O Observador traz hoje um artigo curioso sobre a escolha de nomes para as crianças. (Sei que muitos amigos não me perdoarão por estar a chamar a atenção para um site "reacionário", mas eu sou assim, falo do que gosto e o texto tem graça. Pronto!).
O artigo trouxe-me à memória uma história divertida, que mete "corrupção" e tudo. Estávamos nos anos 70. Um grande amigo meu, que se foi embora da vida há poucos anos, regressara de S. Tomé e Príncipe, onde estivera como professor numa missão de cooperação. Por lá conhecera uma funcionária do PNUD, de nacionalidade americana. Apaixonaram-se (até ao fim da vida dele, quase quatro décadas depois) e ela engravidou. Vieram para Portugal. Fomos convidados para padrinhos dessa filha que nasceu e à qual quiseram dar um nome raro, que não fazia parte da lista dos nomes permitidos em Portugal. Queriam que se chamasse Marla. Isso mesmo, Marla!
Avançámos para uma conservatória, conversámos com o conservador, que não se mostrou nada progressista. Eu, recém-diplomata, esmerei-me no processo convictório, mas sem sucesso. Começava mal uma carreira! Que não, que havia regras, que "o 25 de abril não permitia tudo" e coisas assim. Ainda se fosse Marta, tudo bem! Ora Marta! Eu tinha uma sobrinha com esse nome e, claro, fora fácil chamá-la assim. "Olhe! E porque não se engana ao escrever?", aventei. Nada feito, teimava o homem, falando para ser ouvido pelo resto do pessoal, com a autoridade do balcão pelo meio. Sentimos que a coisa estava preta (se é que o politicamente correto permite falar assim).
Olhei bem a personagem. O burocrata tinha um bigodinho, à malandro, tipo "amigo da onça", trejeitos untuosos, anel brilhante, emblema de pedrinhas, de 25 anos de um clube de Carnide. Cheirou-me a dobrável. Chamei-o a um canto do balcão, disse: "O amigo compreende, a mãe da criança é americana, lá na América o nome de Marla "é mato", é uma tradição de família, os avós faziam muito gosto nisso. Eu sei que o meu amigo só cumpre a sua obrigação - e faz muito bem! Porém, os pais estariam disponíveis a dar uma ajudinha para alguma obra social a que o amigo seja apegado, lá no seu bairro, a alguma creche, instituição de caridade". O olhar do funcionário disse-me que eu tocara numa corda sensível. A "obra social" abria-se subitamente ao "mecenato". Deslizei-lhe então uma nota de "quinhentos mil reis" (à época, era dinheiro!) para dentro do processo. Não lhe disse, como o João da Ega ao diretor da "Trombeta do Diabo", a frase literariamente histórica: "Recolha o bago, amigo Palma. Negócios são negócios e o baguinho está aí a arrefecer". Ele não se chamava Palma Cavalão, nem me interessava o nome. Ou melhor, interessava-me que fosse Marla o nome da criança.
A Marla chama-se hoje Marla. Um beijo para ti, Marla, aí por Viena.
5 comentários:
Essa do clube de Carnide foi baixinha. Vou dizer ao Simões que defenda.
a) Jaime Graça
" a diplomacia do cifrão", na maioria das situações funciona bem, infelizmente!
E, para mais, o tal Clube não pertence nem à freguesia nem ao bairro de Carnide.
Ao anónimo da 1.46. O "Carnide Clube" existe desde 25 de abril de 1916. Há sócios com emblema dis 50 anos.
Corrupção...não concordo, nem pratico.:(
VW
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