sábado, dezembro 24, 2016

Minerva



Estive ontem na Minerva Transmontana, a tipografia de Vila Real onde acabo de mandar imprimir uma brochura ("fora do mercado", como se costuma dizer) de umas dezenas de páginas, recuperando memórias de família.

Olhei o ambiente daquela que sempre foi a principal casa impressora da cidade e vi-me por ali (as atuais instalações são vizinhas da outra) com 17 ou 18 anos, quando escrevinhava umas reportagens (e, muito cedo!, também umas crónicas, a "puxar" para o político) para "A Voz de Trás-os-Montes", o principal jornal da cidade.

Os meus textos eram entregues no escritório do diretor, o padre Henrique (Maria dos Santos), mas não havia a certeza absoluta de virem a surgir um letra de forma. Às vezes, presumo que fosse o diretor quem entendia que os artigos eram pouco interessantes, outras vezes sei que foi o lápis azul censório do capitão Medeiros que privou os leitores da "Voz de Trás" (como maldosamente alguns diziam) do "benefício" da minha prosa.

Por esse tempo, a minha angústia de cronista neófito era grande. O texto sairia ou não? Como sabê-lo, a montante da distribuição do jornal, sem o recurso humilhante à pergunta direta ao diretor? 

Um dia, dei-me conta de que tinha na tipografia um amigo de escola primária, o Esteves, filho de um polícia, mais conhecido pelo "Estevinho". Passei pela Minerva, chamei à parte o Estevinho e fui sincero: tinha escrito um artigo e gostava de saber se ele saía ou não. O Estevinho não estava ligado a esse setor da tipografia, tinha uma função muito subalterna, pelo que lhe era difícil espiolhar os textos do jornal. (E imagino que me tenha perguntado: "Mas por que é que não esperas pela saída do jornal?", coisa a que seria difícil dar uma resposta sensata). Mas lá se prontificou para ir saber. Repeti o truque duas ou três vezes, até que o rapaz se cansou. Passei então para o Carvalho, um amigo tipógrafo que eu tinha entretanto criado na Minerva, figura mais sénior, que passou a ajudar-me discretamente nessa angústia pateta de um cronista antes da publicação da crónica.

Caramba, e pensar que isto já foi há 50 anos! 

O Carvalho encontro-o às vezes na avenida (em Vila Real, quando se diz "avenida" é sinónimo de Avenida Carvalho Araújo), tem um filho que é um excelente cartoonista e bebemos um café, há meses, na esplanada da Gomes. O Estevinho vive há muito por Lisboa e cruzámo-nos, há dois anos, num evento transmontano. Hoje, 24 de dezembro, dia de consoada e de romaria "à Bila" dos expatriados, a hipótese de nos encontrarmos todos na "rua direita" sobe exponencialmente.

4 comentários:

Anónimo disse...

Bom Natal!

Vítor Nogueira

Anónimo disse...

... e para mais tarde recordar...e como será daqui a 50 anos?

josé ricardo disse...

E, já agora, caro embaixador, aproveite para verificar o lastimável estado de conservação da rua direita. E também (já agora, para os vila-realenses que nos escutam) da ironia que é ver o presidente da câmara Rui Santos a perorar nas televisões sobre as perigosas estradas e autoestradas circundantes e afins, e não ter o mesmo interesse e preocupação com as "estradas" (sem aspas estaria bem melhor, visto que são autênticas estradas dentro da cidade) de dentro da cidade. Vila Real voga num paradigma absolutamente contrário ao que deve existir na boa governança autárquica: as cidades existem, fundamentalmente, para as pessoas.
Boas festas.

Anónimo disse...

Ó Zé Ricardo e sobre os convénios Luso- Brasileiros da UTAD, não quer falar? é tema que querem bem abafadinho lá para as bandas da "bILA#.Ouvi dizer que alguns pedantes andam com ele apertadinho.

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