quarta-feira, setembro 04, 2013

Mundos


Lembrei-me há pouco de uma cena, passada neste mesmo aeroporto de Roma, onde agora estou.

Foi há mais de uma década. Vinha do Irão, onde fora chefiar uma "troika" de diálogo político com as autoridades locais. No voo da Iranair que nos trazia de Teerão, todas as mulheres seguiam as determinações religiosas, com as cabeças devidamente tapadas. A ausência estrita de bebidas alcoólicas a bordo ajudava a lembrar-nos que o ambiente comportamental em terra tinha o seu estrito prolongamento no ar.

Chegados ao corredores de Fiumicino, notei que uma revoada de passageiras se agitou em direção às primeiras casas de banho públicas que surgiram, como se uma súbita urgência diurética tivesse atacado a ala feminina dos viajantes desembarcados desse voo.

Bastaram alguns escassos minutos para se entender melhor a razão de tudo. Do local para onde tinham entrado essas figuras embrulhadas em trajes escuros, de cabelo tapado e longas vestes, saíam sucessivamente mulheres em roupas bem ocidentais, muito bem pintadas e com belos adereços, com cabelos magníficos, algumas tão belíssimas como as iranianas frequentemente podem ser.

Enfim, para citar H. G. Well, esta é, de uma certa maneira, uma "guerra dos mundos". 

17 comentários:

opjj disse...

Dúvida metódica - Apesar destas mudanças se calhar respeitam mais a sua condição feminina e a família que as ocidentais.Certamente que não andam de relação em relação como se fossem um produto reutilizável.

BH




Anónimo disse...

... e elas são bem bonitas, com muito sex-appeal. Que pena taparem a cara, mas a isso são obrigadas...

Anónimo disse...

O véu por vezes até lhes dá uma certa sensualidade. Mas que no Irão há mulheres muito bonitas, é um facto. Como na Turquia também, embora este seja um país bem diferente, apesar de tudo.

Joaquim de Freitas disse...

A explosão extraordinária das transgressões no mundo é um evidência. Ela provém da nossa posição intermediária entre o religioso e o leigo. Navegamos numa espécie de "no man's land" entre um mundo fortemente moralizado e um mundo do direito. Pouco a pouco a sociedade humana abandona as sua interdições religiosas em benefício das interdições leigas.

Passamos lentamente da moral à lei. E não estamos conscientes de evoluir neste espaço "charnière"!. Se o estivéssemos, aceitaríamos sem duvida a sobreposição cooperativa entre religioso e laico para evitar esta explosão de transgressões morais e éticas.
Desde a separação da igreja e do estado, a moral religiosa encontrou-se marginalizada pelo mercado. A moral foi mais ou menos expulsa ou pelo menos minimizada pela lei laica que impera nos nossos países.

Da mesma maneira, entre mãos criminosas, a religião pode acabar por ser mortífera. Pode tomas a forma de guerras e ódios (as cruzadas, por exemplo). Pode ser também um factor de submissão da mulher e de limitação do progresso. Mas na realidade, a religião não é ela que devemos censurar. São, antes de mais, os homens que detêm as rédeas que são condenáveis. A mesma coisa para o liberalismo.

O que o Sr. Embaixador viu no aeroporto de Roma, foi a fuga do religioso em direcção do mercado! Duma certa maneira!

Anónimo disse...

só para inglês ver ou somente Alá?

Anónimo disse...


Em Roma sê romano e grego em Atenas.

Anónimo disse...

Em Roma, como os romanos ...

N371111

Anónimo disse...

Os americanos que têm sempre ideias luminosas para rentabilizar o dólar nem sei como ainda não imaginaram uma exposição de “A Origem do Mundo”, de Gustavo Courbet, cujo acesso ao museu podia mesmo ser com Burka integral porque o que importa é ganhar dinheiro!
Ainda não pensaram!
José Barros

Helena Sacadura Cabral disse...

Em Roma sê romana...

Isabel Seixas disse...

Será que também despem as castradoras diferenças de género e se vestem de confiança no uso dos direitos humanos caminhando para a "equidade" de género...?

Anónimo disse...

Quanto a assuntos de religião, sendo uma coisa da vida privada de cada um, não me pronuncio. Quanto às fardas.... cada um tem a sua na respectiva profissão.

Anónimo disse...

Desperdícios...

Guilherme.

Anónimo disse...

Conta-se nos blogs de viagens que um dos trajetos mais engraçados para fazer é o de comboio entre Teerão e Ankara. E não é só pelas belezas do caminho mas também pelo que aqui é descrito. As mulheres libertam-se ao entrarem na Turquia e as pessoas "atiram-se" aos ocidentais, desejosas de notícias e conversa, ao mesmo tempo que lhes vão oferecendo comida e bebida.

Anónimo disse...

Aconteceu-me o mesmo todas as vezes que fui ao Irão mas no próprio avião. À ida, as hospedeiras e os comissários de bordo anunciavam a aterragem muito mais cedo que o habitual noutras paragens para as passageiras se poderem tapar. À volta, mal se anunciava que o sinal de apertar cintos tinha sido desligado era outra correria para as casas de banho-e saíam de lá verdadeiras top-models! Mas isto era possível na Lufthansa ou na então Swissair e não na Iran Air...

Anónimo disse...

Afinal, Roma também se presta para as "escapadelas" sem burka!

Isabel BP

Isabel I disse...

Dúvida metódica - será que BH gostaria de ver as " ocidentais" de burka e mais respeitadoras da sua condição feminina (???). Será que BH é taliban?
Eu estou consigo sr. Embaixador, que belo espectáculo deve ser esse despir da burka, esse libertar das grilhetas, esse grito do Ipiranga! Não há nada mais belo e mais sexy que uma mulher livre!

Anónimo disse...

cara Isabel I

nao sou o BH acima mas contraponho-lhe o caso das francesas francesas que as ha e que usam veu, e mesmo veu integral (claro dentro da liberdade de o poderem fazer o que em frança nem é o caso, mas bom...)

e uma questao talvez relacionada é a questao das liberdades e do numero de filhos, no libano e em israel quem tem mais filhos nao sao os moderados, sao os radicais (muculmanos e judeus respectivamente), na europa em alguns sitios passa-se a mesma coisa; a demografia altera as liberdades a medio prazo..



cumprimentos

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...