Pierre Grosser foi diretor do Institut Diplomatique do "Quai d'Orsay" desde a sua criação, em 2001. Tem uma importante obra publicada em temas internacionais e escreveu, há pouco, um livro fascinante, de que pouco se tem falado, sobre esse ano-charneira, em especial para a Europa: "1989 - L'année où le monde a basculé".
São muitas centenas de páginas, escritas num tom multidisciplinar ambicioso, que podem ler-se espaçadamente, como tenho feito, desde há semanas. Trata da Europa, mas igualmente das suas periferias, indo à raiz histórica das temáticas abordadas e procurando ligá-las nos seus contextos económicos, financeiros, sociais e até ecológicos. Sendo que a queda do muro de Berlim é talvez o pretexto central deste trabalho, o facto dele se alargar a outros domínios e cenários geopolíticos acaba por ter o mérito de relativizar a dimensão da unificação alemã e de nos obrigar a olhar um pouco mais longe.
As obras com grande abrangência transversal têm sempre lacunas. Neste livro, encontrei uma única referência a Francis Fukuyama e apenas duas notas curtas sobre Samuel Huntington. Se, no primeiro caso, "o fim da História" pode ser descartado, no segundo parece-me muito escasso o que foi citado. Mas, a meu ver, mais grave será Grosser nem sequer ter mencionado, uma única vez, nomes como Edward Said e, muito em especial, um autor sem o qual é difícil interpretar o século XX, Eric Hobsbawm. Porquê?
De qualquer forma, o saldo é amplamente positivo: estamos perante um livro muito interessante e muito clarificador. A ler.
5 comentários:
(gosto de chegar aqui e .. .é outro dia. O salto temporal faz-me sorrir. O simbolismo. A magia.)
Tomo nota desta obra de Pierre Grosser e da sua posição no mundo cultural francês, de que sou um profundo desconhecedor.
Sem dúvida que o ano de 1989 foi muito marcante na cena política internacional com os genésicos acontecimentos da queda do muro de Berlim e da repressão do protesto na Praça de Tiananmen.
Fukuyama fez furor no fim do século XX com a tese que nos citou, mas sem dúvida que a lucidez de S. Huntington e a magistral síntese do século XX de E. Hobsbawm, brada aos céus ignorá-las, em particular pela qualidade da magnífica obra "A Era dos extremos". Talvez, por detrás deste premeditado esquecimento de autores de outras Escolas epistemológicas esteja um excessivo bairrismo intelectual. Com efeito, a qualidade de um verdadeiro historiador mede-se pela riqueza, perspicácia e profundidade das suas sínteses. Se em Portugal A.H. Oliveira Marques foi um dos mestres desta arte, em termos internacionais E. Hobsbawm foi uma referência incontornável!! Tem toda a razão o seu pasmo, Embaixador Francisco Seixas da Costa, pelas ausências destas ancoragens bibliográficas.
Por mim, identifico-me mais com a metodologia e a epistemologia da Escola intelectual francesa, mas, não obstante, acho que devemos estar abertos aos contributos de outras perspectivas.
Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt
"Rendo-me ó só sei que nada sei"
A minha esperança em relação ao Sr. é que não se tenha debruçado sobre as seguidoras de Nightingale...
Era para fazer um bacalhau/bombástico, mas vou ficar pelo assado com batata a murro e uns pimentitos...
Tenho pouco que pesquisar...
Oh!Margarida... Help Me
Isabel Seixas
:) Isabel, confessei-me ignorante desde a primeira hora. Observo e apreendo o possível. Ou o essencial. Ou, mesmo, o suficiente. As escalas são múltiplas, tantas quanto os corações. Somos todos especialistas em alguma coisa. À volta o mundo gira vertiginoso; mantenhamos o equilíbrio. Entre a caneta e o bisturi.
Maggie e Isabel
Ser especialista de ideias gerais é uma profissão de grande futuro!
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