quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Paul Krugman

Há figuras que, de tanto as lermos, se nos tornam quase íntimas. Há dois dias, ao ouvir uma conferência do prémio Nobel da economia, Paul Krugman, senti algum "déjà vu", porque muitas das suas ideias, de tanto as ler nos artigos no "The New York Times", já se tornaram a sua imagem de marca. E, porque são conhecidas, essas ideias já quase não surpreendem, não deixando, contudo, de impressionar pela sua global coerência e racionalidade. 

(De há uns anos para cá, devo confessar que, sempre que me sinto tentado a concordar com as análises feitas por economistas, tenho, no segundo seguinte, uma reação de recuo e prudência. É que me lembro da definição: um economista é alguém que no futuro nos explicará a razão pela qual as previsões que fez no passado acabaram por não se confirmar no presente. Nem sempre é assim, mas...)

Durante a sua conferência, Krugman contou uma história a que assistiu, em 1999, numa conferência em Barcelona. Nela, o economista americano Larry Summers fez ver aos espanhóis os riscos que a sua economia sobre-endividada podia vir a correr, em especial pela "bolha" imobiliária que estava a gerar. A reação do auditório da conferência foi extremamente negativa, considerando alarmista e sem sentido a prevenção feita, nesse tempo em que se vivia uma onda de otimismo em Espanha, com saldo orçamental positivo. Para Krugman, esse momento ensinou-lhe que é praticamente impossível credibilizar alarmes quando a situação é lida pela generalidade das pessoas como estando a caminhar numa direção favorável. Isto é: só aprendemos à nossa própria custa.

7 comentários:

patricio branco disse...

é evidente que quase ninguém ia acreditar, as coisas estavam prósperas, estavam a correr tão bem, a espanha tinha um superavit invejavel, progredia, etc, porque se ia acreditar numa voz isolada, num pessimista alarmista, num velho do restelo?
Em portugal há um senhor que diz frequente pomposa e professoralmente "eu no ano tal já tinha avisado ou dito que era preciso mudar de rumo, etc" tentando dar depois das coisas sucederem ar de sábio profeta.
mas a economia não é uma ciencia certa, há muitos factores imprevisiveis que não pode outros que não quer levar em conta e se é conduzida por politicos na pratica qual o verdadeiro papel dos economistas? quase nenhum, dar conferencias, aulas e publicar livros, mesmo ganhar premios nobel.
O problema verdadeiro não está nos economistas, mas nos que de facto governam e conduzem a economia, nos grandes grupos economico empresariais, na emergencia de novas economias que fazem imbativel concorrencia, na corrupção, no oportunismo, na ingenuidade dos passivos, na energia e seu preço, etc

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

«É que me lembro da definição: um economista é alguém que no futuro nos explicará a razão pela qual as previsões que fez no passado acabaram por não se confirmar no presente. Nem sempre é assim, mas...»

É verdade que a economia só se encontra no futuro, a imprevisibilidade depende da soma das racionalidades e de factores aleatórios não explicáveios por mais que diletantes e arrastados apostem nos modelos da econometria.
E é talvez por isso que Talcott Parsons, o sociólogo, começou a sua carreira como economista e acabou como sociológo. Faltava para Parsons à economia a compreensão do tecido social.

E é por isso também que há muitos anos penso que o que necessitamos como figura central não é um ministro das finanças, mas o da economia (MEF- ministério da economia e finanças).

E em vez de valorizarmos os grandes agregados e a macroeconomia, temos de mimar a micro (onde os fenómenos são mais estáveis e assertivos) e são a semente da macroeconomia.

Mônica disse...

francisco euquerialer opost de hoje mas nao consegui abrir estou em oliveira na casa da minha irma abracos monica

Anónimo disse...

Senhor Embaixador, tem toda a razão Patrício Branco... Em 1989, quando regressei da Ásia, falava (ser a sabedoria dos economistas) das mudanças que de meses a meses se verificavam no sul da China e na rápida e eficaz aprendizagem e adaptação dos chineses às novas tecnologias e ao contacto fácil com outras línguas. Falava eu.. como uma "tola", porque sobranceiramente os meus amigos que estavam numa Europa de casas de mármore e "jaccuzzis" não compreendiam que os lobos marinhos todos das "Desertas" não chegavam para ocuparem o número de banheiras novas à beira-mar plantadas! Foi assim. É passado! Venham economistas que não façam de "bruxos" e que acertem na medida desta Europa de que tanto gostamos!

Helena Sacadura Cabral disse...

Meu caro Patricio Branco
Eu, então, toda a vida quis ser, sempre e só, economista. Mas sei que escolhi o caminho do "não poder".
Os economistas apontam caminhos, tentam encontra-los, mas as decisões, são e serão sempre, políticas.
Há muito que aprendi que a economia se submete a política. Quando muito, é a sua principal ferramenta. Mas as ferramentas de pouco servem, se não forem utilizadas. E de nada servem, quando são mal utilizadas.
Essa é a triste sina dos economistas e a vã glória dos que fazem da política a sua profissão.
É uma pena!

patricio branco disse...

i e, (os economistas) são pouco ouvidos, ou mal interpretados, ou incomodam (os politicos)com o que dizem, avisam ou aconselham. o tratamento politico pode não seguir o diagnostico e a receita económica.
Acontece tambem noutras áreas, os politicos não ouvirem os especialistas.
Mas no caso da espanha antes de 2008, era dificil levar a sério a profecia, tal era o superavit e o crescimento, o estado até inventava maneiras de distribuir o dinheiro que tinha, começaram p ex a dar 2.500 € por bebé que nascia (o presente já terminou).
Mas os economistas devem continuar a falar, e bem alto.

domingos disse...

As ciências humanas (incluindo a Economia, que ainda não deixou de o ser)nunca são pecisas e daí que surja sempre uma opinião e o seu contrário. A questão de fundo reside no facto dos problemas económicos dependerem de uma infinidade de variáveis que nenhum ser humano, nem mesmo o computador mais avançado, consegue dominar.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...