Exatamente há um ano, num contexto político bem diferente do atual, publiquei neste blogue o post "Diplomacia democrática" que agora vou repetir, porque me parece não ter perdido a menor atualidade:
"É nestes tempos em que o nome de
Portugal e da situação político-económica portuguesa anda nas bocas do
mundo que será talvez oportuno recordar as obrigações de uma diplomacia
democrática.
Tenho para mim que uma das menos edificantes e mais indignas atitudes que um diplomata pode assumir, perante interlocutores estrangeiros, é enveredar pela crítica às autoridades do país que representa. Mas, devo dizer, torna-se igualmente triste ouvi-los criticar, em público, as forças da oposição que, com toda a legitimidade democrática, são adversários dos poderes instituídos.
Ambas as atitudes relevam, pura e
simplesmente, de uma grave falta de sentido profissional. O
interlocutor estrangeiro respeita o diplomata que, independentemente das
suas ideias pessoais, sabe assumir uma atitude equilibrada na análise
da situação política interna existente no seu país, que é capaz de
expor, com rigor, equilíbrio e equanimidade, os sucessos ou insucessos
do Estado que lhe cabe representar, que defende com empenhamento os
interesses deste mas não camufla conflitualidades ou dificuldades
existentes no seu mundo político interno, que não edulcora, ao absurdo, o
que de negativo possa existir na sociedade que lhe cabe representar.
Já me confrontei, no meu
percurso profissional, com colegas estrangeiros de todo o tipo. Convivi
com os cegos militantes, para quem os respetivos dirigentes são o máximo
existente à face da terra, os quais, no seu parecer sectário, são
obrigados a sofrer os custos de uma oposição cuja ação quase ilegitimam,
apenas porque esta não cai no seu goto pessoal. Conheci os mal-dizentes
crónicos, que remoem em público, dia-após-dia, críticas ou ironias,
quando as autoridades eleitas não são da sua cor política, acusando-as
de todos os malefícios pátrios, suspirando por uma reviravolta que ponha
os do "outro lado" no poder. Num registo mais corporativo, dei às vezes
de caras com aqueles que acham que a política externa do seu país é
apenas um lamentável desastre, que estão condenados a representar
"malgré eux", atitude muitas vezes mobilizada por ódios acumulados ou
por queixas profissionais.
Assisti a muitas conversas com todo este tipo de gente e - garanto! - sempre pude observar a pena que a sua atitude provoca nos interlocutores, em especial em colegas de países onde a diplomacia democrática se pratica e se vive, com naturalidade e sentido de Estado. Onde esses colegas procuram exibir, de forma mais ou menos espalhafatosa, o que pretendem ser uma hiperfranqueza crítica - face a instituições, forças políticas ou figuras do quadro democrático do seu país -, os estrangeiros que os ouvem apenas nisso vêm deslealdade e ausência de um espírito profissional. Às vezes sorriem, mas, por detrás desse sorriso, está sempre um esgar de desprezo.
A diplomacia democrática é o estado supremo do profissionalismo em matéria de representação externa. Vale a pena recordar isto, nos dias que correm."
Assisti a muitas conversas com todo este tipo de gente e - garanto! - sempre pude observar a pena que a sua atitude provoca nos interlocutores, em especial em colegas de países onde a diplomacia democrática se pratica e se vive, com naturalidade e sentido de Estado. Onde esses colegas procuram exibir, de forma mais ou menos espalhafatosa, o que pretendem ser uma hiperfranqueza crítica - face a instituições, forças políticas ou figuras do quadro democrático do seu país -, os estrangeiros que os ouvem apenas nisso vêm deslealdade e ausência de um espírito profissional. Às vezes sorriem, mas, por detrás desse sorriso, está sempre um esgar de desprezo.
A diplomacia democrática é o estado supremo do profissionalismo em matéria de representação externa. Vale a pena recordar isto, nos dias que correm."
14 comentários:
Tenho uma foto do 4º Pelotão da 5ª Companhia de Instrução, feita em Mafra no 2º trimestre de 1973, da qual ambos fazemos parte. Não sei se o meu Caro Amigo a tem. Digitalizei-a e possa remetê-la para um endereço de e-mail. Também estive, a seguir, na EPAM, em Secretariado (mais tarde na especialidade de Testador Psicotécnico - no CEPE). O Seixas, o Jaime Nogueira Pinto e, entre outros o Cavaleiro Brandão eram de A. Psicológica... (não foi minha intenção dar exemplos de natureza política - LOL). Um abraço do Silva Rocha
Sendo leigo no assunto, concordo exatamente com todos os conceitos sobre diplomacia, expressos pelo Sr. Embaixador.
Ao ler, ia pensando que um diplomata não podia agir de outro modo, caso contrária não seria digno de tal missão.
Surge-me, no entanto, a dúvida, da referência no post, a diplomacia democrática.
Um DIPLOMATA não o é independentemente do regime?
Para que não haja dúvidas sou democrata, enquanto governo da maioria universal dos eleitores (atualmente não acontece bem isto uma vez que os votantes e as maiorias que se formam são uma minoria relativamente ao universo dos eleitores. Acontece em tudo o que parece democracia: sindicatos, ordens associações etc. Bem, mas será melhor isto que outra coisa qualquer diferente da que eu queria.)
