terça-feira, maio 17, 2016

A tragédia do chavismo

Tudo indica que se aproximam momentos de extrema tensão na Venezuela. A liderança de Nicolás Maduro revela-se incapaz de encontrar soluções de natureza económica para superar a crise e a obstinada colagem ao poder deste sucedâneo de Hugo Chavez, que insiste em cortar todo o diálogo com a oposição, arrisca o país a uma catástrofe. 

Não nos pode indiferente esta crise grave numa Venezuela onde vivem centenas de milhares de portugueses. E a nossa impotência revela bem o que é a dificuldade de ação de um país como Portugal, sem meios para poder ser relevante numa questão que afeta um número muito substancial dos seus nacionais.

Maduro tem sido um presidente incompetente, mas os erros vêm de trás. Hugo Chavez e o seu sonho bolivariano, um socialismo populista cujo declínio seria acentuado em tempos mais recentes pela drástica quebra do preço do petróleo, desenharam um modelo político-económico assente no setor público, reduzindo sucessivamente espaço à economia privada, que passou a viver acossada e sob suspeição, mesmo o pequeno comércio onde operam muitos portugueses.

Nos tempos em que o petróleo alimentava os sonhos de Chavez, o Brasil era um dos grandes beneficiários das compras que a Venezuela fazia ao mundo. A balança comercial desequilibrou-se de tal forma em favor das importações oriundas do Brasil que, um dia, numa reunião bilateral em Caracas, segundo me foi contado por um ministro brasileiro presente à cena, Lula disse a Chavez algo como isto:

- O Brasil está a ganhar muito dinheiro com as exportações para a Venezuela e, à luz dos nossos interesses imediatos, eu provavelmente não deveria estar a dizer-te isto. Mas a verdade é que, a prazo, esta situação é insustentável para vocês. Não podem continuar a importar quase tudo aquilo que consomem. Há imensas coisas que poderiam produzir vocês mesmos. A Venezuela tem de criar empresas produtoras de bens essenciais.

- Tens razão! Estamos a pensar nisso. Vamos criar várias empresas públicas para a produção de bens de consumo.

- Mas eu não me referia a empresas públicas! Eu falava a dar espaço a empresas privadas, a capital estrangeiro. Há empresas brasileiras que podem estar interessadas em instalar-se aqui. Mas tens de lhes dar garantias, segurança para investimento.

A reação de Chavez foi imediata e inequívoca: 

- Privados? Não, privados não! Não queremos por aqui mais privados! 

5 comentários:

Jaime Santos disse...

Chavez começou a sua carreira política como coronel golpista, é bom não o esquecer. Acabou por conquistar o poder fruto do cansaço das classes populares, mantidas na miséria enquanto a oligarquia venezuelana beneficiava da riqueza petrolífera do País (isto lembra outro País onde também residem muitos Portugueses). Uma vez chegado ao poder, em vez de dotar a Venezuela de uma Economia Moderna diversificada, baseada na educação e no conhecimento, enveredou por um petro-populismo anti-capitalista, de traços perfeitamente terceiro-mundistas. A festa durou enquanto o petróleo esteve alto, com muitas tiradas anti-americanas a acompanhar. A crise que atinge a Venezuela também atinge outros produtores de petróleo, mas lá é particularmente grave, com um aumento a pique da criminalidade e racionamentos. O caldo perfeito para um golpe ditatorial final, seja de Maduro, seja de um militar qualquer. Quando será que alguma Esquerda da América Latina percebe que tem que deixar de tentar emular Cuba e começar a tentar emular a Noruega? Aliás, se tentassem emular o Uruguai, já não era nada mau...

Anónimo disse...

O Brasil acordou a tempo e despachou o governo socialista do Lula. Acorda Venezuelanos!!! Manda o Maduro, que já apodreceu, para os quintos dos infernos, junto com a Dilma e todo o bando do PT.

Anónimo disse...

Faz um favor aos portugueses: empacota as tuas malas e vai para a Venezuela ter com o Maduro.

Anónimo disse...

Embaixador, o que ai diz é verdade. Por isso é que sendo eu um defensor do socialismo democrático, sinto vergonha destes pseudo socialistas de teor populista. Mas olhe que os livros que o Joaquim Freitas tem lindo ao longo da vida dele, concerteza dizem que tudo isto é mentira e que o pobre o Maduro é vitima de mais um golpe tipo o do Brasil. Nem toda a gente teve a sorte de ler estes livros sábios que o Freitas leu. Já li centenas e centenas de livros, mas nunca tive a sorte de ler os livros sábios do Freitas.

Joaquim de Freitas disse...

Senhor Embaixador: Não quero dizer com o que segue, que não tem razão, sobre o erro dos países ricos em matérias primas, neste caso a Venezuela, e poderia dizer-se o mesmo de Angola, e numa certa medida do Brasil também, de ter descurado a necessidade de industrializar o país, enquanto as vacas eram gordas, com o preço do barril a 140 $.

Mas o que parece incrível, é que mesmo a Arábia Saudita negocia neste momento com o FMI para obter um empréstimo ! Não industrializaram mas investiram largamente à volta do mundo. Mas a população não ultrapassa os 31 milhões e a idade média é de 24 anos.

Mas que dizer do RU que Margareth Thatcher desindustrializou "à outrance", para investir na finança, na City, e que vê agora o erro cometido.

"It’s being blamed on the Brexit jitters. But the weakness in the UK economy that the latest figures reveal is actually a symptom of a much deeper malaise. Britain has never properly recovered from the 2008 financial crisis."

Mais ainda :

"How pathetic this performance is can be put into perspective by recalling that Japan’s per capita income during its so-called “lost two decades” between 1990 and 2010 grew at 1% a year."
At the root of this inability to stage a real recovery is the serious imbalance that has developed in the past few decades – namely, the over-development of the UK financial sector and the atrophy of manufacturing. Right after the 2008 financial crisis there was a widespread recognition that the ballooning financial sector needed to be reined in. Even George Osborne talked excitedly for a while about the “march of the makers”. That march never materialised, however, and manufacturing’s share of GDP has stagnated at around 10%."

E enfim :

The weakness of manufacturing is at the heart of the UK’s economic problems. Reversing three and a half decades of neglect will not be easy but, unless the country provides its industrial sector with more capital, stronger public support for R&D and better-trained workers, it will not be able to build the balanced and sustainable economy that it so desperately needs."

Tudo isto no "The Guardian" de hoje. "Making things matters. This is what Britain forgot
Ha-Joon Chang

25 de novembro