terça-feira, setembro 30, 2025

Moldova

A Moldova apresenta os requisitos básicos para poder integrar a UE, como o seu eleitorado mostra desejar. Idêntica legitimidade teria aliás uma decisão em sentido contrário, se acaso essa tivesse sido a vontade dos moldavos. Uma decisão popular não é má só porque agrada a Moscovo.

segunda-feira, setembro 29, 2025

Imigração

Um país tem o direito de definir o modo como se processa a entrada e estada de estrangeiros no seu território. As únicas limitações a esse direito são os compromissos que tiver entretanto assumido no plano bilateral e aquilo a que livremente se vinculou na ordem multilateral.

Bloqueio

Que critério sigo para bloquear alguém nas redes sociais? Não, não são as ideias dessa pessoa, por mais extremistas que elas sejam. É exclusivamente a urbanidade na forma de se expressar. Não gosto de ter em minha "casa" gente mal educada e grosseira, que não sabe estar com os outros.

Trump e Israel

Olhando o comportamento de Trump, desde o início do seu primeiro mandato, parece claro que Israel é o único tema internacional em que ele sente não ter as mãos completamente livres. O lóbi interno nos EUA impede-o de constranger Netanyahu. E este sabe disso.

Repetir

Repito isto tantas as vezes quantas seja necessário, até entrar na cabeça de alguns: a única exigência absoluta para um estrangeiro que queira viver em Portugal é a observância estrita das leis do nosso país. O resto é racismo, xenofobia e intolerância.

Cultura de tuk tuk


Aquele taxista, ao contrário do costume, falava do assunto com ar divertido. Queixava-se do incómodo que a onda de tuk tuk cada vez mais representa para a fluidez do tráfego em Lisboa. "Param em todo o lado, impedem a passagem dos carros. Há zonas onde quase não se pode andar!", comentou. E, com um sorriso, adiantou mesmo: "Muita dessa malta que anda aí nos tuk tuk quase não fala português, mas fazem de guias turísticos. Alguns, quando passam no Marquês, apontam para a estátua com o leão e dizem 'ali está o Camões', mostram o Cristo-Rei e dizem: 'Vejam o Salazar de braços abertos' ". 

Os taxistas bem dispostos podem ser uns exagerados, mas, a grande distância, são preferíveis aos outros, macambúzios e mal-encarados. Porém, às vezes, tenho-me perguntado: se eu fosse taxista, com que estado de espírito chegaria ao fim de um dia de trânsito em Lisboa?

Religiões

A deriva ultra-conservadora que atravessa os EUA, marcada por uma cada vez maior influência religiosa, começa a diluir a fronteira que protege a laicidade do Estado. Se for passada esta linha, a América cairá num modelo de sociedade similar ao islâmico, só que em versão cristã.

domingo, setembro 28, 2025

Obséquio


Passei há pouco por lá. Era quase em frente ao antigo "Stones", numa rua da Lapa. Creio que se chamava "Chá da Lapa". Fechou já há muito. Lanchava-se num ambiente elegante e relativamente silencioso. Era-se servido por um cavalheiro muito delicado, que revelava um profissionalismo à antiga - e isto, em mim, é um elogio. Os meus pais, quando estavam por Lisboa, gostavam muito de passar por lá, a meio da tarde. 

Há dias, esse extraordinário divulgador da língua portuguesa que se chama Marco Neves falou, num vídeo, na palavra "obséquio", referindo que ela quase caiu em desuso em Portugal. (Escrevi-lhe a lembrar que, no Brasil, ela subsiste mais do que por cá). 

Ora o tal cavalheiro que oficiava no "Chá da Lapa", nos seus modos educados, usava com frequência a expressão "Por obséquio". O meu pai, que apreciava esses modos, nunca tendo inquirido o nome do senhor, passou a referir-se ao local como o "obséquio", sugerindo: "E se fôssemos lanchar ao 'Obséquio'?"

Elogio dos blogues


Frequentemente, perguntam-me: "Ainda escreves o teu blogue?" Quase sempre, respondo: "Por que não vais ver?" Alguns interlocutores ficam atrapalhados, quase todos acrescentam: "Há muito que não leio blogues", ou mesmo um definitivo: "Deixei de ler blogues". 

Num dos (confirmo, poucos) blogues que habitualmente leio, o excelente "Delito de Opinião", mantido pelo Pedro Correia e os seus parceiros com idêntica teimosia àquela que por aqui solitariamente me mantem diariamente, vai para 17 anos, li há pouco esta nota deliciosa de uma sua leitora:

"Creio que os blogues estão ultrapassados, sim. Mas esse é um dos factores que me atrai nos que frequento. O que passou de moda e continua a existir, vale mais: ficaram os fiéis, sem luzinhas a piscar e florinhas que abrem e fecham e demais enfeites - ficaram as palavras no mais intrínseco de si. Hoje, os blogues são lugar de sossego. Dão assunto e tempo para pensar; rasam as novidades e a notícia sem espalhafato, contam histórias verosímeis e tanta vez verídicas, opinam sem alarde.

Tendemos até a julgar conhecer quem está por detrás das palavras, suposição incorrecta: ninguém é o que escreve senão em parte ínfima e tanta vez incerta.

Sou pelos blogues tal como estão: existência pacata e sem alarde de quem ama a escrita."

