quinta-feira, maio 09, 2013

"Salários milionários"

Uma vez mais, a demagogia saloia marca as notícias sobre os "salários milionários" dos diplomatas em posto no estrangeiro. Uma notícia hoje publicada no "Correio da Manhã" insere números globais, descontextualizados, dando a impressão de que os funcionários que o Ministério dos Negócios Estrangeiros envia pelo mundo auferem, por um qualquer "golpe" ou conluio inexplicável, rendimentos astronómicos. E, desta forma, ajudada por alguma "aveludada" insídia sindical sempre marcada pelo despeito, a diplomacia portuguesa é posta no pelourinho da inveja nacional. 

Lamento sinceramente que o MNE, em termos oficiais, não saia de imediato a terreiro para explicar que estes valores incluem salários ao nível dos de quaisquer outros funcionários da função pública (na base dos quais são contadas as respetivas futuras pensões de aposentação), complementados, como não pode deixar de ser, de valores para compensar as diferenças de custo de vida para um cidadão estrangeiro que reside nesses países (fixado com base em tabelas internacionais também utilizadas por outros Estados e organizações internacionais), de montantes para a ajuda ao aluguer de casas no tradicional mercado especulativo de rendas para diplomatas, de apoio parcial às despesas para acorrer à educação dos filhos em escolas internacionais estrangeiras (sem o que lhes será difícil darem continuidade a estudos no regresso dos pais a Portugal), além de (cada vez mais limitadas) verbas de "representação", para o exercício (a ser justificado e detalhado superiormente) de funções no quadro habitual - e universal - da ação diplomática, na promoção dos interesses portugueses que lhe cumpre defender junto de colegas e autoridades locais, com as imperativas atividades de natureza social que lhes compete organizar. Resta dizer que muitos desses funcionários são ainda obrigados a manter uma segunda casa em Lisboa, sem o que teriam de reiniciar contratos de arrendamento ou compra de cada vez que regressassem a Lisboa, e que, para os poderem acompanhar, os seus cônjuges são frequentemente obrigados a suspender os seus empregos, sendo assim obrigados a uma "dupla exclusividade", afetando em definitivo as respetivas carreiras profissionais.

Mas de tudo isso ninguém se lembra, nesta mediatização populista, e não vejo a comunicação oficial, tão exímia nas Necessidades para outros fins, surgir preocupada em esclarecer estas coisas simples. Porquê? Talvez porque não vá bem com "l'air du temps" e fique melhor com a colagem a um certo discurso miserabilista que marca os dias do país. E é tão fácil comparar estes "salários milionários" com a média dos salários portugueses ou com a trágica situação dos desempregados, não é?

Sei de certeza segura que esta será sempre, para os diplomatas, uma "guerra" mediática perdida. Mas porque já estou completamente afastado da carreira, sinto-me mais à vontade para poder colocar aqui, para todos os fins úteis, algumas da explicações que o Ministério tinha a estrita obrigação de usar para tentar esclarecer e desmontar este tipo de notícias. 

26 comentários:

jj.amarante disse...

Para este governo os funcionários públicos são uns preguiçosos inúteis principescamente pagos e os seus milionários amigos consultores uns trabalhadores eficientes a quem gostariam de pagar ainda mais.

LUIS MIGUEL CORREIA disse...

Infelizmente a imprensa em Portugal está cada vez mais longe dos valores associados à liberdade, à responsabilidade e à qualidade da informação. Espelha talvez os achaques do País...

disse...

O Senhor Embaixador vai-me desculpar, mas o seu post acaba por ser uma resposta genérica a um artigo que se limita a divulgar dados concretos. E tenho-lhe a dizer que o texto do artigo me parece até bastante neutro no tom (ignorando obviamente o título que é aquilo que é).

Toda a gente sabe que os diplomatas têm despesas decorrentes da sua situação profissional diversas das dos outros funcionários. Ninguém põe isso em causa. Agora parece-me que há espaço para debater as compensações financeiras que lhes são devidas, sobretudo na situação em que o país e o mundo se encontram.

Eu vivo em França, sou doutorado em em eng. informática, trabalho numa startup de média dimensão e ganho pouco mais de 2000 euros por mês. Isto não me impede de ter uma vida digna.

