Há semanas, andou por Portugal um (felizmente curto) debate sobre Cabo Verde, sobre se aquela magnífica república africana não estaria melhor se não se tivesse tornado independente e houvesse optado por se manter unida a Portugal. Uma polémica mais do que escusada, que a História, a seu tempo, já tinha encerrado.
Essa mesma História não se faz de "ses", mas posso perceber que, se acaso as coisas se tivessem encaminhado para a criação duma hipotética "região autónoma" caboverdiana, na noite de ontem não teríamos sofrido a humilhação futebolística de ver uma seleção carregada de estrelas, pagas a peso de muitos milhões de euros, mostrar-se incapaz de derrotar um valoroso mas frágil "onze" daquelas ilhas africanas.
Mas, afinal, a confusão entre os dois países continua a existir noutros locais. Veja-se esta notícia, num jornal suíço, onde se fala dos "portugueses de Cabo Verde"...
11 comentários:
Gostei da analogia da cor...
A da imagem.
Já a da metáfora... Permite-me ancorar no relativismo apaziguador das relações só de si vulneráveis de relações causa efeito...
Se o investimento Dinheiro determinasse ou fosse eventualmente um determinante dos resultados esperados entre equipas díspares, também no Chaves/Porto o chaves tinha que ter ganho em vez de 1-2 no mínimo menos cinco um respetivamente(-5/1).
Ah! E as outras variáveis? Dignidade, persistência,autodeterminação, abnegação, espírito de equipa, amor genuíno à camisola/bandeira
(ainda não corrompido pelo deslumbramento do egocentrismo individual)...
Oh! Até parece que há desafios mesmo desafios, se assim fosse O Mister Mourinho queria treinar era o Chaves ou pelo menos o Sporting...
Quanto aos Portugueses de Cabo Verde o menino jornalista Suíço lá por ser Suiço(Se é que é) não se livra da ignorância e desatualização... Já agora, Ai confusão...
Isabel Seixas
Na mesma frase também se faz referência a "cidadãos da ex-Jugoslávia", não especificando se eslovenos, croatas, bósnios, sérvios, macedónios, montenegrinos ou kosovares, daí que não seja de estranhar a denominação "portugueses de Cabo Verde" por um escriba suíço que, via tradição histórico-cultural, demora a interiorizar as demais transformações geopolíticas (daí a imensa longevidade de avultados depósitos "nazistas" na banca local, tantos anos após a Conferência de Ialta).
Mas não sejamos tão []. Nani, por exemplo, nasceu na Cidade da Praia, Cabo Verde, e ontem equipou de vermelho. Para quem só conhece Portugal através do futebol [3º lugar no ranking da FIFA, tão fiável quanto a Standard & Poor's], é natural a confusão...
Bem dito. A História não é feita de “ses”, mas de factos, acontecimentos. Daí nunca ter percebido porquê perder-se tempo a discutir-se essa questão.
Já aquilo que se passou, no respeitante ao nosso “onze”, ontem (sim, tem toda a razão, foi uma humilhação e não devido ao “cansaço” – de quê, de treinarem? - dos jogadores, como já li hoje!) só me apetece dizer: José Mourinho tinha razão! Nem com Cristiano Ronaldo vamos lá! Aquilo, lá na África do Sul, vai deixar-nos um enorme amargo de boca. E logo no início, com o Brasil e quejandos. Esperem para ver! E talvez seja melhor assim. Esta rapaziada, em vez de se dedicar a outras “causas”, com vista a pôr este país “nos eixos”, dedica demasiadas energias e entusiasmo saloio a outras menos relevantes. A saber: futebol e novelas. Depois queixem-se!
P.Rufino
Quanto aos "cidadãos da ex-Jugoslávia", embora julgue que não é a isso que o suiço se refere, é bom ter em conta que há, ainda hoje, muitíssímas pessoas dessa "região" que continuam a identificar-se a si próprias como jugoslavo, recusando a nacionalidade que as convulsões da dissolução lhes atribuiu contra a sua vontade.
São muito mais do que se possa pensar e distribuem-se por todas as ex-Repúblicas Jugoslavas.