Se acaso precisasse de um estímulo para continuar o meu blogue (e não preciso), este belo texto servia à perfeição.

sexta-feira, setembro 26, 2025

A ONU e as suas obras


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As duas Américas


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Dilema

A condenação de Nicolas Sarkozy levanta um problema à direita francesa: defender abertamente o antigo presidente, arguindo com um exagero da medida, será colocar-se em contraciclo com uma opinião pública que anseia por punir a corrupção e vê nos (ex) "poderosos" um alvo legítimo.

O sonho de Trump


Libé


O "Libération" de hoje não é nada meigo. Sobre a fotografia de Sarkozy coloca o título "La taule", um "argot" escrito de forma a sugerir umas grades. O termo equivale, em calão português a "a pildra".

Orelhas de aço


Aqueles funcionários solitários que estão de plantão em algumas delegações nacionais no auditório da ONU costumam ser designados por "orelhas de aço". Têm de aguentar, por horas, um aparelho plástico sobre as orelhas, competindo-lhes tomar nota de algo de mais surpreendente que seja dito, quase sempre por figuras de países que contam pouco, digam o que disserem.

quinta-feira, setembro 25, 2025

Sarkozy


O antigo presidente francês, Nicolas Sarkozy, foi hoje condenado a cinco anos de prisão efetiva. Em outubro, saberá a data em que terá de recolher a um estabelecimento prisional. Não há recurso que possa evitar este encarceramento. A eventual passagem a um regime menos pesado, como a prisão domiciliária com pulseira eletrónica, só poderá ocorrer passado algum tempo.

A pena a que Sarkozy foi condenado deve-se a acusações de associação criminosa, com o objetivo de recolha de fundos para o financiamento da sua campanha presidencial em 2007. Não obstante indícios fortes nesse sentido, o tribunal não conseguiu dar como provado que o governo líbio tenha de facto entregado verbas a emissários de Sarkozy, mas ficou convicto de terem sido feitas diligências nesse sentido. O objetivo seria que o futuro presidente pudesse ajudar a aligeirar as sanções que impendiam sobre a Líbia e à "normalização" do seu regime no campo internacional. Especula-se que o facto de Sarkozy, enquanto presidente, ter vindo a alterar, de modo radical, o seu comportamento face a Kadhafi, trabalhando ativamente para a sua queda, terá feito vir ao de cima todas as anteriores operações. 

Este processo que agora envolve Sarkozy deve-nos fazer refletir sobre o facto da atenção pública sobre o financiamento das campanhas eleitorais, no mundo democrático, se ter intensificado fortemente nas últimas décadas. Há não muito tempo, em França como em outros países, a entrada de dinheiro "por debaixo da mesa" (ou para o "caixa dois", como se diz no Brasil), destinada aos partidos, era uma prática condenada com apenas moderada indignação. A questão, contudo, assume outra e naturalmente maior gravidade quando esses fluxos de dinheiro redundam em promessa de contrapartidas. E, como é óbvio, tratando-se de suborno por parte de governos estrangeiros essa gravidade sobe de escala. Terá sido esse o caso de Sarkozy.

Se bem que marcada por toda esta nota infamante, a imagem de Nicolas Sarkozy permanece curiosamente ainda como uma referência constante na direita francesa. Há dias, o novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu, foi-se aconselhar com o antigo presidente, o líder da extrema-direita, Jordan Bardella, fez há tempos o mesmo e é notório, em comentários de diversas personalidades da direita, que o nome de Sarkozy ainda funciona pela positiva. Sarkozy não passou ainda à categoria que os franceses designam por "infréquentable". Assim a continuará a ser quando estiver na prisão?

Sarkozy é uma personalidade com um percurso muito interessante na vida política francesa. Sem se envergonhar da sua ultra-visível ambição, o que o levou a titular algumas traições pelo meio da vida, fez uma notável ascensão no seio do partido de tradição gaullista (que já teve vários nomes, o último sendo o "Les Républicains"). Foi maire de Neuilly, ministro do Tesouro e ministro do Interior, antes de chegar a presidente (2007/2012). Nessas funções, teve um papel destacado na política europeia, num "tandem" improvável com Angela Merkel, com evidência no período da crise das dívidas soberanas. Foi derrotado por François Hollande, em 2012, na tentativa de permanecer no Eliseu. Depois disso, jurou não voltar à política. E, claro, a ambição levou-o a tentar esse regresso, saindo humilhado, em 2017, ao ser derrotado por François Fillon, ficando mesmo atrás de Alain Juppé, nas eleições primárias para a liderança do "Les Républicains" - algo de que quase já ninguém lembra.

Native


Na carreira diplomática, quando um profissional cria uma empatia excessiva com o país onde está colocado, que o impede de olhar a realidade local com independência e distância, costumamos dizer que "went native". Aqui está um bom exemplo.

quarta-feira, setembro 24, 2025

A empreitada


Observo a vida internacional, com bastante atenção, há várias decadas. Já vi muitas coisas e, nos dias de hoje, poucas conseguem surpreender-me. Mas devo confessar, com humildade, que ter ouvido ontem o presidente dos Estados Unidos, na tribuna das Nações Unidas, no mais importante dos seus discursos ao mundo, queixar-se de, em tempos, ter sido preterido num concurso de construção civil, para a renovação daquele edifício, excedeu tudo o que eu considerava possível. O mais poderoso líder mundial descer a dar uma nota daquela natureza, num contexto daqueles, é, verdadeiramente, o "grau zero" da política. 