Eu já aqui citei o Doutor Silva Lopes e vou fazê-lo outra vez. Numa entrevista à Antena 1, diz ele a respeito dos juízes: "Se há coisa que acho que a gente precisa é de juízes prestigiados. Eles não queiram é manter o prestígio à custa do dinheiro. O dinheiro não é condição de prestígio." Não é mesmo.

Anónimo disse...

Não estou muito por dentro dos salários dos funcionários públicos. Contudo, tenho verificado que os juízes são uma classe privilegiada. São salários e pensões que sempre são mais elevados do que os outros, reformas com quarenta e poucos anos, subsídios de deslocações que muitas vezes nem existem, etc. Por que será?

Anónimo disse...

Há um grande equivoco:- O Correio da Manhã refere-se a diplomatas
por engano. Com efeito, os montantes indicados são os salários
dos trabalhadores recrutados para exercer funções nos serviços periféricos externos do MNE- decreto regulamentar nº3/2013 de 8 de Maio-, que incluem chanceleres,técnicos, assistente técnico e assistente de residencia.
Tudo menos diplomatas!
Não sei onde o MNE vai cortar para pagar aqueles salários aqueles funcionários que passam a ganhar mais que Embaixadores!

Anónimo disse...

Ao longo da História os salários dos diplomatas foram sempre uma fonte de críticas. Quando os diplomatas pouco auferiam é sabido que tinham de pagar as suas missões com o dinheiro dos próprios tentando depois receber as compensaçãoes. No século XVII alguns chefes de missão até tiveram de transformar as suas residências em casinos. Outros tiveram que fugir à socapa para não terem de pagar as dívidas...
agora com o cinto a apertar vende muito dizer que os diplomatas teem salários chorudos... enfim...... portugalidades.

Francisco Seixas da Costa disse...

Seja como for, os técnicos equiparados a diplomatas sofrem de muitos dos constrangimentos que são típicos dos funcionários de carreira. Por isso, muitos dos argumentos que aduzi são igualmente válidos para eles.

josé ricardo disse...

Ufa!... Senhor Seixas da Costa, o senhor é mais um a juntar ao clube do nosso Presidente da República: já não dá, praticamente, para as despesas!...

um abraço,

José Ricardo

Anónimo disse...

Indignou-se a 'velha senhora:

com 'salário
milionário',
diplomata
português?
não rima em nada.

esse diário
salafrário
a si trata
de soez.
que canalhada!

diplomata tem problema:
conheci um que me disse
que lá fora tem por lema
disfarçar a pelintrice

Anónimo disse...

Uma vez mais, assistimos a um “esquecimento” (pelo menos para já, ao que julgo saber) por parte, quer da ASDP - quer da própria Tutela - em esclarecer esta questão, que foi, afigura-se-me, intencionalmente mal colocada pelo CM (o que já é habitual naquele orgão de comunicação social, sempre que se refere aos diplomatas).
Quanto aos Funcionários a que o Diploma publicado no D.R se refere (e cuja leitura atenta recomendo, sobretudo ao “escriba” do CM) - e que nos devem merecer todo o respeito – só espero que esta decisão vá ao encontro das suas aspirações salariais, caso a caso, ou seja, Posto a Posto (o que, temo, não deva vir a ser o caso, mas, talvez quem sabe, esteja enganado).
Resta entretanto aguardar o que, a partir de 2014, “nos irá suceder” no que respeita aos salários no Quadro Interno, uma vez seja feita a “fusão” entre Privados e Públicos e, sobretudo, quanto ás Reformas.
Não me parece que exista capacidade política da Tutela para proteger a nossa situação laboral.
Mas, talvez esteja a ser um péssimista.
a)Rilvas

Anónimo disse...

Sobre o acordo ortográfico, a 'velha senhora' não mudou de opinião:

se voltamos ao acordo
vexa tem toda a razão:
não as bordo nem as mordo
cumpro as leis porque leis são

Anónimo disse...

A solução para pensionistas da segurança social e reformados da função pública deve ser ser a mesma que penso que vigorou á alguns anos...incineração nos fornos das cimenteiras >>>>SÂO "RESÌDUOS PERIGOSOS" ! para a dívida.....pelo que SE OUVE !........