Sr Francisco
O bacana e o que o faz diferente é ter em mente o escutar todos mesmo, ate eu, uma pessoa insignificante como eu que nao entende e nem le o que se passa em Portugal, mas que tem um carinho pelo senhor embaixador sem motivo para ter. somente para ler e contar para os senhor que li.
sou sua fã.
com amizade e carinho de monica
Caro embaixador, li 2 parafrafos do seu post e vi longo onde queria chegar e não li mais!
PAra um funcionário publico o que interessa é que o Estado não caia agora governos podem ser uns quaiqueres que vai dar ao mesmo!
Hoje ouvi na TV que o Estado não está a pagar a Segurança Social dos seus funcionários públicos há já uns anitos. Você não deve saber , mas se fosse uma empresa privada o gerente era processado criminalmente se retivesse esse dinheiro para além de o ter que pagar com juros altissimos.
Por lá passaram 2 governos, contando com o actual que faz a mesma coisa, por isso , politica é uma coisa mas a pratica é uma outra coisa bem diferente!
POrtugal sempre a fundo e ao fundo !
OGman
Pois não sei. Mas parece-me que um diplomata é sim um executor das instruções recebidas pelo seu Governo. O diplomata não sei se é um político. Deve no entanto informar o melhor que souber o seu Governo para que as instruções recebidas sejam exequiveis. E finalmente se assim não for pedir a saída da carreira.
Seixas da Costa,
Mas que Post este! Onde é que que quis chegar com toda esta treta? Auto-promover-se, ou explicar o quê?
Ogman até tem a sua razão sobre este coisa do Estado.
Diplomacia Democrática (já tinhamos a Económica, como se não bastasse! Não lembra ao Diabo! Fique-se pela Diplomacia e deixe cá a Democracia para outros. Portugal em matéria de Direitos ainda tem muito a aprender, sobretudo no que respeita à postura do Estado para com os cidadãos. Mas que bizarrismo de Post! Já não há tema? Jesus senhores!
Caro Anónimo das 23:36: tem o direito de pensar o que quiser deste post, que já tem um ano de existência. Este blogue não recolhe apenas laudas ao seu autor.
Caro Silva Rocha: antes do mais, aqui vai um forte abraço para ti. Há quanto tempo! Será uma foto no interior da camarata em que estamos (julgo que) três valentes soldados-cadetes creio que a lerem qualquer coisa? Essa é, aliás, a minha única fotografia dos tempos militares...
Quanto à EPAM, eu fazia parte desse grupo e ainda hoje sou bom amigo das pessoas que citas...
Para um contacto por mail podes utilizar fseixasdacosta@gmail.com.
Um forte abraço
É claro que este post tem água no bico. E alguns comentadores até perceberam muito bem o que é que está em jogo...
Seria caso para dizer que versa sobre a "diplomacia" da diplomacia. Mas tudo bem, não deixa de ser uma postura interessante.
Num blog, sito algures na Tailândia, retirei uma lista de perguntas feitas ao MNE que achei interessante divulgar aqui no blog do sr embaixador caso ele autorize, é claro !
DA TAILÂNDIA COM AMOR E HUMOR
http://maquiavelencias.blogspot.com/2012/03/notas-verbais-faz-15-perguntas-paulo.html
De todas as perguntas, achei engraçada a nº 3 :
"3-Vou questioná-lo se vai averiguar e entregar à Polícia Judiciária a "roubalheira" infame que foi levada a cabo na Embaixada de Portugal, em Banguecoque, onde desapareceram centenas de milhares de euros recebidos do arrendamento de uma parcela de terreno a um hotel de 5 estrelas. Houve abuso de poder de certos embaixadores que gastaram, dinheiros que não eram deles, à tripa forra."
OGman
Caro Ogman,
Bem visto! Existe uma coisa, lá pelo MNE, designada de Inspecção Diplomática e Consular que, ao que se sabe, actualmente vive momentos de...grande contenção orçamental. Deste modo, pergunta-se: haverá dinheiro para inspecções? Apesar da bom vontade de quem foi, recentemente, nomeado (bem mais interessado na sua acção do que o o seu antecessor)?
Respondo ao anónimo que se dirige a Ogman,
No MNE, mesmo com contenções, há sempre dinheiro para inspecções diplomáticas mas só que estas funcionam para a arraia-miúda e nunca para os colegas do topo. Existe a irmandade do encobrimento. E mais não escrevo.
Caro Embaixador, nada tenho a dizer de concreto sobre este post, a não ser que mereceria ser impresso e distribuído a cada novo adido. Quero sim expressar a minha redobrada admiração pelo seu espírito democrático, que justifica a sua paciência acima do comum dos mortais, só assim se explicando porque se mantêm no seu blog alguns posts perfeitamente descabidos e mal educados. Blog meu não admitiria determinadas atitudes de gente "refugiada" no estatuto de anonimato. Mas também é verdade que não pertenço à geração que lutou e alcançou a liberdade de expressão para todos, que alguns fazem questão de utilizar para partilhar frustrações e azedumes. Só lhes fica mal. E quem gosta de ler o seu blog não precisa deste tipo de "comentadores". Abraço alpino. João de Deus.
Cara João de Deus. Muito obrigado pelas suas palavras. Como terá reparado, deixo publicados certos comentários porque entendo que eles são um barómetro incomum daquilo que é um certo país que por aí anda. Não obstante esta atitude poder ser lida como algo masoquista, acho que não devo privar os leitores atentos dessas curiosas posições. Forte abraço
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