Há bem mais de meio século, com o salário do meu primeiro emprego, escolhi os EUA como destino de férias. As torres gémeas estavam então em construção. Muitos anos depois, eu vivia em Nova Iorque quando elas caíram. Conheço razoavelmente alguma América (embora muito menos do que gostaria), interessei-me sempre bastante pela sua vida política, admiro-lhe a música, os filmes, as artes, a literatura, a fabulosa cultura das suas universidades. Tenho amigos americanos, gente sofisticada e cosmopolita. Nos dias de hoje, sinto alguma pena por eles, pelo período que o seu país está a atravessar. Sei do seu desgosto de ver a liderança americana abastardada a este nível, sem vergonha e convertida num ridículo perante um mundo que, às vezes, só não se ri dela por receio, e já não por respeito. 

Laptop


Já não me lembro de quando comprei o meu primeiro laptop. Mas recordo-me muito bem de que, à saída de Nova York, há mais de vinte anos, investi num Toshiba, bem caro, que era então considerado um topo de gama. Hoje, ele jaz numa estante em Vila Real. A sua capacidade é ínfima e não serve rigorosamente para nada. Como não servem outros dois ou três laptops que entretanto, com os anos, fui deixando de parte e nem sei bem onde estão. Resumindo: deixei, por completo, de usar laptops - curiosamente o género de computador que, fora dos escritórios, creio ser o mais utilizado no mundo. Mas não, em definitivo, por mim.

Hoje, salvo umas raras horas em que me sento em frente a um imenso Mac, que já me arrependi de ter adquirido, e face a outro desktop, com mais de uma década, que tenho lá no Norte, a minha vida informática, tirando o iPhone, reduz-se aos tablet. Sem um iPad - e já tive vários - quase não conseguiria organizar a minha vida. Por isso, "para mal dos meus pecados", passo o meu tempo a "debicar" no ecran do meu tablet - onde tenho as mensagens, o Whatsapp e através do qual chego mesmo a falar ao telefone. Muitas vezes, é pelo iPad que intervenho em televisões e participo em reuniões. 

Por que venho agora com esta conversa? Porque ontem, numa reunião, alguém me passou para a mão um laptop. A ideia era que eu visse um documento com várias páginas. E foi então que me descobri a tentar, com o dedo, mover a página em causa. Estava nisto, sem sucesso, há uns segundos quando uma voz feminina, onde só ligeiramente detetei uma réstia de aceitável ironia, me esclareceu: "Olhe que isso é um desktop...". E foi estão que me lembrei, na ausência de um "rato", de tocar as teclas necessárias para "andar" através do documento. 

O momento foi embaraçante? Não foi. Tive a reação que teria um miúdo de oito ou nove anos, o que só me rejuvenesce...

Claudia


Só a conheci assim na tela. Ao vivo, mas muito mesmo muito diferente desta imagem com muitas décadas, vi-a um par de vezes na assistência de teatros, em Paris, curiosamente sempre acompanhada por Pedro Almodóvar. 

Claudia Cardinale morreu ontem, com 87 anos. 

Imaginam de quem me lembrei no instante em que li a notícia? De Jacques Chirac. Sei lá bem porquê... 

terça-feira, setembro 23, 2025

Santos de casa


Deve ser reconfortante para um líder político ter um grande reconhecimento internacional, como Macron está a ter na ONU. Mas deve ser triste saber que, se acaso andasse pelas ruas do seu próprio país, onde a sua impopularidade é superior a 80%, o acolhimento seria bem diferente.

Protagonismo

É talvez efeito de uma reiterada sugestão coreográfica, mas tenho a crescente sensação de que Ursula von der Leyen ganhou, em definitivo, a "guerra" não declarada de preeminência (mas também de proeminência) entre a Comissão e o Conselho de Ministros da UE. Por mim, acho péssimo.

Palestina

Houve várias coisas interessantes no movimento europeu (e "likeminded") para o reconhecimento da Palestina. A iniciativa de Macron, num país onde a comunidade judaica tem grande peso e onde a velha chantagem do anti-semitismo se mantém viva, foi determinante.

Com um partido que, num passado não muito longínquo, foi atravessado por acusações de anti-judaísmo, precisamente ligadas a uma liderança de sentido oposto, Keir Starmer foi corajoso. Ironicamente, fechou um ciclo centenário, aberto pela Declaração Balfour.

Rangel supreendeu pela positiva. Mostrou determinação perante um PM que, ao contrário dos seus homólogos estrangeiros, se escondeu atrás do MNE e teve de engolir a humilhação de ver o seu parceiro de governo puxar o tapete à coligação. Montenegro não desilude: é igual a si mesmo.

Ninguém ?

Com tantos amigos no mundo do "jet set", por que será que não saltou, até agora, o nome de nenhum "socialite" português amigo de Jeffrey Epstein?

