Acabo de receber uma "convocatória" para um almoço em Lisboa, a 12 de novembro. Nessa data se celebrarão 30 anos passados sobre um jantar com que um partido decidiu encerrar a sua (já então muito escassa) atividade. Comemorar um jantar com um almoço é uma saudável redundância gastronómica.
Assim, e se tudo correr como espero, lá irei de Paris a Lisboa, para estar presente nesse repasto (escolham um sítio de decente amesendação, por favor!) onde muitos nos encontraremos, sem nostalgias nem proclamações, para lembrar essa "improvável aventura" a que, para sempre, ligámos a nossa juventude e a nossa esperança.
É claro que não estaremos todos por lá: alguns já se foram, outros saíram para outros destinos, uns poucos, ainda, deixaram-se tomar pela indiferença. Mas seremos mais do que os suficientes para nos revermos nessa ideia que continua a unir-nos, muito para além das conjunturas e dos percursos que cada um decidiu seguir.
Assim, e se tudo correr como espero, lá irei de Paris a Lisboa, para estar presente nesse repasto (escolham um sítio de decente amesendação, por favor!) onde muitos nos encontraremos, sem nostalgias nem proclamações, para lembrar essa "improvável aventura" a que, para sempre, ligámos a nossa juventude e a nossa esperança.
É claro que não estaremos todos por lá: alguns já se foram, outros saíram para outros destinos, uns poucos, ainda, deixaram-se tomar pela indiferença. Mas seremos mais do que os suficientes para nos revermos nessa ideia que continua a unir-nos, muito para além das conjunturas e dos percursos que cada um decidiu seguir.
O partido de que acima falei, o MES, o "Movimento da Esquerda Socialista" (ironizava, ao tempo, um amigo de outras ondas políticas: "mas há uma direita socialista?"), juntou muito boa gente nesses tempos pós-abril, pessoas vindas das lutas académicas, do sindicalismo menos alinhado, do catolicismo inquieto. Gente que não se revia noutras linhas então dominantes no mercado das opções políticas. Com o tempo, cada um de nós escolheu o seu caminho, embora a grande maioria quase sempre para o mesmo lado. Alguns revemo-nos de tempos a tempos, outros quase nunca se encontram. Mas, para sempre, somos todos, com imenso orgulho, "do MES".
Um dia, ao tempo do primeiro governo Guterres, o então primeiro-ministro, numa viagem de trabalho ao estrangeiro, em que o Augusto Mateus e eu o acompanhávamos, perguntou: "Neste governo, há uns seis ou sete antigos militantes do MES, não é?". Olhei para o Augusto e respondi, sem ter a certeza exata do que afirmava: "Um pouco mais, julgo que somos aí uns 14". António Guterres olhou para nós, verdadeiramente surpreendido. Nunca se havia dado conta que, em pouco mais de 40 ministros e secretários de Estado havia essa elevada percentagem de antigos membros do MES. Creio que, por um segundo, deve ter pensado que convivia com uma eventual "quinta coluna". O que estaria bem longe da verdade.
A inexorável lógica quantitativa do voto nunca foi o forte do MES. Como alguém diria, mais tarde, o nosso voto era um "voto de qualidade" ou a expressão de uma "imensa minoria". Em 1975, nas primeiras eleições, para a assembleia constituinte, no auge da sua expressão política, as urnas conferiram ao MES uns impressivos 1,02% de votos, o que conduziu um seu dirigente a uma declaração que ficou histórica: "Com esta votação, só temos condições para crescer...". Nesses tempos de façanhudos dirigentes políticos, cheios de pronunciamentos de rotunda gravidade, o MES teve sempre muito poucos votos mas imenso humor.
A inexorável lógica quantitativa do voto nunca foi o forte do MES. Como alguém diria, mais tarde, o nosso voto era um "voto de qualidade" ou a expressão de uma "imensa minoria". Em 1975, nas primeiras eleições, para a assembleia constituinte, no auge da sua expressão política, as urnas conferiram ao MES uns impressivos 1,02% de votos, o que conduziu um seu dirigente a uma declaração que ficou histórica: "Com esta votação, só temos condições para crescer...". Nesses tempos de façanhudos dirigentes políticos, cheios de pronunciamentos de rotunda gravidade, o MES teve sempre muito poucos votos mas imenso humor.
24 comentários:
Obrigado, caro Embaixador, pela divulgação do almoço e do blogue.
Cá o esperamos no dia 12 de Novembro num "sítio decente" :)
Cumprimentos
Ah Senhor Embaixador.e embora consciente da banalidade da frase-não consigo lembrar-me de outra-apetece-me dizer como o tempo passa.Uma vez mais,e felzmente,recorda-nos uma organização onde convergiram,inquestionavelmente,pessoas de grande qualidade intelectual e cívica que,ao tempo contribuiram para o enriquecimento do espaço onde se inseriam; se estou bem lembrado creio que,inclusivé o Dr.Jorge Sampaio lá participou.
