segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Jornalismo

"Árvore caiu sobre automóvel que circulava perto de Mafra há um ano" - este elucidativo exemplo, de fino recorte estilístico, fazia parte, há minutos, do texto de uma notícia da SIC.

Anda por aí muita gente preocupada com as consequência da entrada em vigor do novo Acordo Ortográfico. Não os vejo, contudo, tão pressurosos em denunciar a iliteracia de quantos, com calinadas deste jaez, põem em perigo a salubridade da escrita pública.

Aproximamo-nos a passos largos dos tempos, recordados pelo João Paulo Guerra, num almoço que há meses tivémos com Baptista-Bastos, em que um inspirado plumitivo escrevia: "Era meia noite e, no entanto, chovia..."

22 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador
De facto, este naco de prosa brada aos céus!
Mas creia que estes "piquenos/as" não melhorariam, em nada, com o novo acordo.
Até admito que a estação já esteja a usa-lo...

Anónimo disse...

E que dizer, então, do massacre dos "de" e "em"?

- Aquilo [em] que eu confio
- As coisas [de] que eu gosto

Anónimo disse...

É um facto a iletracia reinante na nossa Comunicação social mas com este exemplo do primeiro-ministro", as exportações conseguiram voltar-se muito mais rapidamente para o exterior" no Jornal de Negócios o que podemos esperar?

Julia Macias-Valet disse...

Minha Nossa !!!! Como dizem os brasileiros : )))

Completamente de acordo com Helena SC ; )

Fico no entanto grata ao "piqueno/a" que escreveu esta frase pelo facto de ter ficado pelo lide (ou lead) da noticia tendo-nos poupado acerca do Como e Porquê : )
Ou sera que a noticia continuava e foi o nosso escriba que nos quis poupar ?

Anónimo disse...

Ontem recebi um talão de desconto para "iogurtes sólidos"...

Julia Macias-Valet disse...

Va... mais umas quantas para rir :

Jornalista da RTP:
"É trágico!
Está a arder uma vasta área de pinhal de eucaliptos!"
(trata-se de uma nova variedade de árvores...)


Jornalista da TVI:
“As chamas estavam a arder!"
(fantástico !...)


Rodapé do telejornal da SIC:
“O assassino matou 30 mortos”
(era para ter a certeza que estavam bem mortos...)


Jornalista da TVI:
“Foi assassinado mas não se sabe se está morto.”
(era melhor pedir ajuda ao assassino dos 30 mortos...)


Jornalista da TVI:
“Estão zero graus negativos.”
(OK ...)


Comentário de uma jornalista sobre o caso Aquaparque:
“Os aquaparques têm feito, durante este ano, muitas vítimas, que o digam os dois mortos registados este mês... “
(em directo do além ...)


Rádio Voz de Arganil:
“Quatro hectares de trigo queimados. Em princípio trata-se de um incêndio...”
(em princípio... mas pode ser uma inundação)


Relato de futebol:
“Chega agora a informação... O jogador que há pouco saiu lesionado sofreu uma fractura craniana no joelho.”
(mais uma estreia na medicina ...)


Jornal TVI, Manuela Moura Guedes:
“Um morreu e o outro está morto.”
(no comments ...)

Anónimo disse...

Esta ainda está quentinha:

"Tenho uma dúvida que lhe pedia ajuda"

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Julia Macias-Valet: O texto surgiu durante alguns minutos, a suportar uma notícia que estava a ser dada pelo locutor.

Confesso que só olhei para o que estava escrito, disso logo presumindo o que, obviamente, se terá passaso: um automóvel andava, perto de Mafra, às voltas "numa fona", sem parar, desde há um ano, tendo-lhe, a certa altura, caído uma árvore em cima. Pudera! Sempre no mesmo sítio, 365 dias, às tantas passando sempre por debaixo dela, até que desestabilizou o vegetal. Deve ter sido isso. É claro que, se fosse no seu Alentejo, o sobreiro demoraria mais tempo a cair. Mas na zona saloia "é um vê se avias", basta um ano.

gherkin disse...

Bem aplicado! Concordo inteiramente!
Cumprimentos,
Gilberto Ferraz

Isabel Seixas disse...

Jornalista apanhado por observador perspicaz, numa divagação animica com seres inanimados consegue surpreender o pensamento concreto na transcendência pueril, somente comparável a chuva sem noção do tempo...É tempo de gripe(...)

Julia Macias-Valet disse...