Um para o outro

Admito que o defeito possa ser meu, mas não consigo integrar o coro dos que exultam com o discurso do edil de Oeiras sobre o líder da extrema-direita parlamentar.

segunda-feira, setembro 22, 2025

É também isto

 


Diga palestino

Como se designa em inglês um habitante da Jordânia? "Jordanian". E em português? "Jordano". Ninguém diz "jordaniano", pois não? Então por que diabo (salvo por seguidismo da forma inglesa ou francesa) alguns dizem "palestiniano"? Deve dizer-se palestino e Autoridade Palestina.

Os dois Brasis

 


Comentários


Há semanas, decidi suspender (por algum tempo) os comentários neste blogue. Pensei: vão diminuir as visitas. Enganei-me. Subiram bastante. Hoje, para o período dos últimos 30 dias, a estatística mostra 116 mil visitantes, uma média de 3.800 por dia. É um número que excede as minhas expetativas e, mais do que isso, coloca o blogue sob uma "exposição" um pouco excessiva face àquilo que é o meu objetivo.

Reconhecimento

O governo português tomou a decisão correta de reconhecer o Estado da Palestina, como resposta moral à crescente e bárbara agressão de Israel ao povo palestino, em Gaza e na Cisjordânia. É uma óbvia - mas expectável - palermice dizer-se que esta atitude favorece o terrorismo.

domingo, setembro 21, 2025

Palestina


Há uns meses, numa tertúlia sobre temas internacionais, uma docente universitária brasileira referiu que, em vários círculos da Palestina, muitas pessoas se interrogam sobre se a luta pelos "dois Estados" ainda tem algum sentido, atenta a dificuldade da sua concretização, por muitos piedosos "reconhecimentos" que o mundo vá fazendo. Na perspetiva dessas pessoas, os palestinos devem lutar pela sua plena integração no Estado de Israel e, dentro dele, utilizando democraticamente o seu crescente peso demográfico, procurar fazer valer os seus direitos. Claro que o mais provável é que os israelitas não concedam direitos de cidadania plena aos palestinos - de Gaza à Cisjordânia. Isso levaria a que os palestinos passassem a ter um estatuto de cidadãos de segunda, dentro do Estado de Israel, algo equivalente ao "apartheid" que ocorreu na África do Sul, ou ao "estatuto do indigenato" que vigorou no colonalismo português. No plano prático, duas outras opções podem também ser assumidas por Israel: tentar expulsar os palestinos para os países vizinhos, ou liquidá-los.

O outono...


... começa bem!

sábado, setembro 20, 2025

Liberdade


Há muitos anos, ao tempo em que eu estava como embaixador junto das Nações Unidas, Jorge Sampaio disse-me ter curiosidade em visitar o "The New York Times", no quadro de uma deslocação oficial que ia fazer a Nova Iorque. 

Foi muito fácil obter essa visita para o chefe de Estado português. Sampaio conversou com a direção do jornal e, regressado a Lisboa, mandou-me uma fotografia dessa "nossa visita a uma Bíblia laica", como está na dedicatória que escreveu.

O "The New York Times" é, de certo modo, uma instituição simbolizadora da liberdade de expressão, para os EUA e para o mundo. Nestes tempos em que Donald Trump mostra uma continuada intenção de abafar os media adversos, a coragem diária demonstrada pelo NYT é um exemplo. É um jornal que tem opinião, discutível, mas que não brinca com os factos. Ou, como manda a boa regra: todos temos direito a ter as nossas opiniões, mas não temos direito a ter os nossos factos, a ter "factos alternativos", como um dia crismou uma trumpista histórica, agora longe da Casa Branca, Kellyanne Conway.

Ontem, um amigo que vota no Chega (tenho amigos que votam no Chega, e nem por isso deixam de ser meus amigos, sublinho), mas que é levemente crítico de algumas atitudes de Trump (mas não, curiosamente, das sua proximidade com Putin), disse-me ter ficado escandalizado pelo facto de o NYT ter recusado publicar um artigo de Joe Biden, com medo à reação do presidente americano.

"Isso não pode ser verdade!", disse-lhe, de imediato. O mundo muda muito, a América tem mudado de forma impensável, mas eu tinha a certeza, quase absoluta, de que o jornal de que sou assinante digital desde há anos, não teria um gesto desses. E, minutos depois, confirmei isso mesmo.

"Onde leste essa notícia?" Ele não sabia. Eu desconfiava. Tinha-a lido, com certeza, num desses sites de falsidades e de teorias da conspiração que alimentam o quotidiano informativo de muita gente, onde se publica tudo e mais alguma coisa, onde não é necessário dar qualquer referência sobre as fontes. Leem, não se interrogam sobre a verosimilhança da notícia ou a credibilidade da fonte, e depois divulgam pelos amigos, que ajudam à "pirâmide". Como se ainda vivêssemos no tempo em que se pensava: "Se veio na imprensa é porque é verdade". 

sexta-feira, setembro 19, 2025

Ai essa memória !


Grande "New Yorker" !


 

Lembrar

Vale a pena lembrar, para quem o estiver deliberadamente a esquecer, de que o (ponderável) argumento de Cavaco Silva de que, em 2026, será desejável vir a ter um Belém alguém com experiência política comprovada tanto é válido para Marques Mendes como para Seguro.

Pois é !


Portugal desceu nove pontos percentuais na Monitorização do Pluralismo dos Media na União Europeia (MPM), caindo do 7.º lugar em 2022, primeira edição da avaliação, para a 13.ª posição em 2025.

A soldo de Moscovo ?

