sexta-feira, janeiro 09, 2015

Lajes


Há dois dias, chamei aqui a atenção para aquilo que o ministro Rui Machete disse durante o Seminário Diplomático, a propósito da (então ainda não anunciada, por isso apenas possível) decisão dos EUA de reduzir o número de militares americanos e trabalhadores portugueses na base das Lajes, nos Açores. As notícias souberam-se ontem e, infelizmente, confirmam aquilo que as palavras do ministro já prenunciavam. E que, por isso, então destaquei.

O processo da base das Lajes é um dos mais complexos da história das relações entre Portugal e os Estados Unidos da América. Tem, em si, uma dimensão de Estado que recomenda a maior contenção no seu tratamento. Ao longo dos anos, foi gerido por muitos e qualificados diplomatas portugueses, que fizeram tudo quanto esteve ao seu alcance para defender os interesses que politicamente foram considerados como essenciais. Dá-se a coincidência - porque é, de facto, apenas uma coincidência - de estar neste momento à frente do Ministério dos Negócios Estrangeiros uma pessoa como o dr. Rui Machete, que, pelas funções que longamente teve enquanto presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), conhece, talvez melhor que ninguém, o contexto das contrapartidas americanas. Também por isso, tenho fortes razões para crer que, do lado do MNE e da nossa embaixada em Washington, foi feito tudo quanto era possível para que o desfecho não fosse o que acabou por ser. Mas registo que essa é a minha única certeza e gostava de ter outras. 

Historicamente, haverá um pecado original nesta questão das Lajes? Nunca esquecerei o que um dia ouvi ao embaixador António Vaz Pereira, meu "mestre" na arte diplomática, também ele antigo embaixador na NATO, quando, numa daquelas conversas que tivemos em Londres, e em que muito aprendi, me disse uma coisa que creio parecida com isto: "A tragédia das Lajes é que a cedência da base deveria ter sido feita sem contrapartidas. Uma soberania nunca se aluga, mesmo a um aliado, porque assim deixa de o ser e limita fortemente a capacidade de manobra do Estado". Imagino que esta perspetiva não seja consensual, mas hoje, olhando para a História, sinto-me de acordo com ela. É uma triste sina dos países frágeis dependerem de uns papéis verdes onde se lê "in God we trust".

4 comentários:

aguerreiro disse...

A guerra acabou há quasi 70 anos. Os americanos já deviam ter ido para o "home" há decadas, Aos açoreanos que lá trabalham; concerteza que fizeram descontos para a S,S. Têm direito ao desemprego e á reforma a devido tempo, Se tiverem vontade trabalho também não faltará e deixará de haver o "meninas á sala que chegaram os amaricanos". O colonalismo, se acaba para uns, também tem de acabar para outros. "American go home", já chega de ocupação com ou sem contrapartidas.

Portugalredecouvertes disse...


Quando é que fazemos a nossa próxima visita aos Açores?!!

patricio branco disse...

aparentemente deixou de ter muito do valor estratégico.
não sei qual a situação das bases similares na andaluzia, rota, etc.
os eua também cortam nas despesas portanto. mas não saem totalmente e num futuro a base pode voltar a ser reforçada e voltar a ter mais importancia

Francisco disse...

Este contracto das Lajes deu muito e muito ao governo de Lisbao, que nunca se importou com as consequências para a Ilha Terceira. A principal preocupação foi tirar o maior proveito para Lisboa.

"Olhe que não, olhe que não!"

Mensagem recebida há pouco, de um amigo, que assistiu às duas primeiras emissões do "Olhe que não, olhe que não!", no 24 Horas ...