A singular iniciativa do município de Santa Comba de lançar a "marca Salazar" constitui a prova provada de que estes nossos dias de sobrevida em tempos de "troika", para além de refletirem um estado objetivo de pobreza material do país, revelam a existência de um imenso défice de pobreza de espírito, para a qual nenhum empréstimo de ética ou vergonha está por aí disponível.
32 comentários:
Bem na "mouche" sr. Embaixador... como sempre. Sem mais comentários...
Senhor Embaixador: é, de facto, um duplo défice.
E, com franqueza, já nem sei qual será o mais preocupante mas, sempre sou tentado a dizer que sem eliminar o relativo ao espírito o outro também não vai desaperecer.
"Os homens mudam pouco e então os portugueses quase nada."
Pessoalmente vivi intensamente aquela lufada de ar fresco que o 25 de abril nos trouxe, e a liberdade continua a ser o que temos de mais importante. Com a alimentação, habitação e aquelas coisas que o Sérgio nos recorda, claro.
Mas há "liberdades" que a própria liberdade não deveria tolerar!
A proposito, como se chamava o partido, que não recordo, em que os salazaristas, marcelistas, gente da Pide e da Legiao se organizou em total liberdade logo nos dias que se seguiram ao 25 de Abril?
José Barros
O problema tem grande relevância no presente mas a principal origem residirá no défice intelectual e ético de muita da nossa classe de dirigentes que não tem sabido conduzir os negócios do Estado de forma abrangente e todos os dias dá exemplos negativos. A ignorância é generalizada.
Quando os partidos A, B ou C vão para o Governo continuam a agir de acordo com as suas lógicas partidarizadas e não como Governo do País,por exemplo.O respeito pela "coisa pública" é muito relativo. A justiça é uma caricatura triste assente em privilégios.
A nova geração de políticos não consegue impor-se e construiu-se um regime assente na inconsequência e irresponsabilidade. Assim não vamos a lado nenhum apesar desta caracterização não ser apanágio exclusivo da realidade portuguesa.
Não quer isto dizer que Portugal não tenha evoluído muito em todos os aspectos nos últimos 50 anos. Modernizou-se e evoluiu, mas o desperdício de oportunidades foi muito e o modelo actual é insuportável. Todos os dias me questiono sobre quais as perspectivas de mudança, recusando dar resposta favorável aos Amigos que perguntam o que é que ainda cá estou a fazer?
Pois!!! É o problema da falta de capital intelectual endémico existente em Portugal desde sempre,o qual agora se sente mais agudo. As crises profundas fazem disto. Ainda não sei se temos condições para existirmos como um Estado, mas a crise melhor do que eu o dirá.
Lucidez!
Um jovem diplomata português, em diálogo com um colega mais velho:
- Francamente, senhor embaixador, devo confessar que não percebo o que correu mal na nossa história.
Como é possível que nós, um povo que descende das gerações de portugueses
-que "deram novos mundos ao mundo",
- que criaram o Brasil,
- que viajaram pela África e pela Índia,
- que foram até ao Japão e a lugares bem mais longínquos,
- que deixaram uma língua e traços de cultura que ainda hoje
sobrevivem e são lembrados com admiração,
como é possível que hoje sejamos o mais pobre país da Europa ocidental?
O embaixador sorriu:
- Meu caro, você está muito enganado. Nós não descendemos dessa gente aventureira, que teve a audácia e a coragem de partir pelo mundo, nas caravelas, que fez uma obra notável, de rasgo e ambição.
- Não descendemos? - reagiu, perplexo, o jovem diplomata - Então de quem descendemos nós?
- Nós descendemos dos que ficaram cá ...
Sinceramente nunca vi tanto "medo" de uma pessoa que já morreu há tantos anos.
Medo de quê? Qual o problema de lançar uma marca Salazar? E se fosse uma marca Alvaro Cunhal? Também correria tanta tinta?
Deixemos o Professor Salazar repousar em paz e que os nossos politicos se inspirem em algumas coisas boas que ele fez, e que não foram tão poucas como isso.
Qual dos nossos politicos poderá dizer que entrou pobre para o governo e saiu também pobre?
Caro Anónimo das 13:23: eu não quero "copyrights", mas acho que devia consultar isto: http://duas-ou-tres.blogspot.fr/2011/02/navegacoes.html
Caro Tomaz Mello Breyner: quer que lhe fale da PIDE, das torturas, de centenas de presos políticos, do Tarrafal, de décadas de censura e de outras coisas similares? Podemos ir por aí, se quiser.
Este revivalismo de Salazar começa a ser cada vez mais recorrente. Interessante analisar o porquê de se repescar a figura. Há cada vez mais gente com saudades do Ditador. Mas, julgo que a coisa não oferece perigo. É um pouco como as gripes e constipações, vêm a vão.
António Santa Comba Dão
Preocupa-me o que poderá estar por detrás desta situação.
O fenomenológico é pavoroso. Qual será a dimensão do ontológico?
Atenção aos sinais.
Guilherme.
"O mundo parece ter perdido o hábito de pensar e a culpa talvez caiba a uma acumulação de sofrimentos. Convém reeducar este mundo, aliás afogado em intelectualismo."
Inconcebível...
Subscrevo o post
“A nossa é sempre uma perspectiva objectiva e histórica, porque os juízos de valor não têm de ser feitos pela autarquia, têm de ser as pessoas, os historiadores, os investigadores [a fazê-los]. Nós temos apenas de demonstrar a nossa convicção de que o que estamos a fazer é útil para o concelho e para a região. E se temos um vinho “Memórias de Salazar” é porque sentimos que as pessoas procuram essa ligação quando nos visitam”, disse João Lourenço, Presidente da Câmara de Santa Comba Dão.