: ))))

Como estamos numa de risota e de arvores aqui vai uma historia alentejana, claro ; )

Um trabalhador rural foi certo dia ao dentista para arrancar um dente. No final da intervençao perguntou ao medico quanto lhe devia, ao que este respondeu :

- Sao 400$00.

- Quatro centos mil réis !??? retorquiu indignado o camponês perguntando ao médico :
- Atao quanto é que o senhor Doutor leva para arrancar uma azinheira ???

Julia Macias-Valet disse...

Uiiii... antes que alguém me "caia encima" !!!!

Escrevi "Quatro-centos-mil-réis !" despegado de propósito para acentuar a indignação do alentejano. Calma pessoal....que eu nao sou jornalista ; ))

Helena Sacadura Cabral disse...

Caríssimos comentadores
Ainda estou a gargalhar com o vosso humor e com a nota explicativa do nosso Embaixador!
Não há crise que nos mate...

estouparaaquivirada disse...

Rir, é mesmo o melhor remédio!

Mônica disse...

Senhor Embaixador Francisco
Eu fico um pouquinho envergonhada pois me aposentei antes da nova ortografia entrar em vigor. Nem me preocupei em aprende-la.
Voces portugueses escrevem muito bem, fico envergonhada, mas acho que já me perdoaram pois se escrevo algo errado é por descuido.
com amizade Monica
Estava em araxa por isso nao apareci por aqui nestes dias.

Anónimo disse...

SISTEMÁTICO na TV:

"Obrigado por ter ACEITE o nosso convite"

"O jogo ONDE o Eusébio marcou 3 golos"

V

Anónimo disse...

Criticas à escrita dos jornalistas para justificar o quê ?

Que são parvos ? Que não sabem o que escrevem ? Que não devemos dar crédito ao que se escreve nos jornais ou o que se fala nas rádios !!!

A minha preocupação iria mais para os politicos que tiram os cursos saidos nos pacotes de farinha amparo, que nunca tiveram uma profissão na vida, e que são os escolhidos pelos portugueses para legislar e governar neste pais de gente cultissima. Isso é que me preocupa !!!

Anónimo disse...

A rir assim consegue-se manter a diferença com os restantes animais... E aceita-se bem melhor a redução uniformemente acelerada dos salários em Portugal; sem os "porquês" e, "em" deixando os "piquenos" a fazerem de conta que são grandes.

patricio branco disse...

noticia dada com um ano de atraso?

Anónimo disse...

Caro Anonimo das 10:03,

De igual para igual se me permite também permaneço Anonimo/a.

Nao se esta aqui para insultar ninguém. Por nao se saber escrever nao se é parvo. A questao também nao é nao saberem o que escrevem. O jornalistas por vezes sabem sobre o que devem escrever mas sao incapazes de transmitir ao grande publico correctamente a informaçao que têm para dar. A coisa é simples, é como na cozinha com os mesmos ingredientes pode-se cozinhar um excelente prato ou um intragavél, tudo depende dar arte do cozinheiro.
A prova foi dada por FSC que com os elementos disponíveis fez uma interpretação do sucedido...pouco provável ; ) mas divertida.

Quanto aos lideres políticos nao é tirando cursos (penso ser esse um dos grandes erros de Portugal nos últimos anos...so quem tem cursos superiores é que tem respeitabilidade) que se aprende a liderar.

Ou seja, e comparando com os jornalistas : nao é porque se aprende a escrever na 1a classe que um dia mais tarde se sabe redigir.

Como todas as profissões o Jornalismo tem técnicas que sao ensinadas nas escolas de Comunicaçao Social...basta respeitar a técnica para poder dar uma informaçao correctamente. Nao se esta aqui a falar de artigos de opiniao ou de analise politico-economica...ja nao vamos tao longe.

Anónimo disse...

Ó cum caraças (desculpem a linguaguem), o comentário da querida Isabel Seixas é uma obra-prima de gongorismo. Estou de queixo caído de pasmo. Nem Gongora nem o oráculo de Delphos fizeram melhor. Parabéns!
xg

Armando Pires disse...

Aquando do referendo em
Timor-Leste, tive um colega que quando se referia aos indonésios os tratava de dionésios.
Isto é:
-Juntou as palavras Díli e indonésios e numa de poupança de palavras, inventa uma nova.
Dionésios passou a ser uma palavra que definia uns malandros indonésios que estavam a maltratar a população de Díli.
Felizmente este senhor hoje não é jornalista, mas bem podia ser.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...