domingo, agosto 28, 2011

Ricos

Um pouco por todo o lado, a crise fez renascer a questão da tributação dos "ricos". Em França, o governo, desde há uns meses, decidiu acabar com o chamado "bouclier fiscal", uma medida introduzida no início do mandato do presidente Sarkozy, que previa que ninguém podia pagar em impostos mais de 50% do seu rendimento, com vista a tentar fixar as fortunas no país. Agora, no quadro de um pacote de austeridade, foi criado um novo imposto, com prazo de aplicação limitado, para os grandes rendimentos. Ou é impressão minha ou a medida acaba por ter mais de simbólico - num momento em que às classes médias é pedido um esforço acrescido - do que de rentável para os cofres públicos.

No nosso país, vejo que o debate também está aberto. Modestamente, como cidadão comum que sabe tanto disto "como de um lagar de azeite", e com a maior sinceridade, interrogo-me sobre o que, a prazo, traria mais vantagens para o erário: procurar tributar de forma acentuada os rendimentos desses mais afortunados ou, em alternativa, garantir-lhes exonerações fiscais por cada posto de trabalho permanente que, através de investimentos feitos (sem a menor comparticipação do Estado, nem qualquer ajuda comunitária), eles conseguissem criar? Os ricos que paguem a crise? Claro, criando empregos. Como alguém dizia: "é fazer as contas..."

18 comentários:

Mônica disse...

Santo Deus!
A gente vive e morre com tributos e impostos.
com carinho Monica

Helena Sacadura Cabral disse...

Estou bastante de acordo consigo. E depois há entre nós uma enorme confusão entre rendimento e património... que se torna sempre muito conveniente para taxar o trabalho!

Fada do bosque disse...

As elites portuguesas viram-se apanhadas numa onda de responsabilidade social e não sabem como sair da situação de forma mais ou menos airosa sem criar, ainda mais, conflito social e ressentimento. O que este debate provavelmente irá começar propor é um aumento do IRS para o último escalão mas claro que isso seria enganador porque esses não são os ricos, como aliás explica muito claramente Carvalho da Silva neste pequeno comentário; no caso dos verdadeiramente ricos os seus rendimentos são inconstantes, móveis, só taxados ocasionalmente e nunca com impostos sobre o trabalho. Mas o que está verdadeiramente em discussão não é uma questão de fiscalidade ou legalidade mas sim de solidariedade nacional e civismo. Se não sair nada, que realmente nivele o fardo económico e social da crise, desta iniciativa o povo português sentir-se-á, ainda mais, abandonado e traído pelas suas elites económicas e perceberá de uma vez por todas que os interesses desta mesma elite divergem, enquanto classe social, dos do resto do país. Fonte

Paulo Abreu e Lima disse...

Conclusão: o cidadão comum Francisco Seixas da Costa sabe muito de lagares de azeite!

Quanto ao património, sou completamente contra a sua taxação por razões que parecem óbvias.

Cordialmente,
PAL

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Paulo de Abreu Lima: ninguém por aqui falou de património

Paulo Abreu e Lima disse...

Senhor Embaixador, veio na sequência dos comentários que li antes de ter escrito o meu, designadamente da Helena Sacadura Cabral.

Julia Macias-Valet disse...

Gostei bastante do texto...mas muito mais da escolha de PICSOU para o ilustrar : )))

Julia Macias-Valet disse...

Por causa da imagem do Tio Patinhas lembrei-me desta historia :

Um cigano estava com o filho a ver uma corrida de toiros, quando de repente diz o miudo para o pai :

- Eh pai, gostava mesmo de ter esta praça de toiros rasinha de dinheiro.
O cigano-pai alça a mao e da um cascudo ao rapaz. O miudo nao comprendendo a reacçao do pai diz :
- Atao agora bate-me !?
- Ah rapaz, atao que mal te fazia o cagulo ???

PS Para os menos à vontade com as expressoes do sul :
cascudo = palmada de raspao
cagulo = alto pino.

Helena Oneto disse...

Se fosse rica dava tudo aos pobrezinhos. Não sou, hélas!

Isabel Seixas disse...

O post é bem vindo, e concordo na integra com a solução alternativa...

Gostei tanto dos lagares de azeite, há uns tempos que me tinham adormecido como expressão, embora não os considere passiveis de personalização em Si, por cá até deviam ser expressão corrente de oportuna...
Isabel Seixas

Anónimo disse...

Que saudades me fez o Tio Patinhas!

Ainda a procura da moedinha numero um? E os irmaos Metralha? Enfim na cadeia? Ou em liberdade condional e preventiva?

Saudades de Londres

F.Crabtree

ARD disse...

