É muito interessante acompanhar o modo como a França de hoje, 50 anos depois da independência da Argélia, reflete sobre esse passado relativamente recente, feito de uma guerra sangrenta e de grandes sacrifícios humanos, de parte a parte.
A guerra da Argélia mudou a França e colocou-a, a partir de então, sob uma herança histórica muito particular. Pode dizer-se que, durante muitos anos, houve por aqui como que um esforço, nunca abertamente assumido, de afastar o país desse tempo, talvez numa consciência subliminar de que a sua evocação arriscaria acordar velhos fantasmas. Curiosamente, terá sido o agravamento das tensões político-religiosas dentro da própria Argélia, a partir dos anos 90, que provocou, na França, o início de um surto de reflexão sobre aquela que foi a mais traumática das independências dos territórios sob sua administração. Dezenas de livros e muitos filmes passaram a trazer a um melhor conhecimento pelas novas gerações desse período convulso. Ouvindo testemunhos do período de confrontação, de ambos os lados do Mediterrâneo, fica uma clara sensação de que ainda há feridas bem abertas que, quem sabe?, talvez só possam ter a ganhar com este exorcismo de memória. É que a vida também prova que meter o passado sob o tapete só aumenta o risco de, um dia, nele tropeçarmos.
5 comentários:
FRancisco
São histórias que deram belos livros, mas que em todos els mostram o sofrimento
com amizade e carinho de MOnica
"Meter o passado sob o tapete só aumenta o risco de, um dia, nele tropeçarmos." In FSC
Dá que pensar...Mas;
"Meter o passado sob o tapete só aumenta o risco de, um dia, nele tropeçarmos." In FSC
Dá que pensar...Mas;
foi uma descolonização dolorosa e dificil.A argelia era uma joia colonial e centenas de milhares de franceses europeus lá se tinham instalado, há gerações ou mais recentemente. Era como que uma continuação de frança do outro lado do mar.
o regresso de milhares milhares de pieds-noirs à metropole foi um fenomeno parecido ao regresso 13 anos depois dos portugueses fixados em angola.
oas, fln, governo provisório no exilio (como o da giné em conakri), militares franceses defendendo a continuação do dominio, o enfant terrible general massu e de gaulle que por fim conduziu o processo até à independencia.
A questão da Argélia ainda levanta muitas paixões em França. Por exemplo, o termo pejorativo pied-noir nunca desapareceu do vocabulário, e usá-lo numa conversa pode ser o suficiente para provocar alguns silêncios embaraçosos.
O cinema português fez poucos filmes sobre a guerra colonial. Quando se trata desse passado Portugal ainda mete a cabeça na areia. Há muito pouca memória. Nunca se fala dos crimes de guerra, nunca se tentou julgar os crimes da polícia política. Há um acordo tácito para deixar esquecer.
DL
Enviar um comentário