Na espuma dos dias, não nos damos por vezes conta de
como somos subliminarmente condicionados a construir raciocínios com base em
circunstancialismos que vêm a revelar-se com alguma precariedade.
Vem a isto a propósito dos "países
emergentes". Por alguns anos já, assistimos à criação, no imaginário
mundial, de uma espécie de deslocação inexorável do poder do velho e decadente
mundo ocidental para os novos "tigres" económicos, cujas taxas de
crescimento e crescente afirmação em determinadas áreas produtivas prenunciavam
uma definitiva reversão dos equilíbrios de poder à escala global.
Tendo a China a servir de farol, uma “nova ordem”
mundial foi anunciada, sob a pressão de níveis impressionantes de crescimento,
do aproveitamento das rotas da globalização, de modelos de projeção estratégica
de poder tidos por imparáveis.
Com a crise, e com o colapso das economias ocidentais,
prenunciador de uma fragilidade dita irreversível, foi mesmo passada uma
"certidão de óbito" ao velho G8, com o G20 (que hoje acolhe quase o
dobro de países) a surgir como o modelo institucional alternativo, quase já só em
busca de uma consagração institucional na ordem multilateral. Por detrás dele,
os BRICS e outras “estrelas” despontavam como o eixo desse mesmo poder. Várias
outras economias surgiam nesse horizonte, tido já como o do futuro, de que a
Turquia ou mesmo Angola foram também heróis do dia.
A realidade, porém, tem muito mais imaginação do que
os homens e, às vezes, troca-lhes as voltas.
O Brasil vive a crise que todos conhecem. A economia
angolana passa por um sufoco, com a queda do petróleo. Fruto conjugado deste e
de outros fatores adversos, a Rússia está em sérias dificuldades. China e
Turquia, sem terem problemas de igual dimensão, e cada um à sua maneira, passam
por uma redução sensível das perspetivas de crescimento e acumulam tensões
políticas. E vários outros “emergentes” revelam debilidades estruturais que
provam que a sustentação no tempo do seu êxito ainda não está garantida.
E o mundo ocidental? Os Estados Unidos estão a sair da crise com a economia saneada dos pecadilhos financeiros e com níveis invejáveis de crescimento e emprego. A economia europeia, não tendo a mesma pujança, mostra já uma tendência de retoma, tendo atrás de si modelos de bem-estar global e de estabilidade social que nenhum dos “emergentes” poderá, por muitos anos, vir a disputar.
Quero com isto dizer que, apesar das suas crises e limitações de competitividade, a economia euro-americana bem pode dizer, como Mark Twain, que as notícias sobre a sua morte são muito exageradas.
E o mundo ocidental? Os Estados Unidos estão a sair da crise com a economia saneada dos pecadilhos financeiros e com níveis invejáveis de crescimento e emprego. A economia europeia, não tendo a mesma pujança, mostra já uma tendência de retoma, tendo atrás de si modelos de bem-estar global e de estabilidade social que nenhum dos “emergentes” poderá, por muitos anos, vir a disputar.
Quero com isto dizer que, apesar das suas crises e limitações de competitividade, a economia euro-americana bem pode dizer, como Mark Twain, que as notícias sobre a sua morte são muito exageradas.
(Artigo que hoje publico no "Jornal de Notícias")
2 comentários:
Na realidade, as economias não crescem em modo solitário; levam sempre outras a reboque. Contudo, e dado que os crescimentos económicos (excetuando aqueles fictícios que são obtidos através da emissão de moeda ou de uma invasão militar a um qualquer país produtor de petróleo) se acham limitados ao crescimento de outras economias, portanto, sujeitas a um movimento semi-universal em espiral, as crises económicas serão uma constante. Conclui-se então que, embandeirar em arco se uma, duas ou três economias mundiais apresentam sinais de crescimento, não faz sentido. O importante é pensar de que forma as economias mundias poderiam equilibrar-se e adquirir sustentabilidade. Isso é que era de valor e não, nunca, jamais, as guerras financeiras, as especulações bolsistas e ainda menos a promução de conflitos armados e a exploração do trabalho humano.
MORREU JOSÉ MARIANO GAGO.
País muito mais pobre hoje
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