Foi numa daquelas estantes que, há muitos anos, encontrei o "Portuguese Irregular Verbs". É mesmo vício de livros ou vontade de gastar dinheiro, deve estar a pensar o leitor! Para quem é português, o que é que pode interessar um livro em inglês sobre um assunto gramatical tão especioso?
Também tive dúvidas, confesso, embora o surgimento do (pouco volumoso) volume naquela zona da Shakespeare & Cia, a mais interessante livraria inglesa de Viena, me tivesse despertado a curiosidade. Quem se dedicaria àquilo e porquê? Como na "Balada da Neve", fui ver... Afinal, a explicação era simples. Tratava-se de uma obra de ficção.
O livro, de Alexander McCall Smith, relata a divertida história (conto de memória) de um filólogo alemão que, com um zelo notável, terá empreendido um estudo aprofundado sobre tão escaldante temática. Segundo a novela, a edição do livro, em que espelhava toda a sua sabedoria sobre o assunto, não se terá consagrado num êxito estrondoso, se nisso descontarmos a satisfação proporcionada ao seu próprio ego.
O estimado professor lusófilo, de que o volume acolhe pormenores deliciosos de um seminário passado na Índia, e cujo grande objetivo de vida era ser agraciado com uma condecoração portuguesa (estou a pensar levar o assunto ao Conselho das Ordens) tinha como hábito procurar saber do destino das escassas centenas de exemplares da edição da sua obra-prima. E, por essa razão, sempre que se deslocava a casa de um amigo, procurava perceber o destaque dado nas respetivas estantes ao seu monumental e volumoso estudo, incontroverso referencial sobre a matéria no mundo gramatical da lusofonia. E algumas desilusões teve. Complexa foi, porém, a sua relação com uma namorada, dentista de profissão, a quem, como era natural, oferecera um exemplar dedicado da sua tão estimada obra. O único imponderável foi, contudo, o facto desse laço afetivo se ter entretanto desfeito, com a antiga afeição, por vingança, a decidir destinar a utilização do volume como apoio para o seu pé, no arranque de dentes aos clientes...
Há horas, dei uma saltada à Shakespeare & Cia, numa rua esconsa não muito longe da catedral, como sempre faço quando calha vir a Viena. Desta vez, comprei à Shelia um estudo sobre a atual política russa. À saída, recomendou-me: "não deixe que o saco de papel apanhe chuva. A impressão do nosso logo é feita à mão e fica logo tudo sujo". Já há pouco disto...
7 comentários:
Tenho impressão que ja ouvi esta histoira. Nao a tera contado antes? ou pelo menos falado do tal livro?
cumprimentos
Infelizmente ja ha pouco disto, e verdade.
Cheguei aos livros de Alexander McCall Smith por acaso, na seccao de policiais no Waterstones - Picaddily. Nao conhecia o autor e fui atras do titulo "Number 1 Ladies' Detective Agency". Titulo aliciante. Tudo se passa em Botswana e a detective, uma mulher, chama-se... Precious Ramotswe. Dai ao resto da coleccao fui um apice. Esgotados os policiais encontrei do mesmo autor as chamadas novelas de Glasgow. Recomendo "Expresso Tales at 44 Scotland Road". Para quem e viciado em bicas foi um mana! "Portuguese irregular verbs" foi a ultima aventura em que me meti. Como se diz no nosso pais "as tres fez vez". Vou reler Alexander McCall, esta visto.
Bom fim de semana
F. Crabtree
Não conhecia essa livraria mas amanhã passo por lá. Por acaso não me quer fazer o gosto de saber que outros lugares imperdíveis eu deveria visitar em Viena?
Desde já lhe agradeço.
OMI
Ao Anónimo das 20.02. Tem razão. Recuperei a referência ao livro feita noutra ocasião, já há quatro anos. Obrigado pela fidelidade ao blogue.
Caro/a OMI. Viena é um mundo! Não arrisco! Estaria aqui horas a escrever e não tenho tempo. Saindo da cultura para o prazer, deixo-lhe à sugestão de um belo restaurante: o Sole e dê um abraço meu ao proprietário Aki Nuredini. Ainda ontem lá encontrei o Plácido Domingo
Senhor embaixador desde ja lhe agradeco a gentiliza da resposta.
OMI
História muito gira.
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