terça-feira, julho 21, 2020
Confissão
Onde anda a trovoada?
“Anda cá! Chega aqui!”.
Encostado ao muro de pedra da varanda da Casa do Pereiro, em Bornes de Aguiar, do lado do caminho, o meu tio Fernando, o mais novo dos irmãos da minha mãe, disse-me para olhar para o céu, onde raiava uma tempestade das antigas, com uma caloraça, soprada a vento, que, agora imagino, devia anunciar uma chuvada forte para dali a pouco.
Conto isto hoje, com toda a ciência e calma, mas, nessa altura, nos meus seis ou sete anos, estava completamente acagaçado com o ribombar dos trovões, com receio de que um daqueles raios acabasse por se despenhar sobre a casa dos meus avós, nesse início de noite de verão, depois do jantar.
Até a empregada lá de casa eu tinha visto a remoer orações a Santa Bárbara, prenúncio certo de que as coisas poderiam descambar para o torto. Em noites parecidas, na minha casa lá por Vila Real, havia assistido a tudo entrar no breu, com as luzes a irem abaixo, às vezes com estrondo, uma vela a surgir e alguém, mais jeitoso, a ir colocar um filamento metálico no fusível. Nada que sossegasse minimamente uma criança, filho único, nada dada a riscos, temente ao escuro e ao desconhecido! Ao lado do meu tio, contudo, sentia-me protegido, ao ver a sua coragem para enfrentrar os elementos, própria, penso hoje, de quem teve a infância no campo.
“Vais aprender a que distância está a trovoada”. Achei aquilo estranho. A trovoada andava por ali, saltitava, via-se, mas era um pouco etérea essa ideia de onde ela “estava”.
“Já viste que entre o instante em que vês o relâmpago, a luz, e o momento em que ouves o trovão, o ruído, passa um certo tempo?”. De facto, notara isso, mas nunca ligara muito, eu que nunca tive uma grande curiosidade pelas coisas da natureza.
Ele explicou-me, então: “A luz anda mais rápido do que o som. O raio é praticamente instantâneo. O som é mais “preguiçoso”, anda a 330 metros por segundo. O que é que são 330 metros? Olha, é aí do Fundo de Vila até à estrada para Vila Real. Quer dizer: por cada três segundos que o som demora a chegar, isso significa que a trovoada está a um quilómetro, que é três vezes essa distância. Agora, olha e ouve-a bem!”.
E lá fiquei eu a contar pelos dedos, num ritmo que equiparei a segundos, o tempo que me demorou a ouvir o som correspondente ao raio seguinte que vira no céu. E recebi uma lição de geografia rural: se fosse a dois quilómetros, em linha, a trovoada andaria aí por Rebordochão ou por Vila Meã, se passassem cinco ou seis segundos já estava em Vila Pouca ou, se fosse para norte, depois de Sabroso, ia a caminho do Reigaz e de Oura.
Esta noite, sob a fortíssima trovoada que desabou sob Lisboa, lá estive eu a fazer as minhas contas, trocando o Beato por Eiriz, Odivelas por Nuzedo, Algés por Soutelinho, a outra banda pelo Bragado. E lembrei-me que devo isso ao meu tio Fernando.
“Mas isso serve-te para alguma coisa?”, perguntará um cético, munido de alguma app que, se calhar, já foi criada para essas medições. Não sei, ou melhor, sei: sei que, entre saber ou não saber coisas, prefiro saber. Que se há-de fazer? Feitios!
segunda-feira, julho 20, 2020
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sábado, julho 04, 2020
Diplomacia
A anunciada atitude britânica face ao turismo com Portugal revela o que parece ter sido um lamentável viés, isto é, a utilização de índices que abertamente desfavoreceram o nosso país, em paralelo com outros. A ironia, que poderia ser utilizada se não se tratasse de um caso com sérias implicações económicas, é que, comparativamente com o Reino Unido, a situação sanitária portuguesa, sendo menos brilhante do que já foi, continua a ser bem mais positiva do que a que por lá se vive.
Tudo indica que Portugal tem toda a razão do seu lado e que o Reino Unido a não tem. Percebo assim perfeitamente que o ministro dos Negócios Estrangeiros tenha tido a reação que teve, porque era importante fazer chegar a Londres um sinal político forte da nossa insatisfação. Ele ficou dado e bem, como Augusto Santos Silva sabe fazê-lo. E o mesmo foi ecoado, com brilho, por um alto responsável político do principal partido da oposição.
Mas isto não é o Mapa Cor-de-Rosa! Haja bom senso e não se enverede por movimentos públicos de desagravo patrioteiro. Agora, começa um novo tempo: pelo menos por quinze dias (tempo em que se fará a eventual revisão da medida), tudo continuará nos termos que Londres anunciou. Há que encetar - e estou certo que isso já está a ser feito - um rápido trabalho de sensibilização, com base num diálogo sereno, para demonstração rigorosa das nossas razões, com base em critérios técnicos e científicos, credíveis e insofismáveis. É assim, e só assim, que se poderá conseguir reverter a situação. A diplomacia é isso.