A revista UP, que a TAP oferece aos seus viajantes, convida todos os meses uma personalidade diferente a escrever o seu editorial. A ideia é elaborar uma curta mensagem personalizada, em português e inglês, que estimule quem nos visita a conhecer algo mais sobre o país.
Tive o prazer de ser convidado a ser o "anfitrião" da UP do mês de novembro, que estará em distribuição a partir de amanhã. Tenho assim o privilégio de juntar-me a figuras como Miguel Sousa Tavares, Gonçalo M. Tavares, Clara Ferreira Alves, Lídia Jorge, João Lobo Antunes e muitos outros.
No meu texto, optei por estimular os visitantes para olharem para Portugal para além dos "clichés" dos guias turísticos e, muito em particular, a chamar a atenção para Trás-os-Montes, uma zona do país que a maioria estrangeiros, mas também muitos portugueses, ainda desconhecem - e não sabem o que perdem!
Mas é melhor lerem:
Uma vida passada em grande parte fora de Portugal fez de mim um quase
obsessivo turista no meu próprio país. Por décadas, parte importante das minhas
férias era passada a recuperar o que perdia no resto do ano. E essa viagem nunca
mais parou.
Nessas visitas, fui criando uma espécie de mapa, humano e cultural, do meu
Portugal afetivo. Frequentemente, dei por mim a testar, junto de amigos e
conhecidos estrangeiros que nos visitavam, esse meu íntimo guia sentimental. Para
tal, era importante transmitir-lhes alguns instrumentos para a compreensão do país.
E nada melhor, para isso, do que revelar o modo como eu próprio me comportava no
meu eterno regresso a Portugal.
São coisas bastante simples, como o atentar no movimento num largo
principal de uma aldeia recôndita, na alegria de uma festa popular numa
vilória, no silêncio de uma paisagem, de um miradouro improvisado. Mas,
igualmente, o gosto de nos sentarmos no «café central» das cidades de
província, olhando a coreografia social, o prazer em descobrir restaurantes e
tascas em locais recônditos, onde nos servem vinhos que não conhecemos, doces
que por ali se conservam por tradição. E também aquilo que se aprende ao
entrar em pequenas lojas, fora dos grandes circuitos de comércio, onde se
encontram coisas insólitas, entrecruzadas com conversas e amena simpatia.
É que, longe dos locais turísticos que os guias apontam ao visitante minucioso,
existe um Portugal sereno que, sem se impor, se oferece discretamente a quem o
visita. E em que vale a pena um visitante perder-se.
Desse Portugal, que não sendo imenso é, ainda assim, muito diverso, o que é
que eu selecionaria para apontar, como um destino seguro, a um visitante
estrangeiro disposto seguir o meu conselho? Um país feito de dureza de vida, de
beleza única, de gentes fortes e de caráter: Trás-os-Montes.
Trás-os-Montes é a natureza mais bravia que Portugal tem para oferecer.
Situado, como o nome indica, por detrás das grandes serras nortenhas, é um
mundo de paisagens deslumbrantes, de uma culinária preciosa, de cidades cheias
de história. Miguel Torga, o poeta que por lá nasceu, chamou-lhe, imodestamente,
“o reino maravilhoso”. E talvez não tenha exagerado. Para lhe dar razão, basta
atentar no rio Douro, que desenha a fronteira sul da região, obra ímpar da
natureza e do homem, no colorido das vinhas que são a sua riqueza, na majestade
dos seus vales profundos.
Vá a Trás-os-Montes! Arrisque perder-se naquilo que Portugal tem de mais
autêntico, genuíno e belo. E, depois, diga-me se eu não estava certo.
4 comentários:
E mais: levem as obras de João de Araújo Correia e poderão deliciar-se e andar para trás nos tempos do Douro e de Trás-os-Montes. Eu não sou de Trás-os-Montes (que adoro), mas de Trás-Serra (a Estrela)
Descobri recentemente os videos de uma bela região: as Arribas do Douro
vale a pena ver!
https://www.youtube.com/watch?v=KwQ4q6hrILs
https://www.youtube.com/watch?v=DhH5w9upKEc
Miranda do Douro...!!! Que Belleza ¡¡¡
http://www.cienciaviva.pt/veraocv/2008/downloads/Douro%20Norte%2008%20-%20web.pdf:
...Entre as províncias de Zamora e Salamanca, em Espanha, e os distritos de Bragança e da Guarda, em Portugal, localiza-se uma zona de vales fluviais encaixados, cuja espinha dorsal é o rio Douro. Uma estreita faixa com cerca de 10 km de largura estende-se por mais de uma centena de quilómetros, onde canhões fluviais de troços rectilíneos alternam com meandros e vales abertos. O espectáculo deste enorme canhão orográfico, profundo, extenso e selvagem, tem levado alguns a referirem-se-lhe como Grand Canyon Ibérico (PNDI, 1998)...
Felizmente em todas as regiões do nosso país existem tradições, culturas e costumes fascinantes que, a meu ver, são muitos injustamente esquecidas.
Eu li no aviao e fiquei encantada e com vontade de conhecer .
com carinho Monica
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