Alexandre

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro José Ricardo: leia melhor. Nunca me queixei dos meus salários como não me queixo da minha reforma. Leu isso em algum lado?

Anónimo disse...

Não sei, nem me interessa, quanto ganha um diplomata, um funcionário do MNE, etc, mas desconfio que o director do jornal onde saiu a pseudo-notícia ganhará muito mais.

Populismo de sarjeta, ao atacar salários de diplomatas, juízes, políticos. Gostaria, isso sim seria serviço público, que se comentasse o trabalho (ou falta dele), a qualidade (ou falta dela) de políticos, juízes, diplomatas e todos aqueles que exercem a função pública ... com o objectivo de premiar os melhores e despedir os mediocres.

N371111

Anónimo disse...

Por que andam a encanar a perna à rã?
Todos os meses, podem consultar a listagem das pensões de diplomatas, magistrados, professores e filhos de deuses menores... da Caixa Geral de Aposentações. Basta olharem para os números das reformas... Não gozem com o pagode, porque o zé pagode pode...Infelizmente, o zé pagode não tem voz activa, ainda que tentem convencer-nos que tem. UM PAÍS DE VERGONHA ACOLITADO POR QUEM PÕE E DISPÕE, com acólitos de túnica branca, de túnica roxa, em função da época. E não venham com paleios...

Anónimo disse...

Conheci a forma de estar na sociedade do Embaixador de Portugal em Paris, Francisco Seixas da Costa, o minimo suficiente, para poder dizer que é, quase, um caso de estudo à parte.
Mas nenhuma árvore pode esconder a floresta! E numa altura em que se exigem ainda mais sacrificios a um povo já exangue, como se podem aceitar tantas desigualdades e tanta arrogância? Não foi o Presidente da Republica que disse que a sua reforma (a dele) não lhe dava para as despesas? Não se pderá aqui falar de afronta? Não saberá o Sr. Presidente da Republica que nós sabemos que Sua Excelencia nem sabe o que são despesas? Ele que tem tudo pago pelo Estado: casa, transportes, cama e mesa... Até sua Excelsissima esposa também não paga deslocações, indumentária, refeições, participação de aluguer de casa, eletricidade...
O salário e reforma que o Estado paga à maioria dos politicos nem lhes é necessário porque o Estado assume todas as despesas! Aqui, sim, pode haver cortes. Mas calo-me. Se não teria ainda muito que falar...
José Barros

josé ricardo disse...

Caro Francisco Seixas da Costa,
não, de facto não se queixou da sua reforma nem eu quero ir por aí. Mas que houve, na sua "narrativa" (dá um jeitão esta palavra...), um certo tom diáfano e lamuriento...
Mas deixe que lhe diga que concordo consigo nos pressupostos argumentativos para com a edificação deste tipo de notícias.

um abraço,

José ricardo

EGR disse...

Senhor Embaixador: do meu bolso nunca saiu, nem vai sair nunca, um centimo para sustentar isso que se publica e dá pelo título de "Correio da Manhã".
Acompanho a indignação que V. Exa manifesta e,sinceramente, que da parte de quem devia esclarecer o assunto haja silencio já
não fico surpreendido.
Afinal,bem vistas as coisas, essas "noticias" até são muito convenientes.

Anónimo disse...

sr Embaixador
Muito mais car que 3 diplomatas de carreira fica, note bem, mais barato a nós todos que um qualquer cidadão que não estuda, não trabalha, que aderiu á herína "prá veia" que apanhou sida e que gasta 20.000 euros mensais, só para se manter vivo e a fazer amesma vida e asneiras, mas falar disto e pelo visto é políticamente não correto. Xiça para tal situação

Anónimo disse...

Sr. Embaixador

Obviamente a notícia que refere carece de profundidade, e é abundante em demagogia; além disso não podemos ignorar alguns dos contrangimentos associados ao desempenho de algumas funções. Contudo, não podemos esquecer que algumas dessas funções são em representação de uma população que vive cada vez pior e que não compreende essas "despesas de representação"! Além disso, como compreenderá, os custos associados à representação diplomática em certos países, cujas relações económicas connosco são diminutas ou nos quais praticamente não há população lusa emigrada, são escandalosos! Fica-lhe obviamente bem, e não seria de esperar outra coisa de si, que não fosse "vestir a camisola" do MNE, mas espero que consiga perceber quem está do outro lado...