Embora, no passado, pequenos episódios fronteiriços sempre tenham tido lugar, fica a sensação de que os recentes incidentes com drones e voos militares russos sobre as fronteiras NATO não são fortuitos. Só podemos especular sobre a racionalidade de Moscovo. 

Assim, sim!

Está em merecida alta, nas redes sociais, a mensagem congratulatória que o Chega enviou a Pedro Pichardo, pela obtenção, para as cores portuguesas, de uma nova medalha de ouro no atletismo mundial. Chegam a ser comoventes, os termos calorosos usados no texto. Disseram-me.

No reino da bufaria


Com o processo de intimidação dos media que tem em curso, Trump parece querer abrir caminho para a recuperação de Joe McCarthy, o sinistro Torquemada que, nos anos 50, titulou uma paranóica campanha anti-comunista que levou a suicídios e a uma onda de perseguições.

Na altura, falava-se muito nos "homens de mão" de Moscovo. Contudo, o conceito é capaz de ter alguma ressonância estranha na atual Casa Branca.

O amigo americano dos britânicos e os dias caóticos da França


Ver aqui.

quinta-feira, setembro 18, 2025

França

Irónica pintura numa parede francesa: "Suppression des jours non fériés". Parece que voltou o tempo do Maio 68 e da frase de Guevara que então foi tão popular: "Soyez réalistes, demandez l'impossible".

quarta-feira, setembro 17, 2025

Sir Donald ?


"How convenient !" é o facto do palácio de Buckingham estar em obras, permitindo que o rei receba Trump no campestre cenário de Windsor, poupando o senhor (mas não Sir, como ele gostaria) de Washington aos apupos a que não escaparia no Mall.

É fazer as contas...

Estou muito curioso em conhecer a cláusula de rescisão de Mourinho.

terça-feira, setembro 16, 2025

Negro

A palavra "Karaback", ou como queiram chamar à equipa que hoje derrotou o Benfica na Luz, é de origem persa e significa "jardim negro"...

Luto


Nem imaginam a quantidade de amigas viúvas que tenho no dia de hoje.

segunda-feira, setembro 15, 2025

Vamos andando!


Há muito que não acredito na treta de que o ano começa no dia primeiro de janeiro. Essa é uma conversa de quem se subordina ao calendário formal. O verdadeiro ano, como já todos percebemos, começa em setembro e acaba lá para o fim de julho. A "rentrée", esse magnífico conceito francês, que também acompanha o início do ano letivo, define o novo ciclo anual. Saem novos livros, regressam os eventos culturais, os últimos dias de setembro aconselham já o uso de "une petite laine", os jardins enchem-se de folhas, um chá no fim de tarde já se agradece. Alguns de nós trazem do agosto listas de coisas para fazer, almoços a combinar, consertos do corpo, concertos para o espírito. Que, se fizerem por metade, já seria bem bom! Neste período em que já andamos, surgem-me marcadas na agenda, pelo menos a cada dois dias, às vezes mesmo todos os dias, muitas e desvairadas coisas. E há que apressar-nos: daqui até ao Natal é um saltinho. Depois, com o Carnaval (já quase não dou por ele) e a Páscoa pelo meio, aparecem então uns meses mais longos, nos quais se pode fazer muitas coisas, como viajar, quando a vida, a bolsa e a pachorra o permitem. Para o fim desse período, lá virá julho. E, depois, são logo as férias, até ao início do novo ano, como agora. Afinal, é tudo tão simples! Ou melhor, seria simples, não fossem as chatices inesperadas que o destino caprichará em nos oferecer, com o virar das semanas. Mas, entretanto, vamos andando, não é? Eu, pelo menos, vou.

Notícias do império


Os EUA de Trump não querem aliados, querem súbditos.

domingo, setembro 14, 2025

Dualidade

O mesmo mundo que tão empenhado se mostrou em afastar a Rússia da vida desportiva internacional, como forma de condenar a invasão da Ucrânia, revela-se bastante menos lesto a punir identicamente Israel em face da chacina de Gaza. 

Por que será?

Em França como por cá


sexta-feira, setembro 12, 2025

Saúde

Do discurso de Ursula von der Leyen no Parlamento Europeu, ficou-me no ouvido algo que me preocupou: a referência a uma possível nova emergência sanitária. A Comissão Europeia, que tecnicamente é sempre muito competente, não faria este alerta de não houvesse algo concreto no ar.

Cavaco Silva


No dia de ontem, assisti a uma prestação de Aníbal Cavaco Silva, num evento na Nova SBE, organizado pelo "Financial Times", em que tive o gosto de ser convidado a intervir. Ele foi o "keynote speaker", antes do painel em que participei. 

Cavaco Silva tem 86 anos e é, nos dias de hoje, um dos políticos portugueses com mais experiência  - uma década como primeiro-ministro, outra como presidente. Nos últimos tempos, as suas esporádicas incursões públicas situam-se, frequentemente, no terreno daquilo a que os franceses chamam "politique politicienne" (política politiqueira, pode traduzir-se), coisa que não aprecio minimamente e em que entendo que ele esbanja o lugar que assegurou na história política do país, qualquer que seja a opinião que se tenha sobre esse seu tempo.

