domingo, março 20, 2011

Três notas líbias

1. Ontem, ao final da noite, quando a aviação da coligação já bombardeava alvos militares na Líbia, passei pela ponte Bir Hakeim, sobre o Sena, e lembrei-me que o seu nome comemora a batalha onde o exército francês combateu com sucesso, no deserto líbio, as tropas do "eixo" italo-alemão.

2. Por que será que, mesmo aceitando eu como boas e razoáveis as razões de base que justificam a ação militar em curso, não deixo de sentir um certo mal-estar com esta guerra? Será apenas por ser uma guerra? Será, egoisticamente, por ter lugar tão perto da Europa? Será pela ideia de que se sabe sempre como uma guerra começa, mas nunca se sabe como e quando ela acaba? Ou será pela certeza de que os "colateral effects", isto é, as vítimas civis, são particularmente difíceis de medir numa operação militar com as caraterística da que está em curso? Não sei.

3. Um dia, na Líbia, nos anos 70, olhei em volta e dei-me conta que tudo estava escrito em árabe. Com uma exceção: as tampas de ferro do saneamento do centro de Tripoli tinham os seus dizeres em italiano, a língua da colonização, desde 1912 até à independência, em 1951.

11 comentários:

manuel augusto araujo disse...

meu caro Seixas da Costa
não estará de acordo com todo o conteúdo deste post que publiquei no meu blog mas mas muito do seu mau estar julgo também está reflectido nem muito do que escrevi.
http://pracadobocage.wordpress.com/2011/03/20/exterminem-todas-as-bestas/

Carlos Fonseca disse...

As razões do seu mal-estar prendem-se, provavelmente, com todas as interrogações que faz.

E que eu tomo a liberdade de subscrevr, se tal me for permitido.

Não simpatizo mesmo nada com o ditador líbio, mas gostava de saber se, não havendo por lá petróleo e gás, os países que agora tanto se preocupam com o povo líbio - incluindo o Nobel da "Paz", Obama - não continuariam quietinhos, ficando-se pelas pias declarações de solidariedade do costume.

Carlos Fonseca

juliomoreno@sapo.pt disse...

Sentirá V.Exa. o mesmo que eu sinto? Vacilando entre o que seja uma humanitária decisão de protecção das populações contra as arbitrariedades de uma ditadura ou porque admite que as razões subjacentes a tão drásticas, diria mesmo, ferozes, tomadas de atitude se devam a duas, ambas elas, inqualificáveis atitudes: - a garantia do "acesso livre" ao diamante negro e à manutenção dos postos de trabalho de alguns milhões de trabalhadores hoje laborando na indústria de armamento (6 milhões só nos USA!) e o imperioso "escoamento" dos armazéns onde o "produto" acabado, se concentra e antes de que este "perca a validade"?...

Mário Machado disse...

Devo confessar tenho vergonha dos laços com Kadahfi que o Brasil manteve. É uma afronta a memória de quem viveu sobre uma ditadura, como nós vivemos.

Mais patético foi esse ter sido sempre chamado de amigo e irmão por certo líder que tivemos até recentemente aqui.

Ainda assim, não há alegria que advenha do inicio de uma guerra.

Anónimo disse...

Interessante Post. Cujo conteúdo merece alguma reflexão.
Pegando no que um comentador aqui referiu, pergunto: e se a Líbia ficasse situada algures na África profunda, não tivesse petróleo ou qualquer outro recurso natural de que o Ocidente necessitasse, mas o seu “líder” e clique que o rodeava mantivessem um clima de opressão sobre a população, de genocídio, etc. Haveria uma intervenção da dita “C.I” (a tal Comunidade Internacional, sempre atenta aos desvarios dos malandros que ousam beliscar – directa, ou indirectamente - os interesses ocidentais)? Não é de crer, convenhamos.
Talvez “pouco atenta” a C.I “esquece” que na Coreia do Norte existe muito possivelmente um dos piores e mais selváticos regimes que subsistem no seu seio…todavia, nunca se ouviu falar numa proposta para derrubar tão insano regime e libertar a sua população, vítima de tal ditadura.
Estas “guerras”, ou “ataques libertadores” deixam muito “a desejar”, sobretudo, muito a pensar.
Tal como o autor deste Blogue (e deste Post), também…”não sei” o que pensar.
Preocupa-me designadamente o cada vez maior número de guerras, conflitos e sobretudo o recurso cada vez mais frequente de se optar pelo apelo às armas (ou uso de armamento diverso) para as/os solucionar. Será caso para começarmos a descrer da Diplomacia? Da utilização de outras formas de pressão (como a económica)? De novo: “não sei!”
Este Mundo (Global) está a ficar perigoso. Lá isso está!
P.Rufino

Ana Paula Fitas disse...

Caro amigo,
Faço link... e agradeço!
Bem-haja!
Abraço.

Anónimo disse...

O Senhor Embaixador quis dizer no seu ponto 3 que a colonização só trouxe à Libia coisas transportáveis pelo saneamento básico?

CSC

Helena Sacadura Cabral disse...

Compreendo muito bem o seu mal estar Senhor Embaixador. No meu caso reconheço que a proximidade da Europa me preocupa, para além das outras.
Mas reconheço que P. Rufino tem muita razão nas razões que o seu comentário invoca.
O ser humano nunca é completamente alguma coisa...

Anónimo disse...

De facto Senhor Embaixador é estranho sentirmos essa inquietação quando, afinal,seria de esperar que estivessemos satisfeitos com oa anunciados objectivos da intervenção.Parece, em boa verdade, que no modo como a comunidade internacional vem lidando com este problema há algo que deixa um certo sabor amargo.
EGR

Helena Oneto disse...

"Será pela ideia de que se sabe sempre como uma guerra começa, mas nunca se sabe como e quando ela acaba?"
Para mim, é.

Anónimo disse...

depois das ferias de tantos ex ministros franceses pelas ditaduras do magrebe, e o modo como desde dezembro quase todo o ocidente mudou de opiniao e curioso ver o ar de condena que agora fazem ao senhor khadafi, nao que ela seja um santo como e obvio...,
a politica o petroleo e uma parte do populismo que hoje em dia vai pelo nome de facebook...

Hoje lembrei-me do padre Domingos

Das traseiras da igreja de São Martinho de Bornes tem-se esta vista. Lá em baixo, ficam as Pedras Salgadas, com as Romanas, Sabroso e algum ...