quarta-feira, outubro 26, 2016

Diplomacia e sindicalismo


Há momentos em que nos damos conta de que fechamos algumas portas na vida. Tive essa sensação hoje, ao final da tarde, ao assinar a última ata da minha "gestão" como presidente da Assembleia Geral da Associação Sindical dos Diplomatas portugueses, função que exerci durante os últimos dois anos, não obstante estar aposentado desde março de 2013.

Decidi pôr termo ao exercício desse cargo, por ter a perceção de que a minha distância face à vida das Necessidades era cada vez mais profunda e não tinha qualquer sentido estar formalmente ligado a algo que, para mim, se tornara quase uma realidade virtual.

Em Portugal, o sindicalismo diplomático nasceu, naturalmente, apenas depois do 25 de abril. De início, foi apenas uma estrutura associativa sem caráter sindical - razão que me levou, em 1977/78, a encabeçar um grupo de jovens diplomatas que se recusou a integrar essa Associação dos Diplomatas Portugueses, que acusei de "elitista", o que me levou a zangas com alguns de quem hoje sou grande amigo.

Tempos mais tarde, a associação passou a ser sindical e, coerentemente, inscrevi-me nela. No seu seio, disputei algumas "batalhas" pela definir um Estatuto para a carreira, tendo feito parte de várias comissões com esse objetivo, que foi finalmente conseguido, contra ventos e marés. Cheguei a ser vice-presidente da direção da ASDP até uma tarde em que, no meio de uma reunião de direção, recebi um telefonema de Jaime Gama a convidar-me para o governo. O comentário imediato de António Santana Carlos, presidente da direção, nesse final de uma tarde de outubro de 1995, ficou-me para sempre: "Passaste-te para o patronato...". Esse "patronato", creio, não tratou mal o sindicalismo diplomático e a Carreira, embora eu nada tivesse a ver com essas decisões.

Em 2014, depois de uma grande insistência, acedi a ser presidente da Assembleia Geral da ASDP. Fi-lo com imenso gosto, por poder participar numa estrutura sindical que, aos olhos de muitos, continua a ser algo atípica, por se mostrar fortemente solidária com as finalidades do serviço de Estado, tendo essa atitude na sua matriz genética.

Essa porta fechou-se hoje, sem a menor nostalgia, desejando agora aos colegas à frente dos destinos da ASDP a maior sorte e sucesso.

2 comentários:

Anónimo disse...

A Associação sindical nunca fez nada por nós.

Anónimo disse...

Serviu, em muitas ocasiões, de trampolim, para voos maiores, para quem lá estava em posição de destaque. E as diversas Tutelas nunca lhe deu qualquer importância. A ASDP é um saco de vento. É pena que assim tenha sido, mas é a realidade. E, ao que se vê, com esta nova Direcção, voltará à estaca zero, de onde procurou sair com a Presidência do Embaixador Manuel Marcelo Curto.

João Miguel Tavares no "Público"