Ontem, foi uma exceção. Num discurso bem construído em inglês, Cavaco Silva fez a sua leitura dos desafios de Portugal, na Europa e no mundo, com considerações sobre o nosso papel internacional, revelando permanecer atento às grandes questões globais. Foi muito assertivo e não se escusou a emitir algumas opiniões fortes, por detrás das quais se podiam mesmo intuir algumas críticas ao atual governo, como no caso das relações com a China. Revi-me em algumas dessas opiniões  - mais do que estava à espera, confesso -, em outras não.

Nas intervenções que fiz logo em seguida, dei comigo a citar Cavaco Silva, coisa que, ao que recordo, nunca me tinha acontecido. Alguma vez havia de ser a primeira.

Todos os anos...


... pelo verão (não "pela primavera", como no livro de Sttau Monteiro), um grupo de oito amigos, quatro casais, junta-se por três dias à conversa, num local recôndito, apenas para confraternizar. Raramente saímos do mesmo sítio, quase sempre ao ar livre: por ali charlamos, rimos, comemos e bebemos, quase sem horários e, claro, sem protocolos. Sou o mais velho de todos, o que se deita e levanta mais tarde, e, a grande distância, o mais "esquerdalho", mas a política é coisa que só perpassa muito ao de leve por ali. Na tarde de hoje, iniciaremos a nossa laboriosa jornada de 2025. No final, os níveis glicémicos, de colesterol e outros índices menos salutares serão, com certeza, muito elevados, mas - que se há-de fazer! - esta vida são dois dias. Deixo a imagem da mesa de um dos pequenos almoços com que começa o dia, num "exercício" passado. Para os crentes, lembro que a inveja é o quinto pecado mortal.

História de ontem

Em 11 de setembro de 1973, foi instaurada, a ferro e fogo, a ditadura no Chile. Em 11 de setembro de 2025, foram condenados, no Brasil, aqueles que queriam abolir o processo democrático no país. Duas datas importantes para a história política da América Latina.

quinta-feira, setembro 11, 2025

Costados


Há uns meses, visitei o campo de concentração do Tarrafal. Um cidadão português integrado no grupo, discretamente mas de forma audível para alguns, comentou para a mulher: "É pena que não tenham batido aqui com os costados todos os comunas de Portugal". 

Faz hoje 52 anos, no Chile de Pinochet, houve quem pensasse da mesma forma. Convém estarmos atentos.

"A Arte da Guerra"


No podcast do Jornal Económico "A Arte da Guerra", António Freitas de Sousa e eu abordamos, esta semana, o desafio dos franceses a Emmanuel Macron, as ações ofensivas de Israel "urbi et orbi" e as provocações russas na fronteira (NATO) da Polónia.

Pode ver aqui.

Diabetes


A APDP (Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal) é uma extraordinária instituição sem fins lucrativos que, vai para um século, presta um inestimável serviço ao país. 

Dedicada a prevenir e tratar uma doença muito comum e por vezes inconscientemente descurada, a APDP desenvolve uma atividade pedagógica da maior importância, de que a sua Revista é um bom instrumento. 

Na edição deste mês, a Revista da APDP insere uma entrevista com o novo presidente da Assembleia Geral da APDP, um nome que me diz alguma coisa.

Saiba mais sobre a APDP aqui.

América, América

O assassinato de uma proeminente figura de extrema direita, nos EUA, teorizador da narrativa MAGA e muito influente junto da juventude, lança gasolina sobre a fogueira das tensões políticas. 

Trump não "matou" Charlie Kirk mas, com o seu discurso divisivo e confrontacional, polarizador da sociedade americana, tem ajudado à criação do caldo de cultura que favorece a este tipo de atos.

Conferência do "Financial Times"



... na Nova SBE.

Brasil

As fortes divergências que emergiram no julgamento de Jair Bolsonaro, no seio do Supremo Tribunal Federal brasileiro, são a demonstração mais evidente, para quem ainda tinha quaisquer dúvidas, de que o sistema judicial brasileiro usufrui de um ambiente de total liberdade e transparência, com pleno espaço para o contraditório.

quarta-feira, setembro 10, 2025

Jorge Sampaio


Morreu há quatro anos.

Ernâni Lopes



Há quinze anos, neste mesmo blogue, por ocasião da morte de Ernâni Lopes, escrevi que a sua palavra livre ia fazer muita falta a Portugal e que, se havia dias em que um país entrava de luto, aquele deveria ser um deles. 

A morte de Ernâni Lopes foi uma grande perda para Portugal, para a nossa lucidez, para o nosso patriotismo, que ele ilustrava como poucos. Foi-o também para a nossa diplomacia, onde ele exerceu, com brilho raro, funções da maior importância, que ajudaram o país em momentos negociais delicados. Foi-o, igualmente, para a política portuguesa, onde a sua coragem e a sua visão souberam afrontar momentos de rara dificuldade. Portugal deve-lhe muito.

Em parte das suas últimas duas décadas da vida, cruzei-me bastante com Ernâni Lopes, que teve a simpatia de discutir abertamente comigo algumas coisas sobre a Europa em que ambos então acreditávamos. Foi, também, o ensejo de falarmos sobre esse triângulo estratégico entre Portugal, o Brasil e a África, que tanto o entusiasmava e que ele desenvolvia nas iniciativas da SAER. Nesses e alguns outros temas, nem sempre estive de acordo com a sua leitura das coisas, mas reconhecia nela uma genuinidade que era forçoso respeitar, pela seriedade que sempre lhe estava subjacente.