Quer dizer: não aumentemos os impostos dos ricos, vamos diminui-los ("garantir-lhes exonerações fiscais")
Parece-me que essa ideia é defendida por muitos sectores.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro ARD: leia tudo...

ARD disse...

Senhor Embaixador,


O que quis comentar, inabilmente, claro, foi que a ideia de que MAIS benefícios fiscais além dos que já existem para a criação de emprego (a mero título de exemplo, porque há mais, cito o Estatuto dos Benefícios Fiscais, o Decreto-Lei n.º 89/95, de 6 de Maio, o Decreto-Lei n.º 34/96, de 18 de Abril, o Despacho Conjunto n.º 561/2001, de 22 de Junho e a Lei n.º 53.º-A/2006, de 29 de Dezembro) pode contrabalançar as vantagens de um imposto extraordinário sobre alguns dos rendimentos mais altos de Portugal, é frequentemente exposta e encobre uma falácia. E se os juntarmos ao inenarrável corte da TSU, estamos conversados…
É preciso lembrar, como reconhece o insuspeito Prof. Cavaco Silva, que “os sacrifícios exigidos nos últimos tempos não se dirigem a todos os portugueses".
E não falo de um “imposto sobre as grandes fortunas” ou sobre o património, apenas porque uma discussão sobre isso, face à oposição epidérmica que suscita, seria mais complexa.
Mesmo não indo por aí – e poderia ir-se, sem os inconvenientes catastróficos que os economistas do pensamento único agitam – basta ver como o imposto extraordinário sobre o 13º mês foi desenhado para se aplicar, apenas e só, aos rendimentos do trabalho, beneficiando quase obscenamente os rendimentos de capital e da especulação financeira, para tentar procurar outras vias de restabelecer um mínimo de solidariedade entre os vários extractos da sociedade portuguesa.

Paulo Abreu e Lima disse...

Impressão minha, ou paira por aqui uma certa "ressaca" por determinado jogo que também utilisa relvados e bolas como o golfe (com iva a 6%) associado aos mais abastados...? :))

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro ARD: concedo que posso estar enganado e que os incentivos à criação de emprego existentes sejam suficientes. Porém, a julgar pelas contas feitas no caso francês, uma maior taxação dos mais elevados rendimentos apenas traz vantagens relativamente modestas para o erário público, muito embora reconheça que contribuiria para uma maior equidade fiscal. A minha "proposta", feita de uma forma "impressionista", destinava-se a sublinhar que, numa fase em que o crescimento é a palavra-chave e em que está posto de parte o recurso a algum neo-keynesianismo, há que encontrar a forma mais adequada a estimular o investimento privado. Compreendo que haja quem preferisse outro sistema, maseste é o que temos e é no seu seio que temos de descobrir as soluções.

patricio branco disse...

Tributar os mais ricos está correcto, mas encontra muitos obstaculos e dificuldades, ratoeiras, etc: tributar a pessoa singular ou tributar as empresas e sociedades de que são proprietários ou accionistas?
o professor marcelo disse ontem que um conhecido milionário (magnate, empresário) português declarava no irs (como pessoa singular) rendimentos iguais aos seus, no entanto a fortuna dele era milhares de vezes superior à sua (a do pof.).
Começa no entanto a aparecer em vários paises desde eua a alemanha, ue, um movimento filantropista e voluntário de magnates (ricos) dispostos a pagarem mais ou contribuirem.
Talvez a solução seja essa, o magnate empresario português referido pelo professor que siga o exemplo dos buffet e outros.

Anónimo disse...

Junto-me àqueles que adoraram a sua humildade financeira. E foi, na minha opinião, essa humildade que o fez ver as coisas com um belo raciocínio.

Elogio feito, vamos ao comentário propriamente dito:
Acho que nesta panóplia de opiniões do Pato Donald existe uma certa mágoa de não ser rico. Por outro lado, o Tio Patinhas, nada quer saber de responsabilidade social.

E já que se falou, por aí acima, de património:
Na minha opinião, nunca uma sociedade pode vingar sem trabalho nos mínimos, produção. Taxar o que já foi taxado é como tirar fundos de uma conta poupança para colmatar o excesso gasto dum orçamento. Quer se queira quer não, a solução parte sempre pela via do trabalho. Trabalhou-se e apurou-se 100, se se tiver que contribuir com 20, fica-se com 80. Se destes 80 se se gastar 80, assunto arrumado, se se gastar só 70 poupa-se 10. Com estes 10, compra-se um quadro. O valor do quadro já pagou impostos por isso, não faria sentido ser-se taxado por se ser poupado. Desculpem a forma pueril (deve ter sido por causa do cartoon).

25 de novembro