José Medeiros Ferreira é uma personalidade marcante da democracia portuguesa. Dirigente do associativismo universitário, na crise académica do início dos anos 60, e opositor à ditadura, viria a fazer um tempo de exílio, de onde, promonitoriamente, teorizou o modelo de revolta que o 25 de abril viria a seguir. Foi ministro dos Negócios Estrangeiros e deputado, dedicando-se, em paralelo, a uma carreira académica de mérito na área da historiografia contemporânea, com as questões militares e as relações internacionais no centro prioritário dos seus interesses.
O seu pendor heterodoxo e a insistência, quase obsessiva, na livre independência crítica poderão ter contribuído para que tivesse passado ao lado de posições que merecia ter ocupado na nossa vida pública, no que o país muito teria beneficiado. Esse mesmo tropismo, associado a uma gestão peculiar de algumas das suas opções cívicas, colocou-o, frequentemente, em conflito com certas personalidades ou linhas políticas, obrigando-o a percursos bastante solitários. Mas, paradoxalmente, esse seu "defeito" é a face mais sedutora da sua forte identidade pessoal, servida por uma inteligência fina e aguda, mas quase sempre pouco complacente, como as suas aventuras pela blogosfera e pela imprensa espelham.
No passado, nem sempre estivémos de acordo, mas julgo que nos encontraremos sempre numa certa forma de ver o país e os seus interesses, no preito à amizade e na alegria de saber que ambos pensamos pela nossa própria cabeça, sem receio de dizer alto as ideias, mesmo que elas pontualmente não coincidam ou possam incomodar terceiros. E quem partilha o mesmo barbeiro pode também dar-se ao luxo de sair por vias opostas na 2ª circular.
Neste momento em que um livro celebra o seu importante percurso académico, tendo servido de pretexto para ter sido homenageado por um grupo de colegas e admiradores, aqui deixo um forte e solidário abraço ao José Medeiros Ferreira.
6 comentários:
Porque será que anda tão arredado dos corredores do poder, onde a sua experiência seria tão útil?
Caríssimo Senhor Embaixador Francisco Seixas da Costa,
Feliz coincidência, neste texto bem pertinente, a este meu Mestre a quem muito devo em algumas investigações históricas que fiz.
Subscrevo na íntegra o seu "post", porque nada mais justo do que homenagear este grande pensador Republicano que não se limitou a reflectir sobre o passado, mas soube ser um verdadeiro "Senador" da República nas palavras que uma vez o Professor Nuno Severiano Teixeira se lhe referiu pela relevante intervenção cívica que tem assumido em vários momentos da vida do país.
Tive o grato prazer de estar presente na sessão de lançamento desse notável livro de estudos de homenagem a José Medeiros Ferreira escrito por muitos cientistas nacionais e estrangeiros intitulado "O Longo Curso - Estudos de Homenagem a José Medeiros Ferreira" que encerra textos historiográficos muito actuais e o seu último livro intitulado "Os Açores na política internacional".
José Medeiros Ferreira sempre foi um visionário e um sincero defensor da liberdade e, por isso, conto-me entre esses seus admiradores e costumo visitar com muito interesse o blogue que partilha com Joana Amaral Dias "Cortex Frontal".
Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt
Duas palavras: é justo.
De uma independência de espírito que faz verdadeiramente grandes os homens.
Faz parte daquele escasso número de personalidades que considero íntegras e que nunca se aproveitaram do poder político para tirar contrapartidas pessoais.
Isabel BP
Venho deixar um forte abraço amigo com a «presteza» que é meu apanágio!
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