Longe de uma intimidade pessoal que nunca tivemos, cedo me reconciliei ao tratamento por tu que ele generosamente me impôs desde o primeiro momento, como que a sublinhar a proximidade de algumas das ideias que partilhávamos. Recordo-me, muito em especial, dos tempos que passámos numa efémera "task force" criada, em 2003, para assessorar o primeiro-ministro de então, na fase terminal do malogrado Tratado Constitucional europeu. 

Notava-se que a participação no exercício, a que, tal como eu, não se pôde furtar, estava a ser para ele algo penosa. É que tinha sido esse mesmo governo que o não tinha autorizado a apresentar, no termo da Convenção Europeia em que ele representara Portugal, e que lançara as bases desse tratado (inspirador, no essencial, do Tratado de Lisboa), uma declaração de voto em que, de forma muito frontal, clarificava o seu afastamento (que ele achava, e bem, dever ser o de Portugal) quanto ao equívoco consenso que resultou do trabalho dos "convencionais". Talvez valesse a pena, para a história da nossa política europeia, ser agora conhecido esse projeto de declaração de voto.

No final da primeira dessas reuniões, na qual eu tinha feito uma longa e bastante crítica intervenção sobre o modo como o governo de então conduzia essa negociação, e que não me pareceu ter sido muito apreciada por quem tinha tido a iniciativa de convocar o grupo, ao sairmos do "bunker" de S. Bento, pela escada que leva ao rés-do-chão da residência oficial do primeiro-ministro, Ernâni Lopes meteu-me o braço e, com um imenso sorriso e a atitude amiga do homem de bem que era, disse-me, com a voz mais baixa que o seu vozeirão permitia: "Tiveste-os no sítio!"

Com muita pena minha, não vou poder estar no lançamento do livro que, sob a coordenação do meu amigo José Pena do Amaral, hoje homenageará Ernâni Lopes. Em especial porque tinha uma imensa curiosidade em ouvir o que irá dizer, no "discurso inaugural" de homenagem, a mesma pessoa que impediu Ernâni Lopes de apresentar o seu testemunho no termo da Convenção Europeia...

Vergonha


Esta senhora faz de conta de que só agora se deu conta do que se passa em Gaza, depois de várias dezenas de milhares de mortos e de perceber que as opiniões públicas estão indignadas. 

Que vergonha para um projeto europeu que alguns pensavam com um mínimo de decência!

Brasil

A posição do ministro do Supremo Tribunal Brasileiro, Luiz Fux, ao considerar esta instância judicial incompetente para julgar Jair Bolsonaro, não vai impedir a condenação deste. 

Mas é inegável que se trata de um facto muito relevante, quanto mais não seja porque vai confortar a narrativa americana sobre a ilegitimidade do julgamento.

Chapitô

 


Foi uma bela jornada de conversa, sob a hospitalidade de Teresa Ricou (Tété), no Chapitô, entre os artistas plásticos Jorge Martins e José de Guimarães e o cineasta Diogo Varela Silva. 

A pintura e o cinema, com as suas múltiplas interações, foram, ao final da tarde de ontem, o mote para mais uma bela conversa, com participação de uma assistência interessada e interveniente. 




O Chapitô ("É difícil lá chegar", ouve-se dizer; é falso, tem um grande parque de estacionamento ao lado) continua a ser, além de uma histórica escola de circo, um lugar deslumbrante de Lisboa, onde se come bem e se convive. 

Obrigado, Tété, pelo teu acolhimento. E parabéns pelo entusiasmo e coragem para ir em frente com o Chapitô.



Ucrânia


A atividade militar russa nos céus da Ucrânia, nas últimas 24 horas, foi assim. 

terça-feira, setembro 09, 2025

La France deux


Macron não é muito criativo. Escrevi aqui isto (que aliás era a opinião de muita gente), há dois meses.

segunda-feira, setembro 08, 2025

La France...


1. O primeiro-ministro francês François Bayrou foi amplamente derrotado na moção de confiança que apresentou ao parlamento. É a primeira vez, na V República (desde 1958), que uma moção de confiança é derrotada. Bayrou estava no lugar desde dezembro de 2024, graças a uma atitude de não-censura por parte da oposição, atitude que então tinha obtido e que agora perdeu.

2. François Bayrou está na vida política francesa há muito tempo. Ao seu nível, é, a grande distância, o político com maior experiência. Cristão-democrata, centrista, ministro várias vezes, sabe-se que tinha lutado junto de Macron para obter o cargo que agora vai deixar, sob uma impressionante impopularidade.

3. As soluções políticas imediatas em França são poucas. o mais provável é que Macron nomeie um novo PM, possivelmente da base política de onde Bayrou é originário. Outra hipótese seriam novas eleições legislativas, com o quase inevitável reforço da extrema-direita. E ainda outra, ainda mais improvável, seria a demissão de Macron.

4. Os socialistas franceses, vindos do quase "zero", parece terem encontrado um novo fôlego e mesmo uma linha própria, agora programaticamente libertos do "abraço de urso" de Jean-Luc Mélenchon, no seio do "Nouveau Front Populaire", iniciativa que, a ver bem, acabou por lhes dar a mão e ajudar à sua recuperação. Dentro do PSF, contudo, parece desenhar-se uma luta pela liderança, entre o líder parlamentar Boris.Vallaud e o primeiro-secretário Olivier Faure. E há ainda outros atores com pretensões de afirmação, como François Ruffin e Raphaël Glucksmann. "À suivre".