Apesar de,mesmo antes de ter descoberto a existencia deste blog saber,com mais ou menos regularidade, do percurso que o Senhor Embaixador ia fazendo ignorava que tinha pertencido ao MES.
Nunca pertenci ao MES mas sempre me interessei pelo que lá se passava.
Enquanto cidadão só posso estar grato pelo vosso papel qualitativo na consolidação da democracia no nosso país.
Se calhar, na altura de ir a votos o resto dos eleitores terão decidido ir lá votar para o mês.... que vem!
Piada fácil e provavelmente já batida.... hehe!
Ainda nem um mês tinha eu na altura!
Belos tempos terão sido concerteza!
ERA UMA VEZ
Venham connosco ao MES!
E isso é o quê?
Movimento de Esquerda Socialista, uma coisa a sério, responderam.
A minha irmã,já professora, licenciada em Germânicas e o marido economista mas a fazer o serviço militar lá nos levaram...
Era grande a azáfama na casa. Pintavam-se cartazes com palavras de ordem, vendiam-se distintivos, ia acontecer um comício, salvo erro na pavilhão Carlos Lopes.
E lá fomos e cantámos a Internacional Socialista e tudo.
A minha irmã ia a todas,e viveu esses tempos com coragem na linha da frente.
Eu, com uma filha de 4 anos e um bebé nascido em Maio de 75, era bem mais moderada.
Mas na minha história de vida há um lugar para o MES.
Votei uma vez.
Ainda hoje guardo o distintivo com a célebre estrelinha.
Pena, a maior pena do mundo é que a minha irmã guerreira tenha partido antes do tempo.Foi militante a sério. Como tudo o que fez na vida.
Julgo que nunca faltou a um almoço.
Que saudades Carmo Levy.
O MES eu conheci-o
era negro e luzidio...
Uma não muito pequena nota
Nos idos de 1974, era jornalista chefe da Redacção do Portugal Socialista, de que era director um saudos Amigo, o Mário Sottomayor Cardia, jantei no Trindade, a convite de um tal Jorge Sampaio, meu antigo colega da Faculdade de Direito da UL e bom Amigo.
Estavam presentes, se a memória não me falha, o José Manuel Galvão Teles, o Eduardo Ferro Rodrigues, o Augusto Mateus (filho do Senhor Ventura Mateus que trouxera o Juan Seminario extraordinário estremo esquerdo para o nosso Sporting), o Agostinho Roseta e o Nuno Teotónio Pereira. Malta bué da fixe.
Foi um grande jantar que acabou quando os empregados nos vieram dizer que tinham de fechar o restaurante e que já não havia mais bife com ovo a cavalo e bebidas.
Guardo dele uma série de recordações. A maior de todas foi quando o Ferro Rodrigues me perguntou por que bulas estava no PS e não no MES. Saíram tais gargalhadas que os outros fregueses nos miraram como perigosos activistas e, quiçá, subversivos.
Perante este post tão interessante e importante, não resisti a contar o episódio. Espero que o jantar comemorativo não seja bifes com ovos estrelados a cavalo e batatas fritas. E cerveja a copo. Mas, quem sabe? Destes (bons) malandros é de esperar tudo. Já o dizia o Mário Zambujal, o meu primeiro chefe da Redacção no DN e outro excelente Amigo.
Mas, do Francisco Seixas da Costa apenas ouvi o nome e as referências que lhe foram feitas. Quem havia de dizer... E só conversámos sobre o tema nas longas noites dos Conselhos Europeus a trabalhar nas conclusões. Vejam lá: hoje, 20, completo 70 aninhos, setenta; aos anciãos de provecta idade dá-lhes para cada uma...
É, de facto quando numa orquestra apesar da harmoniosa melodia se consegue dissociar o som impressionista de cada um dos compositores, é bom facultar ao mundo e arredores carreiras a solo, sob pena de na amalgama se perderem grandes conceções.
Naquela altura podiam-se contrapor ideias, sonhar futuros com vias e vistas largas que nos levavam para horizontes de aprazimento e fraternidade onde a justiça era regra sem exceções.
O que teria falhado para chegarmos aqui onde há tantas exceções sem regra ?
Eu, simpatizante anarquista
confesso
os olhos abri
ao que li
VIVA O 13° MÊS!
e que ri
aos 10 anos
no aeroporto a ver
O ÙLTIMO A SAIR
POR FAVOR APAGUE A LUZ
mas hoje no Correio
recebi isto que li
"Tribunal absolve Oliveira e Costa e Dias Loureiro"
E tenho saudade
da cidade
com o MES e os anarquistas
o BPN
é o quê?
