sexta-feira, dezembro 30, 2016

Continuação!


Pensando bem, só há quatro tipos de portugueses, quando se trata de analisar o comportamento deste presidente da República.

O primeiro adora o modo como Marcelo exerce a sua função, acha que a sua quase ubiquidade é uma benesse para o país, tem uma leitura extremamente positiva sobre a sua compulsão para o comentário público, do Orçamento à morte de George Michael. É o mesmo português que, depois de uma década de cera, sente que tem, finalmente, um presidente que está próximo de si, com quem provavelmente já tirou uma “marselfie”, e que, em meia dúzia de meses, ajudou a descrispar o país e deu ao governo todo o espaço para executar a sua política, sem que Costa tenha o menor motivo de queixa, antes pelo contrário.

Há, contudo, outro português que, pelas esquinas, vai encontrando cada vez mais gente que pensa como ele. É o que, fazendo também uma avaliação favorável do mandato presidencial, acha que o presidente pode estar a ir longe demais na banalização da sua figura, que a vulgarização da sua presença e palavra o pode fazer perder espaço para uma intervenção que, um dia, requeira uma maior distância de tudo e de todos, a começar do próprio governo. Para este cidadão, alguma “gravitas” mais seria recomendável, num país como Portugal, onde o saber medir as distâncias é uma qualidade longe de generalizada.

O terceiro português é o “geringonço” militante, a quem Marcelo tem “dado muito jeito”, mas que começa a sentir alguma urticária ao ver o presidente envolver-se em terrenos que ele entende serem do domínio exclusivo do governo. O “geringonço” ficou algo incomodado com a cena da Cornucópia e interpreta a hiperatividade do presidente como um voluntarismo excessivo, um indisfarçável tropismo presidencialista, que pode vir a colocar em causa os equilíbrios de poder com o governo.

E existe, finalmente, o “viúvo”, o que “já perdeu a paciência para o Marcelo”. Detesta a subliminar postura anti-Cavaco do novo presidente e recorda-se bem do dia em que viu Marcelo entrar de rompante num congresso do PSD e "roubar o show" a Passos Coelho. O “viúvo” (coitado!) não teve outra solução senão votar Marcelo, mas cedo acordou do sonho frustrado de o ver puxar o tapete à “geringonça”. Agora acha que começa a chegar o tempo de denunciar o que lhes parece ser um evidente "fazer da cama" a Passos Coelho, a partir de Belém, com ou sem o almocito de ontem. Depois da consoada, vendo-se sem nenhuma prenda política no par de botas em que se meteu, já se deu conta que este ano não vai ter Boas Festas e de que está muito longe de poder vir a ter um Feliz Ano Novo. A este português, ao “viúvo”, apetece-me dizer o que, lá por Vila Real, lançamos àqueles com quem nos cruzamos na rua, entre a missa do galo e os Reis: "Continuação"…

7 comentários:

ignatz disse...

esqueceu-se do grupo mais importante, dos que nunca foram à bola com o marcelo e não votam em lacraus.

Anónimo disse...

Feliz 2017, Saúde e Paz, e que encontre um amigo como o do Sócrates !!!!

Manuel do Edmundo-Filho disse...

Já agora, em qual dos 4 tipos se enquadra o embaixador...?

Anónimo disse...

Uma continuação bem verdadeira, também...muito que deve ler se quizer;

"A indústria mais competitiva do país

ON DEZEMBRO 30, 2016 BY CARLOS GUIMARÃES PINTO

"No sector mais competitivo do país a precariedade laboral é total.
Qualquer um pode perder o emprego de um dia para o outro e não existem contratos sem termo.
Não existem progressões automáticas e o normal até é um trabalhador ganhar menos a partir de certa idade. Quase não existem greves.

Os conflitos são resolvidos por orgãos de justiça próprios, estando pouco expostos à lentidão normal da justiça portuguesa.
A desigualdade salarial é extrema, porventura a maior de qualquer indústria, mesmo dentro da mesma empresa (ou sociedade anónima desportiva). É um sector onde as offshores são usadas livremente, estando quase imune à crítica por parte dos sectores políticos habituais. É também um dos sectores que mais facilita a mobilidade social. A meritocracia reina. Coisas como apelidos e redes de contactos são muito menos importantes do que noutras indústrias.
Sem quotas, conta entre o grupo de melhores e mais bem pagos trabalhadores com muitas pessoas de raça negra, etnia cigana, madeirenses, açorianos e muitos jovens pouco qualificados.

É das poucas indústrias privadas que floresce em Portugal. Foi, mais uma vez, uma indústria vencedora em 2016. Que sirva de lição."

ignatz disse...

"Já agora, em qual dos 4 tipos se enquadra o embaixador...?"

é uma pergunta interessante, mas essas hipóteses são muito plebeias para embaixador. tem de ser qualquer coisa mais sofisticada e suficientemente ambígua para que ninguém entenda qual é.

Francisco Seixas da Costa disse...

o ignatz a mostrar-se engraçadinho...

Anónimo disse...

O ignatz pica-o, o senhor dá o flanco ao enumerar os diferentes tipos de portugueses na sua (deles) relação com o PR. É pena assobiar para o ar, como se não tivesse opinião sobre o assunto, como se pairasse sobre e acima da sociedade. Bom, tirando isso, a mim o que mais me incomoda no Marcelo é não distinguir a função do homem e, ao mal ver uma púrpura, desatar no beija-mão (anel). É como se 1911 não existisse. Para mais, com aquela hipocondria, nesse exercício ainda se arrisca a apanhar alguma doença má, pois da de beatério já está muito apanhado.

Fora da História

Seria melhor um governo constituído por alguns nomes que foram aventados nos últimos dias mas que, afinal, acabaram por não integrar as esco...