Talvez seja a única forma coerente de repudiar as atrocidades e os crimes cometidos pelos ultrnacionalismos que destruíram a Jugoslávia, com as culpas e as responsabilidades bem repartidas, não só pelos actores principais mas também pelos autores da tragédia, os seus encenadores e os seus promotores.
À bon entendeur...
«Sous un soleil de plomb, une dizaine de ressortissants d’ex-Yougoslavie et cinq Portugais du Cap-Vert se croisent par hasard sur la place Centrale.»
Parece-me clara a referência a "cidadãos da ex-Jugoslávia", não obstante a ironia da minha interpretação (aliás, parece-me mais uma opção de economia textual, simplificação narrativa, não propriamente um "political statement"). A questão é: fê-lo apenas para não ter que especificar se eram eslovenos, bósnios, croatas, etc.; ou porque desconhecia as suas nacionalidades e optou por uma fórmula de generalização, não sem algum preconceito impregnado? O caríssimo Gil talvez já não achasse tanta piada às fórmulas "cidadãos ibéricos", "cidadãos latinos" ou "cidadãos da Europa do Sul" (na mesma linha do acrónimo PIIGS, que inclui a Irlanda), para descrever um grupo de pessoas com a pele mais "morena" a passear-se em Bruxelas ou em Copenhaga...
Daí que por mais que possam haver muitos eslovenos, croatas, macedónios, etc., que se identifiquem como "jugoslavos" (garante o caro Gil, embora eu acredite que se tratem sobretudo de sérvios, ou de "bósnios" que não se identificam com aquele frágil mosaico etno-político), decerto que muitos mais haverá que não apreciam especialmente as constantes generalizações relativamente aos "povos balcânicos", como que relativizando a sua independência política, via auto-determinação...
Seguindo a sua lógica, faria todo o sentido continuar a apelidar os lituanos, estónios e letões de "ex-soviéticos", ainda que, tal como os croatas e os eslovenos, sejam há muito independentes do federalismo soviético e jugoslavo e façam parte integrante de um outro tipo de federalismo: a União Europeia.
Caro Gustavo Sampaio: tendo a concordar com Gil. É vulgar ver referidos cidadãos da "ex-Jugoslávia" como, aliás, da "ex-União Soviética", atendendo a que a sofisticação analítica dos jornalistas (cuja qualidade se vê pelo inédito "portugueses de Cabo Verde")torna difícil diferenciar croatas de eslovenos, montenegrinos de sérvios,bosnios muçulmanos de kosovares, bósnios da República Srpska de croatas bósnios, de macedónios de cidadãos (húngaros?) da Voyvodina. Perante este puzzle, usar "cidadãos da ex-Jugoslávia" é apenas uma questão de bom-senso.
Compreendo o que quer dizer, mas, permita-me discordar: se eu fosse croata ou esloveno sentir-me-ia, imagino, tão ou mais "relativizado" quanto um cabo-verdiano perante a fórmula "portugueses de Cabo Verde".
Afinal, as razões dividem-se: era um "caboverdiano com passaporte português": http://www.24heures.ch/actu/suisse/rixe-mortelle-suscite-colere-incomprehension-martigny-2010-05-25
Coitado do jornalista suíço, imediatamente trucidado, quando afinal até foi mais ou menos rigoroso nas designações geopolíticas! E o que dizer daquele cenário idílico de Martigny, da geometria do espaço, ora palco de uma rixa entre "ex-jugoslavos" e "portugueses de Cabo Verde", sob o olhar atónito dos indígenas? Digno de um romance policial à Graham Greene, extremamente cinematográfico, hein? Cumprimentos.
melhor é ainda o que se passa no Senegal, ou mesmo na Mauritânia, embora menos, onde os cabo-verdeanos são conhecidos e tratados por... portugueses.
E, muitos deles, quando se lhes pergunta de onde são, dizem, com o ar mais natural do mundo: português de Cabo Verde.
Ele há coisas...
Rita
E por falar em Cabo Verde:
http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1578456&seccao=CPLP
Enviar um comentário