Algumas dezenas de mortos é, no momento que escrevo este post, o saldo conhecido dos confrontos no Quirguistão, uma das cinco Repúblicas da Ásia Central (que inclui também o Casaquistão, o Tajiquistão, o Turquemenistão e o Usebequistão). Esses Estados são produto da desintegração da antiga URSS e, no seu todo que está longe de ser homogéneo, projetam-se hoje ambições estratégicas, crises de desenvolvimento e ameaças ecológicas graves, fortes clivagens étnicas e diversas culturas políticas num longo, multifacetado e por vezes penoso curso de estabilização.
Em 2004, tive o ensejo de visitar profissionalmente - mas a expensas próprias, esclareço - todos esses cinco países, numa viagem que mais tarde sintetizei no artigo "Central Asia - not always a 'silk road' to democracy", publicado na revista da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), onde então era embaixador, que também pode ser lido aqui. Relendo esse texto, não vejo razões para retirar uma palavra ao que escrevi. Ou melhor: talvez eu estivesse ligeiramente mais otimista do que aquilo que o futuro viria a justificar. É que uma espécie de novo "Great Game", que a região experimentou no século XIX, voltou a renascer, embora em moldes e com protagonistas diversos. Para se ter uma ideia dos desafios que aí se colocam, basta atentar nas principais vizinhanças próximas dos Estados da Ásia Central: China, Rússia, Irão, Afenanistão e Paquistão.
A OSCE é, neste ano de 2010, presidida pelo Casaquistão, o maior e o mais rico dos países da Ásia Central. Será que isso pode vir a contribuir para uma mais eficaz intervenção na crise que hoje afecta os seus vizinhos do Quirguistão? À suivre...
2 comentários:
Precisamente por a Presidência-em-Exercício da OSCE pertencer agora ao Casaquistão, como aqui refere o Embaixador, tenho alguma fé que esta situação no vizinho Quirguistão poderá acabar por vir a ser solucionada. Quem, se calhar, melhor do que outro país, ainda por cima com as responsabilidades da Presidência daquela Organização, poderá estar melhor posicionado quer politica, quer geograficamente, para tentar estabilizar aquele conflito interno? Aqui está pois uma excelente oportunidade para o governo de Astana mostrar o que vale, mostrar aquilo de que é capaz, no seio da OSCE. Se não o conseguir, julgo que não será apenas este grande país da Ásia Central (o Casaquistão) a sair algo “diminuído” diplomática e politicamente, mas, quem sabe, a própria Organização para a Segurança e Cooperação Europeia. Sobretudo se aqueles confrontos se agravarem.
P.Rufino
A Rússia já veio mostrar quem é o dono do jogo...
alcipe
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