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Anónimo das 22.32: não estou a "vestir a camisola" do MNE. Digo que é irracional reduzir as despesas de representação que, talvez mais do que nunca, são essenciais para promover os interesses portugueses. E as embaixadas não existem essencialmente para cobrir países onde tenhamos comunidades portuguesas. Essa é apenas uma das dimensões da nossa atividade externa, que, particularmente nos tempos que correm, tem de se concentrar em promover a economia portuguesa - com aumento das exportações, captação do investimento estrangeiro e de fluxos turísticos. Além disso, atentos os nossos fatores conjunturais de fragilidade, é decisivo potenciar o diálogo político com parceiros externos que possam ajudar-nos nesta crise. Finalmente, importa saber promover, da forma mais capaz (e, para isso, é preciso gastar algum dinheiro), os nossos esforços macroeconómicos e garantir a preservação da imagem do nosso país pelo mundo. O orçamento do MNE é cerca de 1% do orçamento geral do Estado, mas o feito reprodutivo de uma boa diplomacia pode multiplicar esse valor por muito. Permita-me a "arrogância" de dizer que sei do que estou a falar. Uma diplomacia miserabilista, que pareceria "lógica" tendo em conta o estado o país, seria uma diplomacia inútil.

Anónimo disse...

As tabelas não correspodem à realidade, o que foi feito foi uma actualização dos indíces pelos diferentes paises com base na tabela salarial em Portugal. Podem crer que no caso de técnicos superiores em representações portuguesas espalhadas pelo mundo, dificlmente haverá alguém acima do escalão 30(em 554 dos existentes) e para isso deve ter muitos anos de serviço, mais de 30.

Adelo disse...

Senhor embaixador,
os insidiosos/aveludados salários a que o CM se referiu são os do pessoal dos serviços externos, técnicos, administrativos, auxiliares, etc. (e não os dos diplomatas)Pelo que sabemos, o aveludado sindicato daquele pessoal já reagiu a essa notícia do CM reclamando da sua falta que qualidade... Pena que a associação para que Vexa descontou não emita cabal esclarecimento. Quanto à entidade patronal, estamos há muito conversados...

Anónimo disse...

Creio que o Adelo tem toda a razão.
Como é que o Ministro das Finanças
propõe cortes aos reformados da Função Pública e distribui 61,4
milhões de euros por 9 mil funcionários do seu Ministério,
porque manifestaram elevado padrão de professionalismo! Não é normal que todos os funcionários públicos
exerçam as suas funções do mesmo modo?Receberão também esses milhões de euros?

Anónimo disse...

Teoricamente a matéria relativa a ajudas de custo não é revista desde 1992. Como se pode imaginar o nível de vida e as rendas desses mesmo países variou, o que leva a uma perda de poder de compra da nossa representação. Ora, tendo eu bem presente os valores atribuídos em 2006 e os atuais, através da comunicação social, verifico que os mesmos desceram, muito consideravelmente. O que “não bate certo”, dado que os mesmos não são atualizados desde então, pelo menos deveriam ter sido mantidos. Qual é a explicação???Houve algum corte? Sei que o orçamento retirou em 2013 cerca de 6% e o de 2014 cerca de 4%. Mas face a 2006, denoto, nalguns casos, que a perda é de 30% na representação (exemplo Pequim) o que acaba por ser verba que não é utilizada para representar o pais, mas, e apenas, para custear despesas básicas.
Realço também, e contra a demagogia nacional, que os salários base são, atualmente, e a par com a Grécia os menores de toda a U.E.
A Itália, por exemplo, paga um salário base cinco vezes superior ao nosso, alem do subsídio bastante acima do nosso. Claro que esta situação tem efeitos práticas, dado que “não se fazem omeletes sem ovos”.
Basta conhecer qualquer representação nacional para se verificar que existem inúmeras carências.
Cumprimentos e Agradecimentos pelo excelente Blog

Anónimo disse...

A diferença_Brasil:

https://infogbucket.s3.amazonaws.com/arquivos/01/05/2014/vencimentos-itamaraty.pdf

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...