5. A direita republicana francesa, de tradição gaullista, mostra fraturas, como ficou claro no voto de confiança, onde houve votos para todos os gostos. O líder parlamentar Laurent Wauquiez revela dissonâncias com Bruno Retailleau, que o derrotou na eleição interna e deseja ser candidato presidencial em 2027.

6. Aliás, o cenário presidencial de 2027 não é estranho a muito daquilo que está a passar-se no parlamento. De Jean-Luc Mélenchon pode dizer-se o clássico "il ne pense qu'à ça". Marine Le Pen, com trapalhadas judiciais à mistura, corre o sério risco de ter de prescindir das suas ambições em favor de Jordan Bardella. No centro, de Gabriel Attal a Gerald Dermanin e a Édouard Philippe, não faltam nomes. Vai ter graça.

... e uma opinião para a Antena 1, aqui.

Houve alguém que um dia falou do oásis...


 

Ai "A Minha Vida"!


"Viste que o Paulo Portas promoveu, no final do seu programa dominical na TVI, uma obra do Trotsky?! Está tudo doido?" Quem me dizia isto, ao telefone, há minutos, escandalizado, era um amigo que andou pelo CDS e que agora, nas férias, não perde a festarola laranja no Pontal, com fogos ou sem eles.

Por regra, vivo sem a televisão ligada. Mas, tal como o Augusto Gil fazia, na "Balada da Neve", quando ouvia barulho lá fora, fui ver. E lá vi que, além de um romance de espionagem, Paulo Portas saudou o surgimento de (creio, mais) uma edição portuguesa do "A Minha Vida", a biografia de Lev Davidovich Bronstein, mais conhecido por Leon Troksky. Esclareceu que o lera, com proveito, há anos, a conselho de Vasco Pulido Valente. Quero crer que Francisco Louçã deve ter dado uma bela gargalhada na noite de hoje. E imagino que Miguel Portas poria aquele seu sorriso bom ao constatar que, ao fim dos tempos, "les beaux esprits se recontrent".

Nunca fui trotskista, mas sempre achei graça histórica à personagem, cuja crueldade não ficava muito distante da de Estaline, como os marinheiros de Kronstadt sentiram na pele. Li algum Trotsky mas nunca me interessou destrinçar entre as diferentes correntes trotskistas - dos lambertistas aos pablistas, passando pelos frankistas (salvo seja!) e não sei se outros. Tenho vários e bons amigos que andaram por aquele mundo e fiquei com a ideia de que, verdadeiramente, dentro de todos eles, sem exceção, ficou sempre uma réstea daquela ideologia algo elitista, saída da grande caldeira revolucionária do marxismo. Ah!, claro, quando fui à cidade do México fui de romaria à casa de Trotsky (e à de Frida Kahlo, também), ao local onde o martelo do gelo empunhado por Ramón Mercader lhe acabou os dias, a mando distante de Estaline. 

Voltemos ao "A Minha Vida". Comprei o livro em Bayonne, no final dos anos 60, numa edição do "Le Livre de Poche", que já deve jazer no fundo bibliográfico que, com o meu nome, existe na Biblioteca Municipal de Vila Real. Tinha-o sobre a mesa de cabeceira no quarto da casa de saúde da Carcereira, no Porto, quando aí fui operado a um joelho, há precisamente 55 anos. 

Num dos dias dessa semana de internamento, para minha imensa surpresa, entraram a certa altura no quarto duas freiras teresianas, que se apresentaram. Uma era a madre superiora do lar onde se alojava a então minha namorada, hoje minha mulher. Eu estava muito longe de esperar esse tão amável gesto de simpatia. Tenho ideia de que a conversa não terá sido muito longa: o meu mundo era de outro mundo. Na sua saída, reparei que o olhar da madre superiora se fixou no "Ma Vie", que estava na mesa. Já passou muito tempo sobre aquela tarde, mas, para sempre, fiquei com a impressão de que a cara da senhora se toldou um pouco, ao ver o livro que o namorado da sua acolhida tinha ali à cabeceira. Mas talvez não, talvez ela nem soubesse quem era o Trotsky, a saga extraordinária da vida errante daquele ucraniano com ar mefistofélico, a "revolução permanente", as noites com Kahlo, o ódio de Stalin, a imagem apagada nas fotografias, o "entrismo", o martelo de Mercader e outras coisas assim. Mas sabe-se lá!

domingo, setembro 07, 2025

Draga

O seu nome era Braga Condé. No MNE, chamavam-lhe "Draga" (se era Braga com "D"...). 

Era um embaixador à moda antiga. Um dia, foi chamado ao ministro. Aguardou uns minutos na sala de espera e saiu: "Espero uma hora por uma senhora, meia hora por um Chefe de Estado. A um ministro não dou mais do que 15 minutos".

João Miguel Tavares, por uma vez

 


Unanimidade

A dificuldade de algumas decisões, nas relações externas da UE, suscita em alguns a ideia de usar maiorias qualificadas para ultrapassar a e...