sábado, fevereiro 04, 2012

Gioconda

Há dias, à saída de uma reunião, felicitava o meu colega espanhol por ter sido descoberta, nos fundos do museu do Prado, em Madrid, uma cópia da Gioconda, de Leonardo da Vinci, que se terá provado ser anterior à que está no museu do Louvre e que tantos milhões de visitantes tem atraído a Paris. 

O Carlos Bastarreche logo me retorquiu: "Cópia? A cópia é "aquilo" que está no Louvre. Para ver a Gioconda tem de se ir a Madrid!".

Para além da graça em si, devo dizer que sempre invejei, nos espanhóis, o modo desempoeirado e audacioso de assumir a sua grandeza, de afirmar, quiçá por vezes com alguma sobranceria, o que entendem ser o lugar do país no mundo. Muita da capacidade da Espanha de ultrapassar as suas divisões, de superar o peso de alguns das suas tragédias históricas, também deriva dessa atitude de nunca ter deixado de se olhar como o grande país que é, de conseguir transformar em força a sua fantástica diversidade cultural e humana e de ter tido a coragem de, em certos momentos, saber assumir algumas importantes ruturas.

Já fui criticado, aqui neste blogue, pelo facto de não me eximir a afirmar a minha admiração por Espanha. Resta-me acrescentar que, para que continue a poder manifestá-la, é condição sine qua non que Espanha e Portugal, reforçando embora a sua interdependência, continuem a ser duas entidades políticas bem distintas uma da outra, única forma que concebo para que possam continuar a alimentar entre si, de forma bem saudável e muito particular, "una cultura de vecindad".

16 comentários:

Daniel Ribeiro disse...

Senhor Embaixador,
Estranho que nos aponte o (que parece) óbvio! Vindo de si sabemos que não é um acaso, como tão pouco o é o sorriso de Gioconda.
fiquei curioso do pensamento que se esconde por traz do quadro, perdão, do post... Cumprimentos

Helena Sacadura Cabral disse...

Curioso comentário de Daniel Ribeiro, a que certamente o nosso Embaixador vai responder que a realidade é bem mais simples do que parece...
É ou não Senhor Embaixador?!

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Dra. Helena Sacadura Cabral: quando nos tiram as palavras da boca, ficamos desarmados, como agora me aconteceu.

Anónimo disse...

O quadro do Prado é muito mais bonito do que o do Louvre. Fico contente pela descoberta.

Os espanhóis têm sorte. Esta semana, também receberam um tesouro de larguíssimos milhares de moedas de prata, resgatadas em mar português.

patricio branco disse...

os espanhois sabem o que são e o que valem. têm um forte orgulho nacional e querem continuar a têr um lugar visivel no mundo actual. Foram uma potencia mundial durante seculos e continuam a ser uma potencia regional.Mesmo militarmente.
seja no dominio económico (tanto insistiram que acabaram por participar na reunião do g 20 de 2009), tecnico ou cultural, são grandes e é de admirar o ponto onde chegaram com a sua organização e trabalho.
Hoje creio que são o primeiro investidor em portugal, o primeiro ou 2º importador, os turistas espanhois são os primeiros em portugal,metade do que comemos é espanhol, etc.
A sua organização em autonomias é modelar, os seus institutos cervantes em dezenas de paises (só no brasil uns 12 ou 13)muito dizem sobre a sua politica de expansão da lingua. São talvez o 1º investidor europeu no brasil.
só da literatura têm 5 ou 6 nobeis, dedicam uma boa parte do orçamento à investigação cientifica, têm hospitais universitários de referencia em transplantes de orgaos, oncologia, oftalmologia, etc.
mas basta, uma coisa é reconhecer lhes grandeza e outras qualidades, mas ir ao ponto de saramago de se dizer que portugal devia ser integrado na espanha (tornando-se uma monarquia, portanto) isso não, somos ibericos e basta.

Anónimo disse...

As coisas são simples... mas não assim tão simples!
Que coisa estranha me passou pela cabeça: A exma Sra Helena Sacadura Cabral a "comandar" o Sr. Embaixador" (doidices minhas).

Estamos a pensar na Ibéria?

Portugalredecouvertes disse...

