domingo, abril 19, 2015

Etiópia


Há dias, ao olhar o catálogo da exposição - que imagino excelente! - organizada sob o patrocínio do embaixador português em Adis Abeba, António Luís Cotrim, sobre a fase contemporânea das relações entre Portugal e a Etiópia, que agora fazem 500 anos (!), descobri, na respetiva capa, a fotografia que me faltava. Eu explico.

O anedotário popular português durante a ditadura, era feito de pequenas historietas, que se pretendiam ridicularizadoras do regime e das suas figuras. Vistas à luz do humor de hoje, essas graças têm uma inocuidade quase infantil. Mas, à época, repetidas à boca pequena nos empregos e nos cafés, constituiam-se como um subtil discurso de resistência, denegridor da seriedade formal com que as personagens do poder sempre gostam de se revestir.

Uma dessas anedotas dizia respeito à chegada a Portugal, em 26 de julho de 1959, do imperador da Etiópia, Hailé Selassié. Esta visita de Estado, integrada numa frustrada sedução de líderes "do sul" para amenizar a pressão internacional sobre a política colonial portuguesa, processava-se cerca de um ano depois da grande "chapelada" eleitoral que havia colocado o contra-almirante Américo Tomaz no palácio de Belém. O sufrágio havia sido comprovadamente recheado de fraudes, o que, para muitos, terá inviabilizado a eleição do candidato opositor, o general Humberto Delgado. Por essa razão, a legitimidade política de Tomaz, como presidente, era, à época, ainda muito contestada em largos setores portugueses.

O Negus, com um capacete esplendoroso coberto de penas, foi recebido no Cais das Colunas, em Lisboa, em "grande estadão", pelo novo presidente da República, este com o "bicórnio" de gala. E é assim que a pequena "história" humorística regista o que teria sido o primeiro contacto entre os dois:

- Eu sou Américo Tomaz, presidente de Portugal.

- Eu Selassié (leia-se "sei lá se é")...

*Até agora, não tinha conseguido a fotografia ilustrativa do momento caricaturado. Ela aqui fica agora, imagino que extraída dos arquivos etíopes.

5 comentários:

Portugalredecouvertes disse...


As fardas dos dois senhores são espetaculares !

Anónimo disse...

absolutamente marginalo ao postado, mas não ao comentado, as fardas, são fardas.

era a época, e ainda hoje as de maior gala são mais vistosas. Na regulamentação perdeu-se o bicórnio e as dragonas, mas na GNR montada ou em guarda de honra não persistem tradições de fardamento? Não usam ainda hoje alguma tropa italiana estes penachos do negus? natural é que a etiópia mantivesse resquícios do modelo imperial europeu que conhecera ainda tão há pouco.

o que é uma casaca para apresentar credenciais a um chefe de Estado ou para casamentos diurnos entre Espíritos Santos que não uma coisa espectacular?


veja-se, por exemplo, http://www.telegraph.co.uk/news/obituaries/1568344/Lord-Michael-Fitzalan-Howard.html

é quase como gozar com as patilhas no 25 de Abril ou os bigodes nos anos 1980 (ou agora).

é a falta de cultura histórica, social e entendimento das diferenças e dos tempos que leva a gozar com as roupas e fatos de treino dos líderes venezuelanos e cubanos ou de mujica, ou com as meias de cavaco quando chegou a pm.

e tanto que há de mau a dizer de Tomás ou de Cavaco


Anónimo disse...

Bem me recordo desta data, pois fiz parte de uma guarda de honra na Praça do Comércio, aquando da visita do "Sei lá se é". O mais dramático nessa altura, é que um soldado nosso desmaiou devido ao calor que se fazia sentir durante a parada.

Anónimo disse...

Muito melhor as fardas à Guevara dos saudosos da 5ºa Divisão e "acompanhantes". sabe bem de que falamos e juramentos idiotas do RALIS !

Anónimo disse...

Ainda gostava que gente como 20 de abril de 2015 às 17:08, ignorante do que se diz em 19 de abril de 2015 às 12:44

me explicasse o que tem de mais idiota o juramento de bandeira de punho direito fechado que o juramento de bandeira de saudação cesarista.

confesso não perceber, mas a incultura alheada das categorias discursivas significantes deve ser minha.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...