Faz hoje precisamente 10 anos. Lembro-me bem que desci a pé a rampa do palácio de Belém, depois do ato de transição, e fui beber uma bica, ali ao lado. Já sem horas, nem audiências. Acabara uma experiência política de mais de cinco anos. Sentia ter cumprido "com lealdade, as funções que me (haviam sido) confiadas", nesses quase 2000 dias! E voltava a poder fazer o que, decididamente, mais gosto e sei fazer.
Nesse dia, acabavam as infernais horas perdidas em aeroportos e aviões ("ao menos, aqui não há telemóveis"), as refeições à pressa, os insípidos quartos de hotel, a leitura ansiosa dos jornais ("olha! Há aqui uma crítica à nossa política europeia"), as maratonas bruxelenses, a análise, pela madrugada dentro, dos diplomas para aprovar "em Conselho", a agenda diária cada vez mais esgotante. Mas, também, as coisas conseguidas, os magníficos e dedicados colaboradores (em especial colaboradoras, já que a esmagadora maioria foram mulheres, e hoje é o dia delas!), os muitos amigos descobertos e conquistados, a certeza de que as posições portuguesas foram sempre defendidas tão bem quanto sabia e me foi possível, o privilégio de poder ter tido um "outro" olhar sobre o país.
Mas não se confunda nada disto com poder. Na maioria dos casos, neste tipo de posições, em termos de exercício efetivo de poder, o que se pode fazer é relativamente pouco: ou não há dinheiro, ou não há gente adequada e disponível, ou o peso do "sistema" nos impede, ou é a lei que não deixa. E, quase sempre, não se pode aplicar a máxima de Correia de Oliveira: "o que é legal faz-se por despacho, o que é ilegal faz-se por decreto". Não é assim, em democracia.
Mas não se confunda nada disto com poder. Na maioria dos casos, neste tipo de posições, em termos de exercício efetivo de poder, o que se pode fazer é relativamente pouco: ou não há dinheiro, ou não há gente adequada e disponível, ou o peso do "sistema" nos impede, ou é a lei que não deixa. E, quase sempre, não se pode aplicar a máxima de Correia de Oliveira: "o que é legal faz-se por despacho, o que é ilegal faz-se por decreto". Não é assim, em democracia.
Olhando hoje para trás, sem a mais leve nostalgia, reconheço que foi um período muito interessante, embora, com toda a certeza, bem mais longo do que teria sido desejável. No geral, não me arrependo minimamente do que fiz, mas, em perspetiva, soubesse eu, à partida, o que sabia à saída, faria algumas coisas de uma forma bem diferente. Mas, em política, tal como no futebol, "prognósticos só no fim do jogo".
5 comentários:
"Olhando hoje para trás,
sem a mais leve nostalgia, reconheço que foi um período
muito interessante"In FSC (2011-03-8)
É por aí
que se desvendam
os sentidos
que se diferenciam os sentires;
Que se dissociam Pessoas...
na mouche...
Isabel seixas
"I was drinking a fountain, next door".
Se este blog, por si só e pelos comentários de (alguns) comentadores já valia pelo menos uma visita matinal diária, agora com as traduções automáticas acrescenta um toque internacional que é uma riquíssima mais valia humorística. Vale a pena ler as traduções, o que quer que queiram dizer, ou nem por isso.
Um abraço
"Depois do ato de transição"In FSC
li inicialmente contrição
(arrependimento sincero versus confissão e auto absolvição), mas depois só senti saudosismo satisfatório com o percurso, achei alento sustentado.
Quanto ao dia da Mulher...
Isabel seixas
Foram, penso, 10 anos que marcam de forma muito positiva -no seu caso- uma vida dedicada "a bem da nação"!
Fez bem lembrar esses tempos. A imagem da Carreira deve muito à sua acção como Secretário de Estado. Receba um abraço
CSC
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