Temos sorte de ser possível aos portugueses "alimentarem-se" da cultura do país vizinho porque percebemos a língua espanhola sem termos de estudar muito!Acho que no outro sentido, é mais difícil!

Mas é também verdade que eles apreciam vir cá, devemos recebê-los bem, como povo acolhedor que somos.
Em Guimarães já foi o espetáculo de rua dos catalães que inaugurou a festa,
agora que até nos tiram os desfiles do Entrudo, melhor será habituarmo-nos ao sapateado ou a alguma Festa Brava do país ao lado,
eu cá por mim tenho aqui por perto as sevilhanas, que até acho que têm o seu encanto!

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Anónimo das 10:28
Comandar o meu Embaixador?! Quando muito, seria comandada por ele. Com gosto, diga-se, nem sendo necessário explicar porquê.
Mas há uma doidice do Anónimo, que tem certa graça- é que, se nas minha veias não corre apenas sangue português, no meu amor à pátria não há qualquer divisão.
Ibéria? Porque não? Desde que sejamos nós a mandar...

Daniel Ribeiro disse...

E pur si muove ... (se ainda me permitem a tréplica) Cumprimentos

Fernando Correia de Oliveira disse...

Infelizmente, Portugal é cada vez mais encarado por partes terceiras como apenas uma das várias regiões da Ibéria (mais no sentido Espanha do que no seu significado geográfico). O encerramento da Embaixada da Federação Helvética em Lisboa, com a transferência dos serviços para Madrid, é apenas o último de uma série de episódios que nos últimos anos têm levado ao assumir da capital espanhola como sede para multinacionais que actuem no todo ibérico, saindo muitas delas de Portugal, onde estiveram por vezes dezenas de anos. A culpa não é de Espanha, é de Portugal que, para os interesses da Suíça, está abaixo do Qatar, de Angola ou de Moçambique... http://estacaochronographica.blogspot.com/2012/02/embaixada-da-suica-em-portugal-encerra.html

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Fernando Correia de Oliveira: de uma coisa pode o meu amigo estar certo: nenhum país poderá utilizar a sua embaixada em Madrid para representar os seus interesses em Portugal.

Isabel Seixas disse...

Mesmo fazendo eco também acho o quadro lindissimo.

Anónimo disse...

Parece poder aplicar-se com propriedade, sobre o sentimento que perpassa nestes comentários, o contrário do provérbio popular, que é: “querer o sol na eira e a chuva no nabal”.
Isto é: Sermos “governados” por um governo ibérico e sermos “independentes”.
Já “experimentamos” uma solução deste tipo e, os 2 primeiros Filipes, até terão “interpretado” mais ou menos o “nosso sentimento”. O 3º é que destrambelhou…

A solução de sermos nós a governar a ibéria, perspectiva que não passaríamos do 1º (qualquer que ele fosse).

Anónimo disse...

Acho que a Espanha trás-lhes muita inveja! Nem percebo porquê! Mas é o tal ADN Lusitano de invejar o vizihho a emergir da epiderme !

Portugal de Espanha, nem bom vento nem bom casamento !

Andamos nós a dizer que somos o pais com as fronteiras mais antigas da Europa e com a identidadade mais homogenea como pais para vocês quererem encostar-se à Espanha. Que é um pais de culturas e linguas diferentes que ainda não estão ligados !

O problema é que as empresas do PSI 20 foram colocar a sede na Holanda para pagarem menos impostos e isso não ajuda muito à soberania e como tal mais tarde ou mais cedo , deixaremos de ter soberania e mesmo as embaixadas estrangeiras em Lisboa deixam de ter sentido porque os assuntos serão todos tratados em Bruxellas pois será a partir da nova Babilónia que Lisboa terá que obedecer o resto são cantares !

Ogman

Armando Pires disse...

Para mim tanto me faz ser governado a partir de Lisboa,Madrid ou Bruxelas. O importante mesmo era ser governado por gente honesta.
Esta parte final é que torna a coisa mais difícil.

Anónimo disse...

Caro Pires ,

Todos os governantes são honestos. Mesmo aqueles que mandam a partir de Bruxelas são honestos. E os que governam a partir de Berlim também !
O problema é que o seu conceito de honestidade não é o deles !

A honestidade não é o problema mas sim os diferentes conceitos que se tem dela ! Essa é que é essa!
Ogman

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