República". Mas imagino que ele se tivesse esquecido desse encontro fortuito. Eu havia ido ali, discretamente, tentar fazer publicar uma nota sobre uma conflitualidade, com laivos políticos, sobrevinda numa reunião dos Serviços Sociais da Caixa Geral de Depósitos, onde eu trabalhava à época. A censura não deixaria "passar". 

Claro que, de há muito, eu conhecia o Álvaro da escrita. Seguia-o na ficção, mas também no jornalismo, onde era leitor, embora irregular, da sua coluna na última página do "República" (que nunca foi o meu jornal), o "Ponto Crítico". 

Um dia, vi-o entrar para a diplomacia, pela mão de Mário Soares. Inicialmente, era destinado a ocupar o posto de Conselheiro Cultural na Índia, mas tenho ideia de que não pôde ser colocado no lugar ... por não ser licenciado. Mas, curiosamente, essa qualificação académica já não era indispensável para poder ser embaixador "político"! E assim o Álvaro esteve sucessivamente a chefiar as missões diplomáticas portuguesas em Belgrado, em Kinshasa, em Nova Delhi, no Conselho da Europa em Estrasburgo e, finalmente, em Estocolmo. E, em todos esses postos, revelou-se um excelente profissional, como a memória (sempre mais exigente para quem não fez todo o percurso da Carreira) das Necessidades reconhece. 

Creio que foi em Kinshasa onde, nessa qualidade, nos reencontrámos. Mais tarde, e por várias vezes, em Estrasburgo, falámos por horas, naquela casa do Boulevard de l'Orangerie, onde a Helena nos preparava requintados pitéus, regados por líquidos escolhidos na vizinha "Route des Vins", e se abafava, em divertidas conversas, a nossa insanável divergência sobre a tauromaquia. E sempre, sem exceção, ia com ele à Kléber, onde me assinalava livros que a sua incessante curiosidade tinha descoberto. A última vez que nos vimos foi em Estocolmo, onde já o senti bastante frágil. 

O Álvaro viria a morrer aos 65 anos, em Vila Franca de Xira, junto aos gaibéus da sua terra. No passado sábado, soube agora, uma escultura do António (Antunes) rende naquela cidade uma merecida homenagem a esse homem de bem, excelente diplomata e escritor que se chamou Álvaro Guerra, de quem tive o privilégio de ser amigo.

12 comentários:

Anónimo disse...

Mais um "inginheiro" fabricado á pressão. Enquanto estes "inginheiros" com as suas madrinhas e padrinhos continuam a singrar na vida. Muitos dos verdadeiros Engenheiros e outros Licenciados de verdade que o são com o seu próprio esforço intelectual e com o esforço financeiro dos seus Pais continuam a amargar o desemprego e ou a exploração.

António Pedro Pereira disse...

Anónimo das 09:38,
Pela qualidade intelectual, moral e ética da sua reflexão, vê-se logo que o senhor deve ser Engenheiro ou Licenciado de papel passado e emoldurado para pôr na parede da sala e visitas da sua casa.
Só me falta saber se fez o curso na universidade que licenciou e ex-Dr. Instantâneo Miguel Relvas ou em qual das outras semelhantes que, infelizmente, existem no país um pouco por todo o lado.
Se não tivesse a superioridade intelectual de um licenciado à Relvas, e conseguisse descer ao nosso mundo real, não lhe seria difícil encontrar grandes vultos que nunca frequentaram a universidade, assim como grandes figurões licenciados que não passaram de personagens sem o mínimo relevo na sociedade.

Anónimo disse...

Pelo discurso do Manuel Silva, já se viu que faz parte da geração que foi passada administrativamente. Aliás conheço muitos desse quilate. Uns imbecis, que gostariam de ter uma Licenciatura, mas que nunca tiveram capacidade para a tirar. Licenciado não é só quem quer tipo Relvas, Sócrates e este que agora foi embora, Licenciado de verdade é para quem tem categoria e cultura.

António Pedro Pereira disse...

