Ao que me chegou, a UNESCO decidiu aceitar por boas as explicações dadas pelo Estado português na questão da compatibilidade entre a construção da barragem na foz do rio Tua e o estatuto do Alto Douro Vinhateiro como "património mundial". Desta forma, a construção da barragem pode prosseguir.
Aqueles que se opõem à construção da barragem afirmam que não concordam com essa decisão e vão recorrer da mesma, junto das instâncias competentes da organização. Estão no seu legítimo direito.
O que me parece menos curial é que a diplomacia portuguesa, que trabalhou o dossiê o melhor que soube e pôde, correspondendo a instruções do poder político, venha agora a ser acusada, por quantos se opõem à construção da barragem, de "um zelo diplomático que não tem limites".
Essa agora! Então não compete aos servidores públicos do Ministério dos Negócios Estrangeiros executar o que lhes é determinado? O que aconteceria se os diplomatas que tinham o dossiê a seu cargo se tivessem recusado a cumprir as instruções recebidas?
Posso perceber a frustração das pessoas, e respeito os valores afetivos que motivam muitas delas, mas, no meu caso pessoal, não aceito ser criticado por ter cumprido o meu dever. Acho que os opositores à barragem deveriam parar um pouco para entender e respeitar a posição de quem mais não é que um mero agente da administração pública.
10 comentários:
Eu trabalhava na EDP e quando da separação fiquei na REN. Pessoalmente sempre gostei dos lagos criados pelas barragens, existem lagos naturais devido à morfologia do terreno, não vejo porque não poderão os seres humanos alterar a morfologia do terreno. E embora admita limites à construção de barragens considero que muitos desses movimentos usam argumentos falaciosos ou com pouca consistência. Um dos que me irritou foi quando tiveram a lata de dizer que o rio Sabor era o último rio selvagem da Europa, nessa altura pensei logo no Tua e no Corgo que estavam mesmo ali à mão e que não tinham nenhuma barragem. O Douro vinhateiro com os seus lindos socalcos é também obra dos seres humanos, os socalcos não aparecem por si. Ainda bem que desempenhou bem a missão que lhe foi confiada.
Surtout pas trop de zèle.
a) Talleyrand
la esta o sr embaixador a atirar o barro a parede...
O que incomoda é que tudo pareceu um “jogo” para dar “cobertura” ao investimento já feito com gastos mínimos. Se o Sr. Embaixador sabia disso foi mau ter-se exposto.
E não há fundamentalismos: A barragem do Côa devia ter sido construída, porque a história podia ter sido preservada e, no caso do Tua, devia ser mantido o trajeto ferroviário com a construção de outro(s) escalão. Claro que “mexia” um bocado com os “income” da empresa, mas devia ter sido feito um (o necessário) esforço.
O Duriense
Bem, bem... essa coisa do "eu só cumpria ordens" também dá para justificar coisas... injustificáveis.
Tb foi a Xangai????
A minha esperança não reside na humanidade, essa está possuída por uma tremenda cegueira chamada capital, a minha esperança reside na Natureza, essa, a seu tempo, saberá reequilibrar todo o mal que temos feito.
Obviamente que a maioria se está nas tintas para o ecosistema, e é verdadeiramente incrível como não vêm a insustentabilidade deste falso progresso. Quase ridículo diria, ou melhor, uma infantilidade ... mais uma barragem aqui, outra acolá, que linda brincadeira arranjaram para encher os bolsos ...
Esta barragem, particularmente esta, vai-nos sair muito cara.
Os senhores sabem do que estou a falar, até já passou na tv.
Aristides de Sousa Mendes à época optou por recusar as instruções recebidas.
Aliás, se a memória não me falha, aqui há tempos contava-nos uma historieta em que um outro seu colega não tinha cumprido instruções, ou as recusava, o que se veio a constatar ser correcto e Você achou bem.
Poderia perceber que, no caso da futuro barragem do Tua, optasse por cumprir instruções, o que não se compreende é esta justificação, que não é nova, da sua parte, neste seu Blogue, do cumprimento das tais instruções. Permanecer em silência, neste seu Blogue, era o mínimo que deveria ter feito. Assim, ao voltar a abordar esta questão, fica-se com a impressão de que ou era e é a favor da construção da barragem, ou, não sendo, tem a consciência pouco tranquila por ter cumprido as instruções.
É isto que sobressai deste seu Post.
Quanto à construção da barragem, é outra questão.
Caro Anónimo das 10.34: comparar o caso de ASM e dos milhares de refugiados em risco de vida com o caso do Tua é de uma desproporção sem sentido. O caso do colega que fez ver, com veemência, a Lisboa que, por razões de natureza protocolar, era ridículo Portugal vir a assumir uma determinada atitude é também um caso diferente.
As razões do caso do Tua são questões de natureza técnica, a derimir por especialistas. Perceba que os diplomatas se limitam a carrear e a defender os argumentos que lhes são apresentados pelos Estados que representam. No meu caso, fi-lo no caso do Tua como o fiz em negociações sobre têxteis, sobre quotas de produção de leite, sobre o número de decibéis admitido nos motores das motocicletas, sobre certificação de diplomas, sobre a obtenção de "slots" para a TAP e centenas e centenas de outros dossiês de que me incumbiram ao longo de décadas. Não tenho o menor peso na consciência por cumprir as ordens legítimas que recebo, nem tenho de me dar ao luxo de ter opinião pessoal sobre as questões de cuja resolução me encarregam. E note que tive na minha carreira 21 ministros dos Negócios Estrangeiros...
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