Gosto bastante das conversas, sempre curtas, com as maquilhadoras dos canais de televisão por onde, às vezes, passo. O ambiente parece o de um barbeiro, mas não é. Nesse caso - em que o meu barbeiro de décadas se converteu num amigo - a interlocução é mais prolongada. Com as maquilhadoras, a conversa é obrigatoriamente mais rápida, mas, às vezes, bem frutífera: já tive, dessas senhoras, boas dicas de restaurantes e de locais de férias.
Na maquilhagem, há quase sempre, depois do programa, um segundo tempo: a desmaquilhagem. Se o exercício é à noite, salto quase sempre esse passo, optando por retirar em casa, com água e sabão, aquela poeira amarelada que nos dá o ar de velhas senhoras pálidas (já dei cabo de várias toalhas de rosto, porque aquela "tinta" é, de facto, terrível). Há dias, à saída de um debate, ao dizer a um colega de painel, velho "routier" semanal de uma certa televisão, que o não acompanhava à operação de retirada da "cor", ele retorquiu-me: "Não, eu vou sempre à desmaquilhagem. É que aqui fazem isso tão bem que quase parece uma massagem à cara. Há umas semanas, ia mesmo dormindo na cadeira...". Um destes dias, vou experimentar.
Hoje, num outro canal, a conversa foi sobre outro sono, o eterno. Como se sabe, há agora uma mania de maquilhar os mortos. A senhora com quem falava, que nunca atendeu mortos, estava numa tarde "gloriosa", divertida mas algo mórbida: "Deve ser uma experiência interessante: não se mexem, não falam e não se queixam da cor". Não resisti: "E, depois, dão muito menos trabalho, não é?". "Depois"? Ela não percebeu logo. "Porque não há que desmaquilhá-los, depois". Ela concordou, com um sorriso. "Então até já!", esperando que eu regressasse daí a cerca de uma hora. Mas eu fiz de morto...
5 comentários:
Boa altura para reler "The loved One" (O Ente Querido na traducao portuguesa) de Evelyn Waugh. Satira mordaz sobre o negocio da dita maquilhagem em Los Angeles. Em 1965 Tony Richarson dirigiu um filme a preto e branco baseado na novela,com Robert Morse e Road Steiger. John Gilgud e Liberace aparecem tambem. Fiquei cheia de curiosidade de rever o filme, se ainda ai andar em DVD...
Bom fim de semana
F. Crabtree
Ora aí está meu, caro Francisco,.porque é que eu nunca passo na maquilhagem quando vou à televisão. Nem no cabeleireiro.
Uma vez que tal me aconteceu por ter saído de uma noite que acabou tarde, olhei para o espelho e não me reconheci. Ou antes,pareceu-me ter encarnado numa senhora muito da nossa tv. Fiquei vacinada!
Agora saio direitinha de casa para o estúdio maquilhada e penteada por mim por mim:..
Peço desculpa
So para assinalar este artigo de MMCarrilho que a meu ver merece ser lido
https://www.publico.pt/2016/12/10/politica/noticia/os-equivocos-de-sampaio-e-nao-so-1754233
Sr. Embaixador, quando vi o título pensei que ía falar do programa de TV marroquino em que uma maquilhadora ensinava as senhoras a disfarçar com a maquilhagem os ferimentos das agressões dos maridos. Isto passou-se há menos de um mês.
Mafalda
Grande Mafalda, haja mulheres de verdade !
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