Conheci pessoalmente José Lello num encontro que Jaime Gama organizou no seu gabinete da Assembleia da República, juntamente com José Lamego, ainda antes da nossa tomada de posse no primeiro governo de António Guterres, em finais de outubro de 1995. Já nos havíamos cruzado algumas vezes, curiosamente sempre no estrangeiro, mas apenas em ocasiões sociais e circunstanciais.
Talvez porque algumas memórias comuns do Porto tivessem sido evocadas, entre o Zé e eu perpassou de imediato uma corrente de simpatia, que o tempo veio a converter em sólida amizade. Uma amizade de duas décadas, que nunca teve uma sombra, uma reticência, sempre sublinhada com um imenso e caloroso abraço, como aquele que, há meses, demos na Versailles, aqui em Lisboa, da última vez que nos vimos.
Correndo o assumido risco de entrar no terreno da polémica, mas julgando ter alguma autoridade profissional no terreno para afirmar o que penso, não tenho dúvidas em qualificar José Lello, a par de Manuela Aguiar, dos melhores secretários de Estado das Comunidades Portuguesas que a governação democrática produziu. Durante mais de cinco anos, tive o ensejo de acompanhar de perto o trabalho de Lello e pude testemunhar o entusiasmo com que se dedicou à tarefa e os excelentes resultados que na sua execução obteve.
José Lello era um personalidade frontal e com imensa coragem. Tinha alguns ódios de estimação e estes retribuiam-lhe no registo público com que ele os enfrentava e, não raramente, os afrontava. Tinha a palavra fácil, o coração ao pé da boca, mas uma grande lealdade aos amigos, típica da gente do norte. O sorriso, a alegria e a simpatia eram a sua imagem de marca. Caloroso, agradável e belo contador de histórias, ficou célebre a sua definição do "núcleo duro" do chamado "gamismo", isto é, dos apoiantes de Jaime Gama nos anos 80 e 90: "No gamismo, éramos quatro: o Jaime Gama, o Miranda Calha, o Eduardo Pereira e eu. Agora só somos três: o Gama saiu..."
José Lello morreu ontem. Deixo aqui um abraço sentido à sua família.
3 comentários:
Assino por baixo....
amigo dos amigos. e quanto aos inimigos ?
Bonita homenagem, sem dúvida. Mas era evitado essa da lealdade típica da gente do norte. Ora é a lealdade, ora é a simpatia, ora é o apego ao trabalho da excelente gente do norte... em contraste com o resto. E olhe que eu até sou do norte, enfim, 70km a sul do Porto, não sei se já tenho todos os predicados da brava gente do norte.
P. Felício
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