segunda-feira, março 07, 2011

País em défice

É necessária uma experiência intergeracional para se entender bem o papel desempenhado, entre nós, pelo festival musical da Eurovisão. Há menos de um ano, falei aqui de tempos idos e do modo como o país se colava emocionalmente aos seus intépretes, eleitos como valentes guerreiros, enviados para alheios e hostis terrenos de luta.

Esse período passou, hoje o festival da Eurovisão vale apenas o que vale e há anos em que nem noto que passa na televisão. Mas talvez poucas coisas simbolizem melhor o "país em défice" em que hoje vivemos do que a qualidade dos intérpretes que, este ano, "representarão" as cores portuguesas. 

Ao observar o vídeo do grupo, sinto-me tentado a reconhecer que ele é, de facto, a melhor tradução lusa dos "Village People", que pretendem caricaturar. E ao ler a "letra" da canção, que nos traz os tempos de abril numa versão "Zé Chunga", sinto saudades do "Serafim Saudade". 

Se não fosse obsceno misturar coisas sérias com estas patetices, apetecia-me lembrar o "18 Brumário de Luis Bonaparte", onde Karl Marx escrevia que a história acontece como tragédia e repete-se como farsa. Este, pelos vistos, é o tempo dos farsantes.

17 comentários:

Anónimo disse...

Não vi, mas fiquei ainda mais sem vontade de ver...

a canção do ano passado gostei imenso.
Isabel seixas

Anónimo disse...

Meu Deus

Tem toda a razão.

Pelo menos este ano vai ser justo um dos últimos lugares...
Isabel seixas

Anónimo disse...

... ou talvez mais um recado que o país real quis dar a quem nos (des)governa


é bom sinal que alguns se sintam ofendidos pela "farsa" , sinal de que têm memória e sabem o mal que nos andam a fazer

Kruzes Kanhoto disse...

Pois. Não admira. Num país em que temos um primeiro ministro que está para a politica como o Zé Cabra está para a música não surpreende que os gajos da luta ganhem o festival. De resto, em termos musicais, são tão maus como os outros que lá foram.

Anónimo disse...

Os "Village People" ainda conseguiram a proeza de perdurar no tempo. No caso do grupo luso-festivaleiro, tenho sérias dúvidas!

Claro que a RTP ao transmitir um festival da canção no fim-de-semana de Carnaval e próximo de uma forte contestação social só podia ter este desfecho.

Outro aspecto, é o canal público aceitar a participação do grupo quando é sabido que as regras da Eurovisão não permitem letras de cariz político... não sendo de excluir a desclassificação de Portugal.

Isabel BP

cunha ribeiro disse...

Eu gostei da canção número 12. Mas não devo perceber patavina... Ficou pessimamente classificada.

Anónimo disse...

Espero que daqui a tres ou quatro comentários o Sócrates nao seja o autor da música e da letra...
E.Dias

Julia Macias-Valet disse...

Village People !?...tem piada disse/escrevi ontem a mesma coisa ; )

Mas sera que aquilo é a sério !? ou é uma partida de Carnaval ?
Va la digam-me que aquilo é a reinar...Hein !?

Anónimo disse...

O 18 Brumário de Luís Bonaparte não foi um dos escritos mais importantes de Karl Marx, a que ele próprio teceu reservas, “a posteriori”. Há algumas, poucas talvez, boas biografias “of the Great Man”, como se lhe referiu David McLellan, cujo livro sobre o grande filósofo, pensador e político, se recomenda (e depois de o ler fica a questão: “o que é ser Marxista?”). Vale a pena ler o que aí, a esse respeito, de diz.
P.Rufino

AC disse...

«Este, pelos vistos, é o tempo dos farsantes.»

Ora, nem mais! E atendendo ao que têm feito e sido os nossos actores/representantes políticos nos últimos anos, estamos, então, muito bem representados!

Fique bem.

Anónimo disse...

É verdade,nem conheço a musica, a crer, o Sócrates é que é grande o culpado.

Dixit -Alfacinha de Gema

Felipa Monteverde disse...

Vi o festival e o que tenho a dizer é isto: foi uma grande palhaçada, a todos os níveis. As canções eram do mais fraquinho que existe, gostava de saber quais foram os critérios usados para a seleção das canções concorrentes; duvido que estas fossem as melhores que apareceram...
Fiquei envergonhada quando anunciaram o nome dos vencedores, ao pensar que irão representar o meu país; cantam mesmo mal, principalmente uma das raparigas, e a indumentária é para envergonhar a gente do campo...
Dizem que foi o povo que votou, mas de todas as pessoas com quem falei ainda não encontrei quem gostasse da canção... devo fazer parte do povo de Marte, com certeza.

Anónimo disse...

Eh pá... este ano é que é pá. Sem dúvida: Seremos os primeiros atrás do último. Tá mesmo bom pá gajada, meus... (Nunca entendi isso de meus. Meus quê?) Isto é quinduca pá.
Francisco F. Teixeira

Anónimo disse...

Vi e ouvi o Jel, o líder do grupo, a prestar declarações depois do triunfo. A chamada geração (à) rasca está condignamente representada, não há dúvida. O festival da Eurovisão vai ter palhaços este ano, vai ser diferente. O camarada Jerónimo terá que convocar uma reunião extraordinária do CC para debater as potencialidades agit prop destes gonçalvistas requentados. Gostei em particular da alusão à aliança povo-MFA. E aquela espécie de Catarina Eufémia viciada em batatas fritas e gelados que deve andar pelos 120 kg? Só se esqueceram da "muralha d'aço" na letra, foi pena.
Um abraço,
Zé Barreto

Anónimo disse...

Ninguém que pretenda uma carreira musical séria vai pretender ser um representante nesse festival. Há muitos mas muitos anos que esse festival para nada serve, as canções não representam o que que melhor se faz musicalmente nesse país. São músicas que lá vão parar quase por acaso. O acaso quis que este ano estivessemos desta forma representados. E até estamos bem pois os tempos são de farsa, de andar à rasca e de desilusão. O nosso primeiro ministro é um excelente representante destes tempos.

Francisco Seixas da Costa disse...

A prova provada de que os tempos que correm são os das "mais amplas liberdades" é dado pelo facto de se permitir que este blogue seja utilizado para a expressão de opiniões que contrariam fortemente as minhas. A graça da democracia é isso mesmo. Sirvam-se...

Anónimo disse...

A graça da democracia é isso mesmo. Sirvam-se... In FSC

Desculpe, mas a expressão é o máximo, fez-me rir a sério...

De qualquer forma perante o assunto festival já se está mesmo um pouco por tudo.
Isabel Seixas

Livro