Os britânicos perdem a sua fleuma quando as coisas institucionais entram nos domínios do inesperado.
Tradicionalmente, e para quem não saiba, as eleições legislativas no Reino Unido ocorrem às quintas-feiras. No dia seguinte, de manhã, o líder do partido mais votado vai à rainha, recebe mandato para formar governo e, às 14.30 horas do mesmo dia, apresenta-se com ele completo no parlamento. Isto, porém, no caso de ter obtido maioria absoluta, o que quase sempre acontece. Mas não aconteceu, desta vez.
O sistema político britânico está construído, embora não explicitamente, para que um dos dois maiores partidos - atualmente, o trabalhista ou o conservador - ganhe as eleições com maioria absoluta. Por isso, o terceiro partido, o partido liberal-democrata, acaba por ser sempre o maior sacrificado, porque o sistema de voto o desfavorece fortemente. Nestas eleições, com 23% dos votos, acabou por ter menos de 8% dos deputados. Por essa razão, a reivindicação histórica dos liberal-democratas é a mudança do sistema eleitoral, para um modelo de representação proporcional. E, por outras razões de interesse próprio, conservadores e trabalhistas opõem-se a isto, com muita firmeza.
Não se sabe, neste momento, como vão terminar as conversações entre os partidos britânicos e que espécie de governo delas poderá resultar. Uma coisa parece certa: mais cedo ou mais tarde, o partido que liderar o novo governo vai convocar (porque, no sistema britânico, pode fazê-lo sem limitações, dentro dos cinco anos do seu mandato) novas eleições, esperando então obter maioria absoluta. E costuma ganhá-las, porque aos britânicos repugnam maiorias relativas. Resta acrescentar que, a partir desse momento, passam a contar mais cinco anos (durante os quais, se acaso lhe der jeito, o governo pode convocar novas eleições, e assim por diante...)
Até lá, com a autoridade nacional que todos temos em matéria de governos com maioria relativa, só podemos dizer aos nossos amigos britânicos: habituem-se!
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