Era uma senhora de 67 anos. Fui-lhe apresentado no sábado à noite, na baixa Normandia.
Disse-lhe: "Lembro-me de si a passear de motocicleta, em Clermont-Ferrand".
"Mas eu nunca vivi em Clermont-Ferrand!", respondeu-me, amável.
"Pois não! Mas passeou por lá, de motocicleta. Ou não?"
Reação, alguns segundos depois: "Ah! no filme?!" e fez um largo sorriso: "Que simpático! Ainda se lembra?"
Era Marie-Christine Barrault, que tinha acabado de declamar uma bela seleção de textos, a ilustrar a peça musical "Carnaval des Animaux", de Saint-Saenz, num magnífico festival cultural, numa zona rural, perto de Alençon.
Em 1969, no seu primeiro filme, aos 25 anos, protagonizou uma cena inesquecível do cinema da "Nouvelle Vague" francesa, o "Ma nuit chez Maud". Depois disso, teve uma carreira muito diversa. Repetiu Rohmer, por exemplo, no delicioso "L'amour l'après-midi" (que inspirou a frase de um amigo meu: "mais vale à tarde do que nunca!"), fez o já histórico "Cousin, cousine", esteve no "Stardust Memories", de Woody Allen, e até em "Le soulier de satin", de Manoel de Oliveira.
Foi um prazer cruzar a memória com a vida, ainda que cinematograficamente virtual. E lá bebi, com Marie-Christine Barrault, uma cidra normanda, saudando esses tempos.
Em 1969, no seu primeiro filme, aos 25 anos, protagonizou uma cena inesquecível do cinema da "Nouvelle Vague" francesa, o "Ma nuit chez Maud". Depois disso, teve uma carreira muito diversa. Repetiu Rohmer, por exemplo, no delicioso "L'amour l'après-midi" (que inspirou a frase de um amigo meu: "mais vale à tarde do que nunca!"), fez o já histórico "Cousin, cousine", esteve no "Stardust Memories", de Woody Allen, e até em "Le soulier de satin", de Manoel de Oliveira.
Foi um prazer cruzar a memória com a vida, ainda que cinematograficamente virtual. E lá bebi, com Marie-Christine Barrault, uma cidra normanda, saudando esses tempos.
6 comentários:
A propósito de motocicleta, na foto, parece mais um “solex” de agradável memória.
"Foi um prazer cruzar a memória com a vida"In FSC
A expressão é de todo bonita e muito interessante.
Também interessante é o enigmatismo de seleção que rodeia e conserva memórias intemporais...
Indivisivel.
Subscrevo Isabel Seixas: " Bela frase".
Mas isso fez-me pensar noutra frase:
" Très tard dans ma vie, j`ai retrouvé ma mémoire..."
É um privilégio dispor de uma memória assim e ter um tal percurso de vida.
Estas crónicas minimais nunca são repetitivas.
Existe algo no reconhecimento e no reencontro dos seres, que nos sugere o eterno regresso à energia original.
Talvez seja a partir desse cerne que surge a emoção causada em quem está apenas a assistir a esses cruzamentos poéticos.
Muito bonito.
Mais, s.f.f.
:)
Cara Margarida: o problema é que estas coisas não se improvisam, acontecem. Essa é, aliás, a sua graça. Assim, a memória nem sempre tem destas "chances"...
talvez filha de jean-louis barrault
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