Bandeira negra já não há
na alhada
da revolução falhada
e da gente instalada
em "sítio decente"
quando em casa
o meu avô
vai apagar a luz
477 euros de pensão
para um ex-revolucionário
falhado
ex-funcionário
pensando
que revolução fiz?
Apaga a luz
dorme
morre
está na hora
tens 84 anos
é melhor
não sofras mais
eu vou escrever
no blogue
que tenho
47 anos
e numa roda
de alunos
digo
foi anarquista
meu avô
é o quê
anarquista?
é o que foi
respondi
foi um sonho
agora
na parede
apetece
escrever
PESADELO!
E se transformassem o almoço em jantar e começassem tudo outra vez?
Senhor Embaixador
Por fortes razões sentimentais o MES tem lugar cativo no lado esquerdo do meu coração.
Já agora, uma pergunta indiscreta: e o GIS, também lhe disse alguma coisa?
Cara Dra. Helena Sacadura Cabral:
1. Pode crer que, se a saúde ajudar, vou realizar o meu sonho. Ando a pensar mandar desenhar um "ex-libris" para colocar nos meus livros, sob o lema "Talent de rien faire"...
2. O GIS (quem dele foi membro fica sempre irritado que se fale no GIS, preferuindo que se fala na "IS") foi uma dissidência "de direita" do MES, de cuja orientação dizíamos, à época, cobras e lagartos. Hoje, conto, em muitos dos seus membros, alguns grandes amigos. Como dizia alguém que, nesse tempo, não andou por essas guerras, "é a vida..."
Caro Anónimo das 14.59: Já temos idade para ter juízo...
Do ex-GIS ainda há muitos e bons. E devemos imenso a um homem que se chamou Ernesto Melo Antunes.
ERA UMA VEZ
Caro Embaixador
E onde nos vai levar "tanto juízo"?
Ao menos nesse tempo éramos loucos mas generosos...
Senhor Embaixador
A pergunta foi provocatória mas o Senhor não fugiu a ela! O que me ri!
Ó Alcipe mando-lhe um abraço, porque tenho por Melo Antunes um imenso respeito!
Mas o GISito na altura deu-me alguns engulhos. Que fazer? Eu ainda não era poeta...
Caro Alcipe: como dizem na minha terra, Melo Antunes era "outra loiça"! Talvez a sua memória o ajude a recordar uma noite em que, de Lisboa a Sintra, decidimos ir partilhar com Ernesto Melo Antunes uma certa alegria (que, apesar de tudo, não foi tão "breve" como a de Vergílio Ferreira). No regresso dessa jornada, já bem pela madrugada dentro, acompanhados por uma "pasionaria" que o país iria em breve conhecer, decidimos ir testar se as regras de estacionamento reservado tinham sido entretanto abaladas pelo factos. Já nem sei bem onde acabámos a noite. Mas você já não se deve lembrar! Era muito novo...
Então saudosos do "MES" passado!
O Senhor Alcipe manda dizer que infelizmente não é novo e por isso, velho e esquecido como está (diz ele), apenas recorda dessa memorável noite que era Vossa Excelência quem estava ao volante.
Respeitosamente
a) Feliciano da Mata
Mordomo
Este Feliciano da Mata que me lembra imenso o humor do Eça, é um mordomo como já não há.
Que imensa sorte que o comentador Alcipe tem!
Fui simpatizante do MES, leitor do respectivo jornal, etc. Ainda hoje tenho saudades até da forma como acabou, aí está, sem despedimentos... Recordo a nossa de alguns amigos surpresa: nao é que numa aldeola meio perdida nas serras da beira litoral o MES teve nas eleiçoes para a Constituinte uma votaçao assaz interessante, sem que alguma vez tivesse por lá feito despesas de campanha!
Adivinhem:
O prior da freguesia recomendara aos obedientes paroquianos que votassem no partido da bola...
mas esqueceu-se de dizer a cor.
E eles votaram na mais linda!
E.Dias
Gostava dew estar na festa pá!!
Infelizmente não,posso.
Um abraço.
Fernando Coelho
Este post tinha-me escapado...
É no minimo original fazer almoços para comemorar o fim de qualquer coisa em que se acreditava e pela qual se lutava...
Ou lutava e acreditava...assim, assim ?
Caro Embaixador, deixe-me responder à Júlia
Eu acho que quem militava no MES (e "militava" não me parece a palavra mais adequada, mas não há outra) acreditava MESmo. Não havia assim-assins (não sei se o novo acordo...)! O MES estava certo e nós com ele: o país é que estava errado, como hoje se prova. Foi por isso que os militantes (que no fim, já eram mais centitantes) se refugiaram em partidos do país real e alegremente encerraram o MES, sabendo que não tinham tempo para esperar pelo país certo do MES.
Fernando Pinto
Enviar um comentário