Para o cobarde anónimo das 09:38 e das 14:14 (que deve ser a mesma criatura):
Três conselhos simples mas úteis:
1 - Nunca devemos julgar os outros pelo que somos;
2 - Devemos ter um espelho na parede atrás do computador, para nos vermos enquanto vomitamos atoardas sobre ou outros;
3 - A cobardia do anonimato não é boa conselheira para ninguém, revela muito mais do que esconde sobre a personalidade de quem o usa.

Francisco Seixas da Costa disse...

Meus senhores!

Anónimo disse...

"cobarde anónimo" mas licenciado decerto, eles são imensos...

Bem hajam os homens de verdade.
Helena / Cascais

Anónimo disse...



Wikipédia:

"Álvaro Manuel Soares Guerra (Vila Franca de Xira, 19 de outubro de 1936 - Vila Franca de Xira, 18 de abril de 2002) foi um político, diplomata, jornalista[1] e um importante escritor português do século XX. Formado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; foi fundador do jornal "A Luta" e embaixador de Portugal em Estocolmo.[2]"

Anónimo disse...

Cada vez que aparece a tanga do "anonimato", a tripa dá-me logo uma volta: "Manuel Silva", um dos nomes próprios mais comuns em Portugal, junto com um dos apelidos mais vulgares em Portugal. Carrego no link desta "identificada" criatura: NADA! O perfil do Google não tem NADA! Não há uma fotografia, não há um texto, não há um vídeo. NADA! Apenas uma coisinha dizendo que o "Manuel Silva" é homem. E vêm animalárias destas, armadas em machonas (calma, não falo de lésbicas camionistas), com histórias de anónimos vs cavalheiros. POLTRÕES!

Anónimo disse...

Alvaro Guerra.
Tenho a trilogia dos Cafés.
Gostei muito do Café República.
Achei menos conseguidos o Café Central e o Café 25 de Abril.

Anónimo disse...

Esta coisa dos anónimos já foi mais que discutida. Toda a gente percebe o que é insulto e portanto cobardia ou o que é ideia ou opinião e portanto normal e até aconselhável dada a INSEGURANÇA neste país, esta diferente da referida no post anterior. É preciso muito "cuidadinho" com as nossas opiniões.
Neste caso não há qualquer insulto por parte dos anónimos "verdadeiros"!
Apenas quero referir que a questão dos não licenciados não serem competentes não é generalizável. E este Senhor, que não conheço, pode ter sido a competência que o Embaixador refere sem qualquer grau académico!

António Pedro Pereira disse...

Ao Anónimo das 22:03,
que, pela refinada estilística da prosa deve ser o mesmo das 09:38 e das 14:14, digo que Manuel Silva é muito comum porque há muitos: e eu sou um deles.
Manuel é o meu nome próprio e Silva o 2.º de 3 apelidos.
E nas redes sociais tenho o direito de usar o que quiser e de não por fotografia ou outros elementos pessoais que pouco acrescentam ao que nelas digo de vez em quando.
Quando alguém quiser apreciar, concordando ou discordando do que digo, sabe a quem se referir, distinguindo-me muito bem dos outros comentadores e podendo-me até identificar de outros blogues onde participo.
Sou sempre o mesmo Manuel Silva em todo o lado.
Não sou um falso sem nome.
E estou disponível para provar - onde quer que seja - que a minha identidade é verdadeira.
O mesmo não estará disposto a fazer quem se refugia no anonimato por opção: é por que algo quer esconder.

Anónimo disse...

Se repararem o problema aqui não são os anónmos verdadeiros. Esses deram uma opinião normal, mas depois andam para ai uns homenzinhos e mulherzitas da linha ou não que não respeitam as opiniões normais dos anónimos verdadeiros.Claro que acredito que isto apenas se dá porque muitos desses homenzinhos e mulherzitas da linha ou não, por certo serão avençados de qualquer coisa e basta falar de algum tema que lhes serve de carapuça e vai dai desancam nos pobres anónimos, anónimos sim, mas verdadeiros.

Confesso os figos

Ontem, uma prima ofereceu-me duas sacas de figos secos. Não lhes digo quantos já comi. Há poucas coisas no mundo gustativo de que eu goste m...