A proposito desta declaraçao dizia uma amigo meu :
"Two things are infinite: the universe and human stupidity; and I'm not sure about the the universe."
Nao, nao o meu amigo nao é o Albert Einstein...apenas me recordou esta frase de AE.
So espero que esta idéia de .... nao chegue à Austria, ou qualquer dia la teremos que acompanhar aqueles escalopes a cair do prato com cerveja "Adolfo" .
Derramar SAL da AZAR !
E o nome SAL-AZAR, nao dara ?
Estudei varios tipos de marketing durante os meus anos de formação, mas garanto-lhe senhor embaixador que o marketing revivalista nao conhecia !
Ó Senhor Embaixador, esse vinho de Santa Comba deve ser uma boa zurrapa...
a) Feliciano da Mata
Não sei se todos deram conta que o “visado” fez aqui uns comentários. Como eu não tinha comentários ao post… lembrei-me de experimentar…
A intenção é só uma: a de se pensar porque, acho eu, a questão merece ser pensada.
Este link é dedicado a VeXa, o comentador, Thomaz Mello:
http://henricartoon.blogs.sapo.pt/485676.html
Joaquim Montes (Plebe)
Nos dias de hoje, tenho a certeza que a marca será um sucesso. E entende-se. Trata-se de uma Senhor que deixa muitas saudades nos portugueses. Gente séria é coisa que hoje é muito dificil de se encontrar...
Já agora Senhor Embaixador, aposto que não vê nada de grave que o seu querido Che Guevara apareça em tantas t-shirts, bandeiras, capas de discos etc etc Certo?
"Caro Tomaz Mello Breyner: quer que lhe fale da PIDE, das torturas, de centenas de presos políticos, do Tarrafal, de décadas de censura e de outras coisas similares? Podemos ir por aí, se quiser."
Senhor Embaixador
Essas foram as parte más do regime do Professor Salazar. Podemos também ir pelas partes boas que foram algumas, mas fiquemos mesmo por aqui.
Abraço
Salazar marcou de forma indelével a cabeça de muita gente.
Vamos dar o merecido valor a tais cabeças pensantes, sempre que passar por Santa Comba Dão, não pare, não escute e não olhe, siga sempre em frente, pois há mais sítios para fazer compras e gastar o seu dinheiro.
Alguém que dá um nome destes "salazar" a um vinho, só pode mesmo ser um génio. Tanto poder criativo bem merecia um outro estatuto.
Salazar marcou de forma indelével a cabeça de muita gente.
Vamos dar o merecido valor a tais cabeças pensantes, sempre que passar por Santa Comba Dão, não pare, não escute e não olhe, siga sempre em frente, pois há mais sítios para fazer compras e gastar o seu dinheiro.
Alguém que dá um nome destes "salazar" a um vinho, só pode mesmo ser um génio. Tanto poder criativo bem merecia um outro estatuto.
o assunto é mais complexo do que parece, um bom sociólogo que o explique.´
Ps. não percebo, certamente falta minha, o quantitativo défice de pobreza, pois lendo simetricamente temos = abundancia (superavit)de riqueza de espirito
A velha Senhora ainda se me morre de apoplexia. Com essa da 'marca Salazar', ficou vermelha de raiva, ditou sonetilho entre palavrões e pediu-me que mandasse também 'o poema do nosso Pessoa sobre o fdp':
1.
do tirano salazar
diz pessoa quanto basta
porra sou iconoclasta
não me venham chatear
cum reles vulgar alvar
ditador de tão má casta
que o país inda se arrasta
depois de ele o torturar
dessa casta é a zurrapa
que ora nos querem propor?
pois que a beba e mal lhe faça
quem se agacha quem se alapa
e quem de idiota e estupor
inventou essa desgraça.
2.
Fernando Pessoa
António de Oliveira Salazar
Antonio de Oliveira Salazar.
Trez nomes em sequencia regular...
Antonio é Antonio.
Oliveira é uma arvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.
-------------------------------
Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A agua dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.
Oh, c'os diabos!
Parece que já choveu...
------------------------------
Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...
Bebe a verdade
E a liberdade,
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.
Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné,
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé,
Mas ninguém sabe porquê.
Mas, enfim, é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé:
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.
Proponho para rótulo da garrafa da zurrapa a poesia do Pessoa que a Velha Senhora amalucada aqui publicou!
Será mais diversificada a clientela...
xg
Quem se lembrou desta deveria ter ido ao Funchal depois que aquele Senhor nos castigou... Não deixou fazer mais 100 metros no molhe do Funchal, porque não precisavamos e não mereciamos. Foi-se o movimento diário de barcos para Las Palmas na Grã Canária... Deixo só [...] porque é melhor não lembrar tristezas. Bem basta a "crise" e os seus remédios.
"Que queiram deitar-me a terra, compreendo, mas irrito-me que me tomem por tolo."
Dêmos à nação otimismo, alegria, coragem, fé nos seus destinos; retemperemos a sua alma forte ao calor dos grandes ideais e tomemos como nosso lema esta certeza inabalável: Portugal pode ser, se nós quisermos, uma grande e próspera nação.
O comentador das 17:16 de ontem esqueceu, por distração estou em crer, não só as aspas devidas a uma citação como também o nome do autor.
xg
Tem razão. Também tentei escrever a citação, com o novo AO e não sei se consegui. De qualquer modo entende-se bem do que se trata.
O argumento estafado de que Salazar entrou pobre e saiu também pobre é, em si próprio, duma pobreza franciscana.
O que é que isso prova? Se calhar, só não soube gerir as suas poupanças.
De qualquer forma, como saiu já morto, pouca diferença lhe fez à reforma...
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