segunda-feira, março 26, 2012

O adido

MNE, há mais de 30 anos. 

O diretor-geral, à secretária, de óculos na ponta do nariz, lia lentamente a informação de serviço que o adido de embaixada tinha preparado. De pé, o chefe de repartição e o jovem autor do texto mantinham-se num reverente silêncio, esperando o veredito.

Acabada a leitura, o diretor-geral levantou os olhos, deu um leve suspiro, olhou para o adido e disse: "Deixe ficar o papel", com uma implícita indicação de que o funcionário poderia retirar-se. 

Quando ficou a sós com o chefe de repartição, este último, pressentindo algum desagrado no modo como o seu superior tinha acolhido o texto, perguntou: "Não gostou da informação? Posso mandar refazê-la...".

O diretor-geral não respondeu logo. Levantou-se, caminhou para a janela e ficou a ver a ponte sobre o Tejo. Segundos depois, voltou-se, encarou o chefe de repartição, deu um suspiro ainda mais longo e inquiriu: "Você sabe quando é que este tipo entrou na carreira?". 

- Julgo que foi no concurso de há cerca de dois anos. Porquê?

- Por nada. Ele não tem culpa nenhuma, é apenas um incompetente que não sabe escrever português e que vai demorar alguns anos até se tornar num funcionário sofrível. Até lá, quem sofre é o Estado. O que eu gostava de saber é quem foram os cretinos dos membros do júri de admissão que o não chumbaram...

17 comentários:

patricio branco disse...

há de facto que averiguar as responsabilidades até ao fim, não se ficar pela superficie. Bom e sensato juizo o do superior

Anónimo disse...

A propósito de competências de Adidos tivemos um na Embaixada de Paris, há já muitos anos, não quero recordar o nome, que era mais funcionário do seu Partido do que da Embaixada e confundia tudo. Do fundo do esgotamento da minha paciência disse-lhe um dia o quanto Portugal perdia tê-lo ali na Embaixada quando as suas competências a arrancar batata seriam excelentes e quanto não contribuiriam para baixar a importação daquele tubérculo...
José Barros

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro José Barros: A categoria de "adidos de embaixada" é aquela a que acedem os diplomatas "de carreira" que entram por concurso público para o MNE. Os adidos ficam nessa categoria dois anos, após o que são (ou não) "confirmados". Se o forem, ascendem à categoria de "terceiros-secretários". Quando partem para os postos no exterior já devem pertencer a essa categoria. Assim, e na realidade, nunca há "adidos de embaixada" ... nas embaixadas.

Outra coisa diferente, mas objeto de regular confusão com os primeiros, são os adidos (ou conselheiros) técnicos, colocados nos postos exteriores. São funcionários de outra natureza, não pertencentes à carreira diplomática, e exercem funções específicas: imprensa, cultura, área social, científica, etc. Tanto podem ser contratados para exercer funções num único posto (segundo a legislação atual com um limite temporal mais preciso) como podem rodar entre embaixadas. Têm um estatuto diplomático, perante as autoridades do país ondem prestam serviço, em tudo idêntico ao dos diplomatas "de carreira". Um caso específico deste tipo de "adidos" são os de defesa, oficiais designados pelas Forças Armadas para prestar serviço junto de certas embaixadas.

Anónimo disse...

Parece que sei quem é. Ainda anda por lá, não é, Senhor Embaixador

Anónimo disse...

Ainda esta semana o adido militar em Paris apareceu referido várias vezes em versões "internéticas" de jornais nacionais, a propósito do abandono de campas de soldados nossos aí por essas paragens.

Também me pergunto se semelhante "cargo" ainda se justifica...

Anónimo disse...

Onde pára o homem entretanto? CM ou onde?
Quanto ao português, veja-se a forma como muitos políticos hoje falam! E no topo das suas carreiras políticas. O homem estava, pelos vistos, actualizado escrevendo como muitos actualmente falam!
Rilvas

Mônica disse...

Senhor embaixador
Eu entendi o que é adido.
Mas nao é só nas embaixadas que existe pessoas que trabalham bem e que trabalham mal.
Em outras profissões também, mas com jeitinho eles vao adquirindo praticas.
com carinho e amizade de Monica

Anónimo disse...

Obrigado Sr. Embaixador por corrigir a categoria da pessoa a quem me quis referir. De facto não era Adido não. Seria um secretário de uma qualquer categoria. A verdade é que não recebia só instruções da sua hierarquia na Embaixada. Aliás, quando expusemos ao novo Embaixador aquela falta de isenção, compreendemos que o récem chegado diplomata já estava informado daquelas práticas repreensiveis e prometeu-nos que não era um problema insoluvel... Mas o homem ainda por lá continuou muito tempo com os apoios de Lisboa!
José Barros.

Anónimo disse...

E um "Adidozinho de Imprensa" em Paris? Que tal? O que faria o rapaz? Vai haver um?

Anónimo disse...

Meu Caro Emabixador,

AI....!!!!....

F. Crabtree

Armando Pires disse...

Se fosse só nas embaixadas que um ou outro incompetente prestasse serviço, estávamos nós todos bem.
O mal é a incompetência que, e cada vez mais, campeia por aí, em tudo o que é organismo do estado e afins.
Até parece que tudo ou quase tudo, está em autogestão, cada um faz o que quer, e ainda sobra tempo.
Em suma, é um regabofe.

Anónimo disse...

Gostaria de saber se os candidatos a diplomatas quando fazem o concurso são sujeitos a testes psicotécnicos e desde quando. A actividade social de um agente diplomático, requer e desde sempre uma certa "endurance" psicológica. Se não fazem será por isso que há tantos incompetentes' Eu não sei.

Santiago Macias disse...

Fico curioso. Quanto ao júri, quero eu dizer.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Anónimo das 20:07 : contrariamente ao que pensa, não há muitos incompetentes na carreira diplomática portuguesa. Por vezes, no rigoroso e exigente concurso que tem de se fazer para entrar (de cujo júri fazem parte diplomatas e professores universitários convidados de várias especialidades), acontecem falhas, como a que referi aqui. E, repito, destaquei aqui a surpresa irada do DG porque se tratou de um caso excecional.

Anónimo disse...

Enquanto forem escolhidos pelo seu pedigree, ou por melhor colarem cartazes enqunto "jotinhas", nada mudará.
Basta ver os apelidos dos aprovados no ultimo concurso

Maria José Ribeiro disse...

Quanto ao último comentário de 9 de Maio, respondo que nem jotinha é nem apelido sonante tem, um que entrou!! Esforçou-se, estudou, marrou, mas acima de tudo mostrou ter algum valor, e que assim sejam todos os concursos, estaria bem melhor este País.

jj.amarante disse...

Passados 6 anos comentei hoje a imagem deste post no meu blogue.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...