sexta-feira, fevereiro 03, 2012

Egito

Há uns anos, visitei, na sua casa no Cairo, um antigo e proeminente embaixador egípcio, que havia tido uma carreira brilhante, iniciada nos tempos de Gamal Abdel Nasser, que se prolongara pelo mandato de Anwar Al Sadat e se concluíra sob a égide de Hosny Mubarak. Era um homem altamente preparado, com imenso "mundo", que havia feito o circuito das mais importantes missões diplomáticas egípcias.

A conversa derivou, a certo passo, para a política, tendo eu evocado a sucessão de Mubarak. O tempo - foi há quase dez anos - das "primaveras árabes" estava ainda longe, mas ousei perguntar se não teria chegado o momento para uma abertura do regime, em direção ao pluripartidarismo, atenta a necessidade de esvaziar as tensões políticas.

O meu interlocutor olhou-me nos olhos e, embora nada surpreendido com a minha pergunta, para ele natural num observador ocidental, retorquiu-me: "Infelizmente, ao final desta minha vida, cheguei à conclusão que o Egito só pode ser gerido por um regime autoritário. As pessoas não estão educadas para a democracia e, se acaso esse sistema viesse aqui a ser introduzido, os extremistas islâmicos acabariam por transformar este país num polo de instabilidade. E os primeiros a sofrer seriam vocês, na Europa e na América, podem crer!".

Um amigo irlandês que me acompanhava nessa conversa olhou-me, na tentativa de perceber como iria reagir, já que tinha sido eu a suscitar a questão. Por respeito pelo idoso diplomata, arranjei um circunlóquio para evitar contraditá-lo, para lhe louvar as vantagens da liberdade, para lhe dizer que, também entre nós, havia quem dissesse que o povo português não estava preparado para a democracia e que, afinal, o sistema tinha-nos conquistado, sem sobressaltos de maior.

Há pouco mais de um ano, voltei ao Cairo. Recordo-me de ter notado, de forma muito nítida, o aumento de véus na cabeça das mulheres, em especial das jovens adolescentes. Confirmei que essa crescente tendência estava a impor-se, com muita rapidez, desde a minha última visita. Um outro egípcio, bem mais liberal, que tentava ajudar-me a interpretar a evolução do país, simplificou a realidade nestes termos: "Para as jovens egípcias, o véu é hoje uma espécie de farda...". Para logo acrescentar, baixando a voz: "Esperemos que não haja guerra!".

Hoje, lembrei-me destas duas conversas que tive no Egito.

8 comentários:

patricio branco disse...

mubarak dava nos imenso jeito a nós europeus. O mesmo para os eua e outros. visão egoista? ou realista?

Helena Oneto disse...

Egoista, caro Patricio Branco. Não ha razões que justifiquem uma "incompatibilidade" absoluta entre democracia e islamismo. A verdade é que democracia rima, em todo o mundo, com literacia.

Anónimo disse...

Os sobressaltos de maior pela passagem em Portugal a uma democracia ocidental, vamos ver a partir de agora como vão ser quando vamos ter de repensar tanta coisa em aflição. Vai ser bonito vai.....

diogo disse...

vai-me desculpar mas também faço orgulhosamente parte da brigada do asterisco ( não profissional).
"Egito e embaixador egípcio"...qual das duas a correcta ?

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Diogo: pode parecer bizarro, mas escreve-se como se lê: Egito e egípcio.

margarida disse...

"(...)Nos jornais, vários comentadores e colunistas optam pela grafia dita «antiga», fazendo assim parte da imensa massa de resistentes passivos à escrita de vocábulos como «Egito» - parece que é um país – (...)"
http://bomba-inteligente.blogs.sapo.pt/

Anónimo disse...

Não vejo que o povo Marroquino seja menos livre que o Povo Cubano onde existe uma Democracia ao gosto do Mundo Ocidental!

PAra quem pensa que é livre por ter um governo democrático peço que reflita sobre as democracias da Russia, Angola, Cuba, Venezuela, Bolivia,Moçambique,India, Zimbabue, São Tomé e Principe, Timor !

Livre é um Esquimó que vive no frio onde ninguém quer estar e onde os governos não estendem os seus tentáculos, desde que não se encontrem recursos naturais ( matérias prmas) !

Talvez os habitantes da PApua nova Guiné sejam livres, não sei !

E atenção , que o que aconteceu no Egipto vai acontecer em Portugal , na cintura urbana de Lisboa. É só uma questão de tempo .
Se Angola, Brasil e Moçambique fecham as fronteiras aos Portugueses andaremos todos À pancada no dia seguinte, por isso percebemos preocupação do nosso Governo em tentar agilizar os processos dos vistos !

Ogman

Anónimo disse...

ola boa noite a todos..
vou segunda feira de ferias para o egipto,
e estava mto tranquila em relaçao à viagem, mas ultimamente tenho lido imensas coisas k me estao a deixar em panico.. pois viagem ta paga, e so vejo raptos a turistas no deserto do sinai, k é para onde vou
sharm el sheikh... kem esteve la recentemente, diga.m ha motivo para tanto sobressalto?
faço tensoes d visitar o cairo.. mas é passar pelo deserto do sinai onde tem havido raptos..
n ha escolta policial connosco ate ao cairo ?
kem me souber responder k me faça esse favor :)
obg
cumps

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